"A CIDADE ONDE EU NASCI" Conto de: Flávio Cavalcante

A CIDADE ONDE EU NASCI

Conto de:

Flávio Cavalcante

“MADEIRA DE DÁ EM DOIDO” Ditado popular da cidade onde nasci. Significa que é um osso duro de roer, quando algo acontece de errado. Foi exatamente isso que aconteceu comigo.

Fazia tempo que eu não ia naquele lugar. É uma cidade do interior do Estado de Alagoas. Conhecida como princesa do agreste, a cidade vive um momento de total destruição, depois de uma lamentável catástrofe. Foi uma enchente que destruiu boa parte da cidade. Três anos do acontecimento e a população ainda vive o retrato deste terror, mas, a falta de interesse daqueles que comanda a cidadela ainda reflete a agrura de uma destruição que mais lembra um final de uma guerra.

Saí de Maceió todo empolgado para visitar a família que há bastante tempo não à via. A felicidade era estampada no rosto dos parentes que deram aquele sorriso de boas vindas a me ver. Abraços e mais abraços, conversas e mais conversas. Todos queriam saber como eu estava vivendo no Rio de Janeiro que já morava há 12 anos. Novidades e mais novidade, cada um com assunto novo para mim, de vitórias e perdas. Notícias de amigos que de repente haviam falecidos há bastante tempo e que para mim se tratava de uma coisa nova. Uma normalidade da vida.

Ao sair do Rio de Janeiro, deixei as minhas contas do mês na responsabilidade do meu tio que ficou na incumbência de regularizar e deixei claro que ligaria para ele para saber valores e transferir da minha conta para a dele, já se tratava do mesmo banco “ITAÚ”.

São José da Laje é o nome da cidade e foi onde fui disposto á passar uma semana. Pelo fato da normalidade deste banco em todo lugar, não me preocupei com o saque de dinheiro para minhas despesas pessoais e a transferência do dito valor para a conta do meu tio.

Foi nessa confiança onde quebrei a cara. A cidade fica há 118 quilômetros da capital e eu todo empolgado com a chegada não me preocupei em ir fazer o tal saque. Chegou a noite e resolvemos nos divertirmos numa boate de administração do meu primo, que era uma novidade naquele lugar, pois o povo vivia carente de um ambiente assim e reunião da população era certa naquele ambiente. Assim que eu estava me preparando para sair, pondo a melhor roupa e o melhor perfume, veio a melhor pergunta.

“ONDE QUE TEM UM BANCO ITAÚ POR AQUI”.

E resposta desanimadora veio logo em seguida.

“NÃO EXISTE ESTE BANCO NA CIDADE”

Imaginem a minha cara depois de pôr a mão na carteira de dinheiro e só ter uma quantia para beber alguns refrigerantes. O resultado foi ficar de mau humor á noite toda e não consegui ficar muito tempo naquele ambiente de muita diversão. Bem verdade, contei a situação para meu primo que me emprestou de imediato uma quantia até eu voltar forçadamente no dia seguinte para a capital, fazer a transferência e sacar uma boa quantia em dinheiro para não ter mais este tipo de problemas.

Em minha opinião é mais um erro do prefeito da cidade. O Nordeste vive um momento de terror em si tratando de violência e uma pessoa que vem de outro Estado, querendo visitar a cidade, sabendo da fama que circulam as notícias, não vai andar com colchão de dinheiro por aí. A solução seria ter pelo menos um banco 24 horas que o visitante se sentisse bem nas ruínas da cidade e não tivesse que passar por este constrangimento e além de tudo sair falando mal do lugar e na promessa de nunca mais pôr os pés lá.

LAMENTAVELMENTE ISSO ACONTECE NA CIDADE ONDE EU NASCI. SÃO JOSÉ DA LAJE.

Flávio Cavalcante.

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 18/08/2013
Código do texto: T4439971
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