MEMORIAL DE SÃO JOÃO

A mãe estava a caminho da casa da parteira. Mas ela não ia ganhar um nenê. Ela ia abortar um nenê. Mas não abortou, não se sabe por que. Certamente naquele momento um anjo sobrevoou o pequeno povoado.

Na hora do nascimento o marido segurava a sua mão, enquanto ela gritava: "não vou conseguir !!!...não vai dar para ganhar essa criança...não tenho mais forças"!!!...Esse deveria ser o décimo-quarto filho. Dizem que dois nasceram mortos e dois não vingaram...

Dona Vivi, a parteira, a tudo assistia junto à cama, ajudando no que podia.

A criança nasceu perfeita, mas como estava tudo bem,

deve ter ficado um bom tempo abafada sob cobertores, pois as atenções eram para a mãe que suada e enfraquecida dizia:" consegui!!!"

Dos seus primeiros dois anos a menina tem pouquíssimas lembranças. Recorda apenas que dormia em um berço aos pés da cama dos pais e a sua única travessura foi ter comido uma caixa cheia de "pastilhas Valda", que o pai tinha para combater a tosse. O pai escarrava muito.

Fez três anos no inicio de junho, no dia vinte e um o pai morreu.

Tinham recém mudado para a casa nova. De madeira.

Era noite de São João e o pai foi velado na sala, sobre uma porta que seria usada na casa nova. Depois queimaram a porta. A menina viu a fogueira, ficou com medo das cinzas e nunca pode brincar em uma festa de São João...

*Redigido em maio de 2012

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 01/06/2013
Reeditado em 02/06/2013
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