Era ela.

Ela sumiu por longos e frios meses.

Mas ao vê-la de volta, eu não sabia mais precisar em números antes tão decorados, o tamanho da saudade.

Esquecera como fazer contas.

Ela estava de volta, mais séria do que da última vez, um pouco mais magra é verdade. Mas ela ainda.

E eu só de vê-la podia lembrar de cor cada barulho do seu acordar, o cheiro que os cabelos tinham depois do banho, e mesmo ela assim de gola alta eu de memória desenhava no guardanapo a constelação de pintas que lhe cobriam o colo moreno e quente.

Mas ela estava mais quieta, e tinha ainda mais olheiras.

Ainda assim não me deixava esquecer o sorriso de fechar os olhos num traço, ou o jeitinho de morder os lábios.

Estava tudo ali, dentro da menina sóbria. Esperando uma brecha, uma fenda, um descuido da sentinela do juízo.

Era ela de novo, era ela de volta.

Maíra
Enviado por Maíra em 14/04/2007
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