FAÍSCA E A PIROFOBIA

Ninguém escolhe ter uma fobia. Ela se manifesta em qualquer pessoa ao longo da vida. 
Desde a gravidez, Hefesto deu sinais que seria hiperativo. Chutava tempo todo no ventre da mãe com meses de gestação. Quando nasceu o casal ficou feliz. Mas o menino não parava conforme ia se desenvolvendo."*Hefesto": nome que a mãe escolheu. "Faísca" era o apelido que o pai tinha lhe dado. Hefesto foi crescendo mostrando graça.

Recebendo 
todo carinho e atenção. Faísca se debatia tempo todo, sinalizando impaciência. Chorava, ria, gatinhava...Se irritava. Seus
primeiros passos foram prenúncio que Faísca aprontaria, 
entre outras coisas. Mexia em tudo. Não conseguia concentrar-se em nada. Corria pela 
casa e quintal. Subia nas árvores, muros...Onde alcançava, lá estava Faísca saltando...sem noção, sem medo.

Aos três anos de idade estava brincando no quintal. Percebeu o portão da rua aberto. Ficou curioso...Esqueceu-se dos amiguinhos imaginários. Tentando uma aventura sozinho. Foi além do portão. Saiu. Observou o movimento. Na inocência, seguiu pela calçada sem ser notado. Foi parar num terreno baldio quando pisou em falso e caiu.Debatendo-se no poço desativado... Teve algumas escoriações e tremeu. Hefesto viu o medo de perto quando olhou para cima. Gritou, chorou, chamou pela mãe mas ninguém ouviu. Cansou. Eram as primeiras horas da manhã de um dia nublado. Faísca adormeceu.

Dona Berenice sempre atenta, estranhou o silêncio. Faísca não estava na sala. Ela passou pelas dependências da casa e nem sinal do garoto. Quando olhou da janela para o quintal a mulher ficou apavorada. Saiu correndo pensando em tudo. Pensando em nada. Acionou vizinhos. Recebeu apoio de estranhos na rua . O vizinho da frente, seu
Epaminondas viu 
uma viatura da polícia passando e pediu ajuda. Nessas horas, você percebe as pessoas se auxiliando mutuamente...Todos preocupados com o desespero da mãe. Dividiram-se em grupos. A polícia pediu apoio. Um helicóptero sobrevoou a área. Mais viaturas chegaram.
Curiosos querendo saber o que tinha acontecido.

Hefesto acordou pelo barulho da aeronave.  
Soluçou, se assustou de medo quando olhou para o alto e viu uma fresta do clarão do dia...

Não era um sonho com seus amiguinhos imaginários. Era um pesadelo. O olhar inocente e assustado de Faísca buscava a claridade percebida vinda do alto. Então chorou alto mais uma vez, chamando pela mãe. Algumas pessoas que não estavam longe dalí ouviram. Numa manobra cuidadosa Hefesto foi retirado do poço pelos bombeiros com muito cuidado. O pai
 tinha  sido avisado no trabalho abraçou o filho no colo da mãe.  Algumas pessoas  choraram. Bombeiros, policiais, se emocionaram pelo dever cumprido. Vizinhos que mal se cumprimentavam olharam para o céu em agradecimento. Curiosos aplaudiram pelo desfecho.  Nessas horas percebemos como a solidariedade manifesta uma ligação recíproca de coisas pendentes. Onde as pessoas se obrigam umas as outras...

O tempo passou e Hefesto estava com dez anos. A família foi morar em outro estado porque Dr. Roberto (o pai), foi promovido no trabalho e a transferência se fez necessária. Faísca teve que se adaptar na escola nova e ao lugar. Tinha deixado alguns amigos que prometeu nunca esquecê-los. O colégio atual não era perto de casa. Como era recente a mudança  seu pai o levava todos os dias de carro. Na hora do almoço o aguardava na saída.

Chovia forte naquela manhã. Dr. Roberto brinca com Berenice. Lhe dá um beijo carinhoso. Liga o carro. Hefesto com cara de sono bate a porta do carro e o pai diz pra colocar o cinto. Liga o rádio. Olha para o filho com ar de felicidade e segue. A pista estava escorregadia. Com cautela Dr. Roberto conduz o veículo. De repente, numa curva acentuada um carro
em alta velocidade na contramão avança em sua direção. Ele tenta desviar da suposta batida. Perde o controle capotando três vezes. Hefesto tonto se arrasta e consegue sair pela janela. Vê o pai inconsciente sangrando. Tenta reanimá-lo. Fica desesperado e os motoristas que foram parando na estrada tiraram-no dalí. Fizeram de tudo. O combustível vazando os homens se afastaram. O carro pegou fogo. Faísca grita (sem acreditar) de uma forma desesperada. Perde os sentidos. Acorda no hospital.

Ao seu lado, dona Berenice estava cabisbaixa. Com o olhar parado no tempo...tentando achar uma saída, um motivo...Qual a saída? (Quando perdemos alguém ficamos sem chão...) Ela percebe Faísca acordado. Dá um abraço apertado no garoto e chora silenciosamente...

Faísca teve acompanhamento psicológico depois do acidente. Passou por várias sessões de terapia, o especialista constatara que Faísca estava com *Pirofobia.Toda fobia é um medo irracional de uma situação. Hefesto tinha pavor de fogo. Não suportava falar sobre o assunto. Se visse uma chama entrava em pânico. Seus sintomas eram ansiedade, náuseas, batimento cardíaco acelerado. Tonturas, ondas de calor e frio, suor...
sufocamento.  
Bastava alguém acender um cigarro perto de Faísca e a crise manifestava. Sua terapia foi gradual. Hefesto foi vencendo o medo e a sua vida voltando ao normal. Aos dezoito anos prestou concurso para Oficial Bombeiro. Passou por todas estapas do curso.

Hoje é oficial bombeiro. Tem como missão combater incêndios, prestar auxílio e fazer salvamentos em casos de acidentes, catástrofes, etc. Dona Berenice casou-se de novo. Orgulha-se quando fala:
_Meu filho é um heroi!
(É na adversidade que atingimos crescimento e a manifestação de dons nunca antes imaginados!)



Nota:*Hefesto: Na mitologia grega, era o deus do fogo. Filho de Hera e de Zeus.
       *Pirofobia: É um disturbio psicológico que se caracteriza pelo medo doentio do fogo.

Alberto SL
Enviado por Alberto SL em 08/07/2013
Reeditado em 08/07/2013
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