Ventania

VENTANIA

Berná Fiúza

Ventania era um lindo corcel marrom com manchas brancas, inteligente, vivaz de crina rebelde. Muito bem tratado, seu pelo reluzia ao sol. Comia ração de primeira linha e torrões de açúcar. No entanto, era indolente, soberbo e preguiçoso, achava-se admirável, o melhor de todos os cavalos do haras.

Seu dono tinha-lhe muito planos, estava preparando-lhe para ser campeão de corrida, embora ele não cooperasse, propositalmente manifestava um falso cansaço e fingia-se de lerdo nos treinos. O treinador queixava-se ao dono sobre sua preguiça e má vontade, que procurava entendê-lo, pedindo ao treinador um pouco mais de paciência com ele, por ele ser um corcel muito jovem e impetuoso. O treinador não concordava com sua mesma opinião, mas sendo ele o patrão, sem grande entusiasmo lhe atendia ao pedido. Em represália fazia um treino puxado de várias horas com ele. deixando-lhe todo quebrado, ele odiava o treinador.

Toda égua do haras derretia-se ao vê-lo passar em sua imponência, excetuando Deise, uma égua castanha de linhagem nobre, simples, meiga querida por todos do haras: animais e tratadores. Justamente por ela batia descompassado o coração de Ventania, morria-lhe de amores e ciúmes, embora, por parte de Deise não fosse recíproco. Ao contrário, ela dedicava-lhe certo desprezo e aversão, testemunho mais de uma vez ele maltratando, humilhando com prepotência alguns outros animais, principalmente certo cavalo Manga larga que era a antipatia de Ventania, varejava-lhe um rival em potencial por isso o perseguia implacavelmente. Mancha miúda, esse era seu nome, bonachão, simpático, alegre, ignorava essa perseguição, alguma vez ele sentia até certa comiseração por Ventania. Mas as coisas esquentaram mesmo quando Mancha miúda e Deise foram escolhidos respectivamente animais de estimação das duas únicas filhas do dono do haras passando a viver na baia próxima a casa dos tratadores onde ficavam os campeões. Mimados e queridos pelas respectivas donas cheios de mordomias tinham vidas de príncipes. Ventania não se conformava, ele quem devia ter sido escolhido não o desengonçado do manga larga, teria mais chance de conhecer melhor Deise e de conquistá-la para sempre. Ah como lhe tinha saudade! Não a via mais próxima a ele só de longe, sempre acompanhada de Mancha miúda. Não, ele não poderia aceitar esta situação, dava duros todos os dias treinando sem piedade soltando fogo pelas ventas de cansaço, será que ninguém reconhecia seus esforços? Desesperaram-se quando percebeu que havia um romance entre os dois, passava dias a fio pensando numa maneira de separá-los, por quanto ficou mais preguiçoso, indiferente na esperança de que desistissem dele, e assim ele tivesse mais tempo disponível para estudar um plano dinâmico para separação final dos dois. O treinador não suportava mais sua indolência tentou ser mais paciente, fazia-lhe afagos, dava-lhe torrões de açúcar nada disso lhe adiantou. Finalmente Ventania bolou um plano estimando ser eficaz, tratou logo de pô-lo em prática; em um de seus treinos com cavaleiro montando-lhe jogou-se ao chão fingindo um desmaio, na queda machucou feio a perna do cavaleiro, mas ele não estava nem um pouco preocupado, só pensava em concluir seu plano. Após o exame veterinário, foi lhe indicado dias de repouso, sob o protesto do treinador que não acreditara em seu desmaio. Ventania exultava de felicidade por ter sido levado a baia vizinha a de Deise, mas sua felicidade durou pouco quando soube ela está prenha de Mancha miúda. O haras em peso era sós alegrias com a novidade. Mancha miúda não se cansava de acarinhar sua companheira. Ventania enlouquecia de ciúmes e despeito por ter perdida para sempre sua amada. No entanto, sua esperança renovou-se quando ele avistou no teto da baia em que Deise e Mancha miúda se encontravam uma tábua solta. Ninguém percebera empolgado com a vinda do potrinho. Que bom que só ele percebera! Observando á tábua ele viu que oscilava na proporção em que os cavalos se movimentavam, então começou a pular e escoicear como louco até que á tábua desprendeu-se e caiu. No entanto, não em Deise ou em Mancha miúda, mas no próprio Ventania esmagando-lhe suas duas pernas dianteiras, ele relinchava de dor. Correram todos os empregados para acudir; com amargura ele percebera o alívio de todos estampados nos rostos por não ter sido Deise ou Mancha Miúda. Quando o veterinário chegou constatou o inevitável, ele tinha que ser sacrificado. Foram buscar o dono do haras que ficou desolado ao se interar do acontecimento. Considerou uma fatalidade. - Ventania tão jovem tinha tanto futuro poderia ter sido um grande campeão! O treinador de imediato o contestou. - O cavalo era um preguiçoso não servia para nada, o senhor jogou foi dinheiro fora investindo neste inútil. - Mas ele era filho de campões! – Lamento senhor, essa herança genética não tem nenhum significado, já que ele nunca correspondeu á potencialidade dos pais. Ventania ouvia toda a conversa pensando soberbamente - faria tudo outra vez só que com mais requinte. Sua maior frustração era Deise, Mancha miúda e o potrinho estarem ainda vivos. Partiria feliz, se tivesse acontecido. Olhou o horizonte, o sol estava se pondo sombreando a árvore e o céu tomado de vermelho fogo. Fora á última visão de Ventania.

Berná Fiuza
Enviado por Berná Fiuza em 25/08/2013
Código do texto: T4451288
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