Andanças

Caminho solitário, em busca de algo que me guie por essa estrada.

Sigo, por não mais ter aonde ir.

Vou a pé... de pés no chão, olhos sempre firmes... e com o sol.

Sol esse, que por aqui nunca falta.

Osol castiga nossas costas e muleras, até enjoar, já que quente é o sol,

tal qual meu passo, a queimar o chão que piso, a fim de deixar marcas no caminho

- para uma quem sabe - possível volta.

Não sei o caminho – só sigo.

Não improviso atalho – só sigo.

Não leio placas – só sigo.

Não perco o passo – só ando.

Já não cubro a cabeça a protejer-me de chuva ou sol, nem fecho mais os olhos

à poeira trazida pelo vento.

Firmo o passo e ando, e só.

Solitário - como se andar fosse um segredo - a espera de quem sabe algo bom pelo caminho.

As vezes, a brisa vem a me tocar a blusa sob a pele.

Outrora, é um pomar, que encontro no caminho com frutos maduros, a saciar-me a fome e a sede.

Às vezes é água pura e cristalina, nascendo por entre as pedras.

E às vezes é só sombra, e um lugar de repouso, como casas abandonadas nas estradas por um dono que vazia a deixou, por um ou outro motivo, e hoje, estão sem portas e janelas.

Outras com sofá e até cama, protegem viajantes como eu, que se despedem no outro dia pela manhã para mais uma jornada.

Nesse caminho, não se sabe achar o que proveitoso seja.

É só andar e contar com a sorte.

Ter boas cantigas para cantarolar e ir levando o passo, e deixar que o vento espalhe o som da voz pelo cerrado a fora a empregnar as egregoras do planalto central de esperanças.

Bons olhos... é preciso ver longe em algumas horas turvas – ver é uma virtude, compreender o que se vê é um dom.

E fé. No mais somente fé.

Que se não ela, quem mais daria tanta força e coragem?

Nem o amor! Esse embora forte e belo é traissoeiro, e se destrai entre as paisagens, se confundi, e nos trai.

Nem vingança nem ódio, pois ambos se enfraquecem com o tempo.

Mas a fé não.

A fé no passo, na mão, na vida.

Fé no novo dia, e no encontro no fim da estrada, com algo que se acredita e que se sabe valer a pena caminhar para encontrar.

E enfim, descançar.

Quem sabe junto aos bichos, ou a beira de uma arvore?

Ou quem sabe com você?

Já, que é na paz do seu sorriso, e no carinho dos seus braços, que a esperança se renova.

Ou quem sabe é só andar, andar, andar, andar...