Lenda do Rio São Francisco
 
Aruã era uma formosa selvagem nascida em uma tribo valente do nosso território. Admirada e querida pela gente se sua tribo não só pela beleza física, mas pela bondade e simpatia que era capaz de conquistar a mais ranzinza criatura que pudesse existir. Era considerada por sua gente uma emissária de Tupã, porque mediava os conflitos entre nações rivais.
            - A paz deve sempre reinar, dizia ela cheia de convicção, é um dos maiores bens que Tupã nos deixou. A guerra traz devastação e morte para as pessoas e o meio ambiente, por isso, devemos evitar as desavenças para estarmos sempre nas graças de Tupã.
            Tudo corria bem naquela tribo até que certa noite, enquanto festejavam a lua cheia, uma ave ferida caiu no meio do terreiro, entre os dançarinos. Assustados silenciaram os tambores e maracás, convocaram o pajé e ouviram dele uma triste profecia interpretando o acontecido.
            - Em breve uma desgraça muito grande cobrira esta terra, quase toda nossa gente ficara escrava e a devastação tomará conte da floresta, dizendo aquilo ele ordenou que a ave fosse queimada e suas cinzas recolhidas num vaso sagrado da tribo.
            No dia seguinte Aruã procurou o curandeiro e quis saber o que deveria ser feito para evitar o mal que ameaçava a sua gente.
            - Nada pode ser feito – disse o pajé. A inveja de Abiu, o gênio do mal, crescia muito e ele desejava destruir tudo. Com seus poderes, soprará um vento de fogo que deverá queimar toda a floresta. Sem as árvores não poderemos viver – murmurou triste o ancião.
            - Sossegue, sossegue – disse a menina. Hei de proteger a nossa tribo nem que seja a custo de minha própria vida.
            Após aquele dia a menina entristeceu. Seus pais e amigos procuraram o adivinho, mas este anunciou que a morte dela era inevitável.
            O cacique então pediu que ele providenciasse a conservação do corpo da filha. O curandeiro porem negou-se a fazer, alegando que aquela pratica tiraria dela os poderes que possuia depois da morte, que seu corpo deveria ser enterrado numa cova simples e com ele as cinzas da ave e logo após os funerais toda a tribo deveria retirar-se dali com seus pertences, caso contrario, todos correriam risco de perecer.
            Tempos mais tarde Aruã faleceu, o ritual fúnebre foi executado segundo as ordens do pajé. No final daquele mesmo dia abandonaram suas casas e partiram. Logo em seguida, realizou-se a maldição. Um incêndio na floresta provocado por um raio devastou tudo.
            Na sepultura de Aruã a terra começou a elevar-se tornando-se uma montanha de cujo cume nascia um fiozinho d’água que banhava aquelas terras. E por onde a água passava nasciam plantinhas e brotavam flores.
            Certo dia, o pai de Aruã cheio de saudades voltou para visitar a sepultura da filha e viu com surpresa o que aconteceu. Ele acreditou que aquele fenômeno era consequência da bondade da menina e que aquele rio era formado por suas lágrimas, que choravam sua gente.
             A tribo voltou e construiu ali ás margens do rio sua aldeia. O rio crescia sempre mais em seu volume d’água e extensão. A fertilidade passou a reinar nas terras por onde ele passava.
            Quando vieram os colonizadores portugueses, ficaram sabendo da história de Aruã e deram àquela serra o nome de canastra e o rio foi batizado de São Francisco, que também é conhecido por outros nomes: Rio da Unidade Nacional, Nilo Brasileiro e Velho Chico, como carinhosamente o chamam os nordestinos.
 
Amábilis Rodrigues
Enviado por Amábilis Rodrigues em 23/07/2013
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