SAUDOSA INFÂNCIA

Nosso Pai era uma pessoa Inusitada,com pouco estudo,porém de grande sabedoria popular.Ele usava os exemplos,pensamentos,parábolas, metáforas e provérbios antigos para definir e explicar algumas situações. Enérgico na educação moral,brando nas coisas simples e hilário a outras. Apelidava pessoas e zombava do penteado duro de laquê da minha irmã, chamado o ninho de tico tico e alcunhada Brigitte;ela chorava bastante. No início das aulas ele comprava três Cadernos e três Lápis pretos para durar até as férias de junho;só ele apontava os lápis e olhava os temas. Se o caderno findasse teríamos de apagar as primeiras folhas e Reiniciar. Depois ele repetia a compra do material escolar até o final do ano letivo. Meu pai era meio dislálico e algumas palavras ficavam muito engraçadas. Algumas pessoas riam mais da pronúncia do que o sentido da expressão. Gostava de Cantar as músicas de Nelson Gonçalves e Vicente Celestino. Lembro-me em especial de uma canção que ele entoava pra minha mãe: "A beleza é a matéria e nada mais traduz;o talento é um espírito de luz" Metido a poeta e seresteiro, ele fazia versos e prosas à minha mãe mas quando declamava em Alemão ela ficava Furiosa pois odiava Adolf Hitler. Uma serenata quase acabou na tragédia pois ele errou o nome da moça chamando a senhorita Erna de hérnia e soltaram os cachorros no bando. Uma vez foram passear na capital,ela voltou injuriada pois apenas olhou doces na vitrine da confeitaria e foram andar de bonde e comer pipocas. Ele tinha soluções simples e econômicas para os problemas domésticos pois fez um relógio de sol no nosso jardim com flores,pedras e taquaras. Fazia os nossos brinquedos e os móveis reciclando materiais disponíveis. Tínhamos árvores frutíferas,uma pequena horta e os animais de criação. Muitos filhotes foram paridos pela porca xica e resolveram vender todos. Enfurecida, a fêmea entrou em disparada entre as pernas da minha mãe. Foi uma cena cômica ver mamãe cavalgando de costas pedindo socorro. No natal compramos uma tv usada que vivia quebrando.Na fraca tensão precisava esquentar uma peça no bafo da chaleira pra depois Funcionar. Papai atento aprendeu a consertar observando o técnico à primeira vez. Precisava tombar o pesado aparelho para então retirar a peça por baixo. Estava sobre o móvel um retrato e um bibelô,e começaram a escorregar. Ele falava:"Olha o pinto,segura o pinto";sem entender ficamos assistindo cair o enfeite e quebrar.Muito bravo ele disse:"Ninguém segurou o pinto". Achamos que os bichos tinham fugido do galinheiro e olhávamos à porta. Mamãe disse:Não é pinto meu velho é passarinho!"Que seja replicou ele" Ambos já se foram e aquela saudosa maloca foi vendida e desmanchada. Hoje tem uma casa fina,praça e a universidade no final da rua asfaltada. Quando passo por lá lembro da minha infância;os Irmãos,as brincadeiras, os queridos amigos,a escola,os animais e as árvores que foram cortadas. Há pouco tempo exumamos nossos pais e um jovem irmão, de diferentes locais para o jazigo da família. É uma cena bem triste ver restos mortais de parentes amados.Por alguns minutos me veio a imagem deles a Sorrir. Aceito comentários

Bronquinha
Enviado por Bronquinha em 07/10/2013
Reeditado em 15/11/2014
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