A contadora de histórias (2)

Gosto de escrever, os mistérios me fascinam, vida e morte, estes mistérios insondáveis. Acredito que muitos se apegam nestas coisas incríveis. Vejamos por exemplo, uma pessoa considerada paranormal, ela consegue fazer coisas inexplicáveis aos olhos humanos. Mistérios e mais mistérios as envolvem. Existem aqueles que as criticam (alguns cientistas ou pessoas excepcionalmente cultas, até mesmo religiosas) e aqueles que as defendem e até aceitam os feitos paranormais. Ter dúvidas chega ser natural, mas afirmar categoricamente ser falso aquele que se autodenomina paranormal, é um erro impensável.

Então eu me coloco entre aqueles que são fascinados por estes assuntos e até torcer para ser provado que entre nós viventes neste mundo de lógica, existem alguns seres que conseguem fazer estas coisas incríveis. Até mesmo conseguir ver caírem por terra algumas teses do inteligentíssimo ex-mágico James Randi, o caçador de paranormais. Randi conseguiu desmascarar alguns, e desafia quem quiser provar ser um paranormal. Entretanto, este excepcional caçador não consegue uma explicação definitiva da paranormalidade.

Fico na expectativa quando também vejo muitas explicações do Padre Quevedo, outro estudioso do assunto paranormalidade, embora considerá-lo também excepcional, sinto que algumas de suas declarações podem trazer confusões nas mentes de alguns mortais, por exemplo o combate desenfreado às superstições. Ao conseguir tirar de algumas mentes estas crenças, poderá criar indivíduos materialistas (que considero mais prejudicial) e ainda mais que ainda não conseguiu explicações por alguns fatos acontecidos que se dizem sobrenaturais.

Baseando nestes assuntos deste texto, citarei um acontecimento relatado pela contadora de história, que era a minha falecida mãe, Maria Vitória. Era mais ou menos no ano de 2003 quando eu estava escrevendo a biografia de minha mãe, ela me citou este relato:

Mais ou menos na década de quarenta, os casais que não eram casados na igreja, muitas vezes me procuravam para orientá-los a oficializar o matrimônio perante Deus. Uma pessoa muito minha amiga me procurou dizendo que gostaria muito casar na igreja, porque vivia há vários anos em concubinato, não estava em paz na sua consciência, só que achava ser difícil oficializar o ato religioso, porque seu companheiro era dono de um terreiro de umbanda, mas ele tem preferência em fazer em sua mesa trabalhos terríveis, pra atrapalhar mesmo a vida das pessoas. Conclui ser prudente reunir o casal e ver se realmente eram o que eles queriam. Como resposta do companheiro de minha amiga, ouvi o seguinte:

--- Posso até casar num templo católico, mas eu tenho ódio de padre! Eu a intermediária do casal por alguns instantes fiquei desconcertada com a resposta, logo me refiz e tratei de procurar o padre Frei Alfredo para a decisão final, este Frei era enérgico, quando tinha de xingar não mandava recado, (continuava a detalhista, carismática, religiosa, minha mãe Maria Vitória) entretanto, não adiantava pensar, a expus o caso detalhadamente, Prontamente ele determinou a presença dos pombinhos num determinado dia na igreja. No dia marcado lá estava eu com os dois no templo que aquele adepto de trabalhos para atrapalhar “ou consertar vidas” detestava, mas por causa da minha insistência ele estava alí naquele local. Frei Alfredo inesperadamente muito atencioso conversa separado com cada um deles, mas com ele o tempo foi muito prolongado. Por incrível que pareça, o padre era mesmo resolvido, celebra o casamento naquele dia mesmo, eu e o sacristão como testemunha.

Na volta para a casa, o casal eu, aquela ajudante da realização da união perante Deus, todos calados, parecia estar acontecendo uma coisa fora do normal, o marido rompe o silêncio dizendo:

--- D.ª Maria, queria agradecer-lhe pelo que fez, sinto-me aliviado, minha conversa com o padre foi uma verdadeira confissão, digo pra sra. fiz muito mal a muita gente, nos meus trabalhos na macumba, acredite ou não, destruí muitas vidas. Preciso agora mudar o rumo de minha vida também, não vai ser fácil, os trabalhos que teriam de ser concluídos, terei de interrompê-los, até o seu nome está entre eles e o pior é que já comecei a fazer o trabalho!... uma pessoa muito ligada à sra. pediu-me para transtornar sua vida, se quiser revelarei quem é, e reverterei o trabalho para ela mesma. Imediatamente:

--- Pelo amor de Deus! Jamais quero saber quem é essa pessoa, nem o seu infortúnio, não quero ter ressentimento de ninguém, não jogue fora esta sua reconciliação com Nosso Senhor!

--- Ele deixou de fazer os trabalhinhos? Pergunto com um leve deboche,

--- É, meu filho, tomara que sim, por maior que seja o nosso pecado sempre é tempo de reconciliar-mos com Deus e a chance daquele homem era a última, porque passados alguns dias, soube do seu falecimento!

--- Então, mãe, o que a senhora acha, ele precisava mesmo casar para ter a sua salvação?

E os trabalhos que ele estava fazendo para atrapalhar a vida da senhora, sentia alguma coisa fora do normal, à noite de madrugada a senhora sentia alguns arrepios, via alguns vultos?

Minha mãe na sua natural convicção religiosa, me disse:

--- É meu filho, você sempre fazendo gozações! Mas vou te satisfazer sua curiosidade, embora não acreditando que alguma pessoa posso fazer algum mal à outra pessoa justamente com estes "trabalhos" o nosso protetor é Jesus Cristo, ele é nosso Salvador, protetor e tudo o mais. Mas eu alguns meses antes, tive que interromper todos os meus trabalhos religiosos: - a catequese, os trabalhos sociais, paroquiais, até as roupas de fora que eu lavava pra ajudar seu pai nas despesas. Estava bem doente, o médico ia me internar com suspeita de tuberculose. Foi um sufoco... Volto a lhe dizer, não tenho a opinião definitiva de que aqueles trabalhos considerados malignos fossem o responsável por tudo. Mas quem pode compreender estes mistérios de nossa vida!...

Ouvi atentamente aquela que foi outrora a autêntica contadora de histórias, que apesar de sua excepcional percepção, não era uma paranormal e por isso mesmo acredito não haver explicações de maneira humana sobre estes assuntos (...)