Escritores porvir

Prodigioso escritor que doravante me seguir os passos, cuido que através desta carta lhe deixo algumas de minhas recomendações para que tu tenhas sucessos em suas letras, Ora! Pois este é o motivo que me leva a escrever-lhe, considere que eu como um grande discípulo de Machado, Alencar, Saramago, Clarice, sim! Clarice por que não? Sou discípulo dela como de muitas outras escritoras que escreveram brilhantemente. Ah a Literatura canônica!, sim! A Literatura Clássica sempre me fascinou, a grande Literatura, os grandes clássicos, enfim, uma verdadeira obra literária, e devido a essas minhas leituras eu me aventurei no grande mundo da escrita, escrevi, me esmerei em escrever obras tão boas quanto, Ah meu prodigioso escritor! Como pude me enganar a tal ponto? Ah quantas noites em claro! Quantas obras primas eu primei por escrever, quanto labor, quanto suor, quantas obras eu me empenhei em imprimir a minha alma e não só esta, a alma humana também, oh ledo engano o meu! Publiquei-as todas, foram varias dezenas delas e todas tão bem acabadas, todas lapidadas com tanto esmero. Mas de nada adiantou meu pupilo, ninguém se quer lançou lhes os olhos por menos demorado que fosse nas vitrines das livrarias, ah a crítica! Senhora impiedosa dos que se debruçam aos préstimos de escrever neste país, esta não me publicou nenhuma linha se quer nos jornais a respeito de minhas obras, oh quão doloroso me foi a cada ano publicar as minhas obras e permanecer à margem do reconhecimento.

Não! Definitivamente não, permita-me que eu me explique, o que lhe digo não é egoísmos e narcisismo de escritor que envaidecido fala de si como a falar de gênios como foram grandes outros escritores clássicos, digo-lhe que minhas obras tinham grande potencial, pois consegui publica-las em grandes editoras literárias que ainda contra as marés continuam a publicar boa literatura, oh quanto me desgosta saber disso! Mas é a mais duríssima realidade de que dispomos nós escritores deste século. Ah meu caríssimo pupilo! O meu maior desejo é que não tenhas o mesmo destino que eu, pois quando jovem como tu caí nos benfazejos dos grandes mestres e quis seguir lhes os passos, ah como pude ser tão tolo! Cuide meu pupilo que não sigas meus trajetos, digo-lhe que não há sucessos em escrever boa literatura neste século, não há quem queira tomar-lhe como a árvore de seus frutos, pois os frutos não frutificarão. Não queira se influenciar pelos grandes, saiba que hoje nem é preciso que se leia os clássicos para ser um escritor na mira dos críticos e livrarias, não vês o Coelho com todos aqueles livros publicados aqui e fora, os livros que hoje se veem nas livrarias e nas listas de best-sellers são livros banais, fúteis. Cuide em ser como ele, ou como a Meyer, a Collins o Martin e tantos outros que fazem encher as livrarias e os cinemas, não meu caro pupilo, digo-lhe que não vale a pena se aventurar nas belas letras, não prime por uma boa escrita, não prime pela estilística ou qualquer matéria de que se vale um bom livro, use o menos que puder das figuras, pois figuras por demais complicadas não serão entendidas por leitor que se acostumou por ter ao ler à sua frente como que uma tela de cinema que lhe mostra tudo, use uma linguagem acessível, se possível como me parece ser a tendência que por aí vem caminhando a passos largos, escreva como a utilizar uma rede social moderna, corra, voe, o novo leitor não está mais a fim de se demorar em suas leituras e trate desses dramas modernos, estes dramalhões que se encontram na vida de quem se virtualizou, ah agindo assim meu prodígio você conquistara às livrarias, mídias, os jornais e conseguintemente a crítica.

Oh por tudo quanto lhe disse não queiras escrever poesia, pois esta é arte mortuária, fúnebre, é a alma da literatura que soluça tristonha enterrada no túmulo do esquecimento, não! Peço-lhe que não leias poesia, ler as narrativas clássicas vá lá, pois podem te ajudar a escrever de forma a imprimir um quê de sofisticação à sua escrita comercial, mas poesia não, a poesia é a alma de que a literatura foi se desprendendo com suas inovações, a poesia é por demais complexa ao leitor que hoje temos, não! Nem essas de que chamam poesia concreta foi capaz de lhe trazer novos olhares e a poesia não necessita se inovar, pois isso é caminhar para sua desapropriação, é torna-la outra coisa que não ela mesma, desista meu caro pupilo se quer tornar-te um imortal das letras, pois mesmo eu nascendo no século passado, carregando resquícios de antiguidades de minha época, me esmerando por fazer boa literatura não encontrei sorte neste ofício, é fatídico o que se anuncia no seu caminhar literário, pois irás escrever nas primaveras do novo século, mas espero que seguindo os conselhos que lhe dei cuide não sentir as dores que sente um amante da boa literatura ao ver que as luzes que outrora lhe iluminaram o caminho se tornaram escuridão total.

Adailton Almeida Barros
Enviado por Adailton Almeida Barros em 11/07/2013
Código do texto: T4381559
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