Pobre menininha...

Era mesmo hora de ir embora. Aquela noite já havia lhe apresentado surpresas desagradáveis demais, não poderia permanecer ali e correr o risco de se prolongar com o infortúnio de mais desastres.

Era a hora, o que tinha de causar espanto, terror, tristeza, raiva ou rancor causou. Não era a sua doçura ou a sua acidez que a tornava mais propícia a receber os golpes que recebeu, era o senso de percepção muito baixo. Ela sofria porque não escolhia bem as pessoas pra ficar ao seu lado, dividir sua vida ou, pior, intimidade.

Foram dois anos e pouco de convivência, somente uma conversa que ela teve com ele, numa única vez, após muitas tentativas frustradas de acordos, para se chegar ao final sem que ele apresentasse resistência ou interesse em permanecer. Atitude sensata da parte dela, depois de tantos dissabores. Queria poder confortá-la neste momento, mas entendo que a dor será útil para torna-la mais forte, talvez, mais madura, pelo menos em relação as pessoas que ela escolhe para a sua caminhada diária.

Olhem para ela, veja como é bela, como é inteligente, engraçada, muito simples, é por demais encantadora. Não sabem aqueles que a veem que ela é muito mais carente do que aparenta ser, é muito mais frágil daquilo que apresenta em sua face, tem muitos medos e seus desejos ela tenta podá-los. Sacrifica-se como um cordeiro, não se permite a felicidade enquanto todos a seu redor não estejam primeiro. A mercê desta ideologia, acostumou-se a pensar pelo outro, muito mais do que por si. Detesta injustiça e não suporta a mentira. Para ela não há repulsa maior por alguém do que a falta de caráter e a maior prova de falta de caráter estar em não ser sincero.

Não foi o “adeus” final que findou seu relacionamento, foi há algum tempo atrás, quando aos poucos acordou e viu que o amado não era príncipe, talvez nem sapo, era um ser humano de carne e osso, que ao invés de mostrar-se solidário fechou o semblante no momento em que ela mais precisou.

Foi mesmo muito duro, deve ser confessado. Como pode alguém tripudiar de uma desgraça, chamando-a, até mesmo, com adjetivos desestimulantes quando o momento exigia que fosse ele o mais ativo e presente. Não digo que foi culpa dele, mas também não digo que foi justo a sua ausência.

A mágoa daquele dia se prolongou por um tempo, criou morada em seu coração e mesmo com a lembrança esquecida ficou para sempre marcada com aquele acontecimento. Não era para mais, visto que esperava do parceiro parceria, do companheiro, companhia, do amor, solidariedade, da paixão, reciprocidade...

Como um quebra-cabeça foram aparecendo peças para formar a cena final, o momento de dizer “tchau!”. O comportamento detestável dele foi se depositando no coração magoado dela, até que não havia mais espaço em si e transbordou, foi o fim.

TMEDEIROS
Enviado por TMEDEIROS em 06/10/2013
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