JOÃO E SUAS SUPERSTIÇÕES

João, incomodado até por estrelas, mesmo sem demonstrar emoções, muitas vezes sentia-se de sol à sol sobre poltronas de camarim, até sucumbir-se diante de tantas superstições. Na verdade abriu-se um leque delas. E tudo soava como novidades, em que ficou por consideração de anos em um reinado apropriado, ou melhor, acomodado, já que elas estavam impregnadas em todo o seu ser. Até mesmo à mesa, quando todos podiam notar: João ficava sempre de camisa roxa, sem retirar o chapéu, e os seus evitavam fita-lo.

Era como um projeto, que muitas vezes, o incomodava, mas João não tinha o que fazer para com as suas inesperadas reações diante das superstições. Por conta de toda aquela apresentação e rituais bizarros, João iria à qualquer histórico averiguar para além do razoável. Ele transcendia a realidade e se via montado há horas, sem eira nem beira, sobre um cavalo alado, do quarto céu para cá, em igual ano.

Não era número dobrado, não; os números simples é que o atormentavam, e por muitas vezes, se deparava com alguns deles durante o dia. E aí, em qualquer lugar que estivesse, fazia o seu ritual. E esse consistia-se nas maiores esquisitices, como entortar a boca e piscar os olhos várias vezes, ou ainda dar três pulinhos girando no ar. E tinha ainda uma outra situação não menos estranha, como sentir-se obrigado a comer alguma coisa com apenas três movimentos mastigatórios.

Esse era o João, um cara que mesmo ao terminar seus trabalhos, por qualquer fragmento, deveras rancoroso, sentia- se importunado por suas superstições, e onde quer que estivesse, até no mais íntimo recanto, as tais com ele estavam.

Um certo dia, João parou num bar, tomou uma dose de pinga e de

seguida, pôs em sua boca de uma só vez, um generoso e suculento pedaço de carne de porco, e mal havia colocado-o na boca, quando passou por ele um moço com uma camisa com o número 1 escrito nas costas. Aquele número simples, ninguém sabia porque, mas era um dos seus tormentos supersticiosos. João precisava agir rápido, e não pensou duas vezes! Deu três mastigadelas, logicamente insuficientes para triturar aquele pedaço de carne, e ao tentar engoli-lo, acabou ficando preso em sua garganta impedindo-o de respirar. João começou a agonizar de modo que caiu no chão e ali todas as suas forças esvaiam-se, e tudo o que as pessoas a sua volta tentavam fazer como socar suas costas, por exemplo, não foram suficientes para salva-lo. E assim, morreu João, por causa de suas superstições.