O RETRATO

Esta manhã, o meu marido Pierre, está em casa com o seu irmão,apreciando o quadro com o retrato do pai, que o pintor acabou de entregar.

Tudo que acontece em nossas vidas depende da visão que cada um de nós tem sobre o que observa e vivencia.Juan admira o quadro tomado pela emoção; saudoso daquele homem que foi muito importante em sua vida. Já Pierre, indiferente, observa apenas admirando a obra do artista, constatando que o pintor conseguiu reproduzir fielmente aquela foto amarelada, presente de sua mãe. Essa foto foi a única referencia que teve do seu pai, que durante a vida inteira julgara que estive-se morto.

Olhando aquele dois irmãos, ninguém diria que eles se conheceram depois de adultos na cidade de Paris, no ano de 1982, na abertura do testamento do pai, que nessa ocasião tinha acabado de falecer. Quando chegou no aeroporto, ao ver o irmão observou que ele era alto, tinha as faces rosadas e um sorriso encantador. Teve uma forte impressão de já o conhecer a muito tempo.

Juam por sua vez exclamou:

_Meu Deus! Você é muito parecido com o papai! Estou vendo-o na minha frente!

_ O Retrato que possuo do papai quando era moço e minha mãe sempre me garantiram que sim ... Só na aparência!

Pierre por ironia do destino era o único filho parecido fisicamente com o pai quando era moço. Juam ao contrário, herdou do pai a ironia e a alegria, como também o gosto pela música, levando-o a exercer a profissão de músico. Pierre sempre exerceu a profissão de dentista. Hoje está aposentado. Porém naquela época do testamento, ainda trabalhava. Viajou contrariado, não gostava de viajar muito menos de deixar os seus pacientes na mão. Como não queria prejudicar os seu irmãos por parte de pai, mesmo tendo certeza que foi uma armadilha do velho, que antes de morrer deixou uma clausula no testamento; estipulando que o mesmo só seria aberto na presença do seu filho que vivia no Brasil. Ele tomou essa atitude para forçá-lo ir conhecer a sua cidade natal e também os seus irmãos.

A viagem acabou sendo proveitosa para ele que só pensava em trabalho, acabou tirando umas férias, permanecendo em Paris mais tempo do que pretendia. Os dois irmãos se tornaram grandes

amigos. Quando Juam perguntou para Pierre se estava gostando da sua cidade natal... Pierre responde:

_ É uma bela cidade

_ Que falta de empolgação!Você nem parece ser um Francês!

_ Não! Não! Eu sou brasileiro!

_ Como brasileiro , você nasceu aqui!

Naquela ocasião Juan, não entendia bem a atitude de Pierre, como também não entendia o porquê , ele renunciou a sua parte da herança em favor dele e de sua irmãs.

Hoje, eu sei que para Pierre o maior legado que o pai lhe deixou, foi o seu irmão. Muitas vezes eu até senti ciumes da amizade deles. Meu marido realmente nasceu em Paris durante a segunda guerra mundial. Filho de mãe portuquesa e de pai frances , que foi convocado para defender a sua pátria , um pouco antes de Pierre nascer . Os pais eram músicos e se conheceram quando trabalharam na mesma orquestra

Sua mãe ficou grávida, eles pretendiam se casar logo depois do seu nascimento, mas a guerra acabou atrapalhando. Quando ele nasceu, por falta de noticias do pai, foram morar em Portugal. Não tinha completado dois anos quando veio para o brasil, com a família . Aqui cresceu, naturalizou-se tendo certeza que era órfão de pai.

Quarenta anos depois a família tem uma grande surpresa, sua mãe, reconhece o seu antigo namorado dando uma entrevista na TV. Foi um sufoco mas a família o localizou. Para espanto de todos , Pierre agiu friamente diante daquele senhor, não aceitando que ele fosse seu pai. Mesmo quando ele contou que foi prisioneiro de guerra, que chegou ir a Portugal atrás deles ... Pierre continuou irredutível.

Eu sei que ele no fundo, pergunta se não foi injusto com o pai no único contato que tiveram Afinal ambos tinham sido vítimas da circunstâncias.

Juam continua morando em Paris com a família, mas comprou uma casa em São Paulo. Devido a sua profissão passa um tempo aqui e outros viajando.

Enquanto eles decidem onde vão colocar o quadro, eu fico pensando como duas pessoas tão diferentes podem se amar tanto.

Juam como sempre provoca o irmão:

_ Não sei porque eu perco tanto tempo com você? Além de ser um Frances desnaturado, não serve nem para tomar uma taça de vinho. Das irmãs nunca quis saber... É um grande maluco,que passou a vida inteira falando com o retrato do pai. O mesmo pai que desprezou quando o conheceu... Mesmo sem demostrar sei que esta emocionado diante deste quadro, e por sua reação diante dele, chego a conclusão

que este retrato sempre foi um fantasma m sua vida.

_ Você pode ter até razão, mas o meu pai sempre foi este retrato.

Conto publicado no Talentos da maturidade

Liege Esteves
Enviado por Liege Esteves em 31/08/2013
Reeditado em 11/09/2013
Código do texto: T4460589
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