Ferida na alma! (EC)

Felício Ricardo Dantas era um sujeito, segundo opiniões gerais, muito legal!

Desde sua tenra idade era reverenciado por sua forma de ser. Garoto extremamente educado, seguia à risca todos os ensinamentos que lhe eram transmitidos por aqueles que, segundo ele mesmo apregoava, tinham uma maior experiência de vida e que sabiam o que falavam.

Em sendo assim, como não poderia deixar de ser, trilhou um caminho reto, aos olhos do que supõem como caminho reto, sempre dando imensas alegrias a todos aqueles com os quais convivia!

Como é de praxe para todos os viventes, também tinha lá seus repentes de maus procedimentos, sem os quais não poderia adequar-se ao ‘modus operandi’ de uma boa convivência terrena! Há de se convir que procedimentos tais como ‘comprar-se comprovantes’ para obter maior abatimento no imposto devido ao leão do imposto de renda, não é um fato incomum no procedimento dos seres humanos, principalmente no âmbito doméstico brasileiro no qual vivemos, que ‘cortar-se caminho’ por dentro de um posto de gasolina para evitar um semáforo que se encontra ‘no vermelho’ para ganhar alguns minutos, que sujeitar-se pagar ‘propina’ para levar alguma vantagem em filas para assistir espetáculos teatrais, espetáculos esportivos, etc., deixar ‘um café’ para guardadores de carros que arrumam lugares em locais impróprios de parada em prol de levar alguma vantagem sobre outros motoristas que agem de forma correta procurando local próprio para estacionar, que esbravejar de forma intempestiva quando alguém de forma ingênua nos dá uma fechada no trânsito sem que haja maiores consequências vociferando impropérios impublicáveis...

Licinho, como era conhecido, já com boa formação cultural obtida a partir de grande esforço, onde conciliou rotina de trabalho durante todo o dia com estudos realizados no período noturno, contraiu matrimônio com sua primeira namorada, da qual foi também o primeiro namorado! Almas gêmeas, como diziam todos, pelo perfeito entrosamento que tinham, compartilhando os mesmos ideais, os mesmos planos de vida, os mesmos entendimentos religiosos, o mesmo rol de amigos, o mesmo poder de luta para atingir metas especificadas...

Porém, como nada é perfeito (aliás, aquele que uma grande parcela dos terráqueos enaltece com perfeito, em realidade era ‘quase perfeito’ e morreu pregado em uma cruz...), havia pequenas rusgas familiares que eram em seu ‘quase todo’ levados a um bom termo!

Lucíola, a cara metade, sofria de um grande mal! Amava desesperadamente seu companheiro, que fora o primeiro e único homem que conheceu na vida e tinha ‘repentes’ de crises de ciúme que, por vezes, constrangia de forma avassaladora Licinho.

Bastava o companheiro mencionar um nome feminino para que a companheira já fizesse inferências nada elogiosas acerca do fato. Porém, Licinho, que também amava verdadeiramente a cara metade, sofria muito, principalmente sendo que na totalidade dos casos, não saber como defender-se das verdadeiras injúrias que lhe eram evocadas por episódio remanescente de um distante passado quando ainda nenhum compromisso por eles estabelecido.

Felício levava o episódio como uma verdadeira ferida que maculava sua existência e da qual não conseguia lenitivo.

Em qualquer episódio no qual houvesse resquícios de desconfiança por parte de Lú, era invocado o fato ocorrido. Licinho relevava tudo em nome do seu amor pela companheira e creditava suas desconfianças exclusivamente à querença que ela nutria por ele e que acreditava piamente que seriam descortinadas todas as suas dúvidas na enorme tribunal final realizado após o passamento de todos que por aqui viveram em forma terrena!

No entanto, era hercúleo seu procedimento em relevar tudo o que ouvia em meio às crises, que se tornavam mais e mais constantes à medida que o tempo passava e que o relacionamento tornava-se mais duradouro! Coisas de um amor intempestivo, que o abnegado Felício, com muito denodo, relevava e cultivava sua ferida em nome de um amor imorredouro e de algo que tinha como seu destino, já delineado pela somatória das iniciais das duas primeiras letras iniciais das palavras que compunham seu nome!

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Ferida

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