[A Espera]

Ele é bonito, educado, responsável, um bom rapaz.

Bem apessoado, diria vovó; um bom candidato a genro, diria mamãe.

Pessoa de bom caráter, não se mete em confusões, sempre disposto a ajudar, mas nunca se mete onde não é chamado. A quem precisar ali ele está, mas também não se engane, ele não se deixa enganar e não tolera que abusem de sua amizade.

Bom rapaz! Por que será que ele anda só todos os domingos na praça? Sem amigos? Não, ele tem muitos amigos. Alguns têm namoradas, namorados, noivas (os), amantes, outros trabalham em plantão e como ele não gosta de incomodar ninguém, talvez prefira ficar sozinho a sobrar.

Ele senta no primeiro banco da praça e abre seu livro.

Difícil encontrar, hoje em dia, um jovem sentado em um banco de praça, tranqüilo e lendo um livro, pior, um romance...

Ele trabalha com ciências exatas, gosta de livros práticos, mas neste domingo decidiu mudar, levou com ele um romance...parecia ideal...

Meio duvidoso pela escolha, olha com desdém, pensando que foi uma má idéia, deveria ter levado um manual que faltava poucas páginas para terminar....mas resolveu arriscar e abriu...

Pág.17 – “ Uma tarde de domingo, Lory espera por Ulisses...ele não aparece.”

Página final. – Lory encontra Ulisses, eles se beijam e ela diz: “Eu sempre te esperei”.

Era um romance curto, porém intenso, cheio de emoções e imagens para atrair o leitor, com final feliz e tudo que uma receita romanesca tem direito. E eis o imprevisível:

Sentia-se estranho no banco da praça, isolado, a tarde se despedira e ele começou a pensar: Será que há alguém a minha espera? Será que existe sempre alguém a espera de um outro alguém? Convém esperar? Por dúvida, precaução? Será isso um teste? E se não houver ninguém me esperando?

Coração e questões pulsando... ele nunca parara pra pensar nisso, mas agora...e agora? Será tarde demais? Será que já passou a hora e não soube esperar? Será que me esperaram e eu não cheguei a tempo? Será...

Uma grande dor de dúvida toma conta de si. Lágrimas inundam seus olhos. Uma brisa traz a angústia e a solidão, pensamentos de que só ela será sua única companhia.

Ele olhava os casais banhados de romance, sentados na grama da praça....casais com seus filhos comprando pipoca, uma moça esperando seu par que acabara de chegar...ela o recebe com um sorriso flamejante....

Quanto aos seus olhos...parecem saltar dizendo: “E eu?”

Seu coração gritava: - “E eu?”

Até que, ao ouvir uns passos... mansos passos...

Uma sombra se aproximava... Ele levantou os olhos e avistou uma moça com balanço simples e faceiro e, ao mesmo tempo, receoso em sua direção... quando chegou perto, disse-lhe: “ Esperou muito? Perdão, mas o trânsito estava complicado”.

Ele como um olhar de surpresa: “Como?”

- Não lembra? Marcamos de nos encontrarmos neste domingo, aqui, nesta praça. Combinamos de que se estivesse cheia você levaria um livro, um romance, pois em nossas conversas você dizia que não era seu gênero preferido...

- Você me conhece?

- Sim. Nós marcamos, não disse? Conhecemos-nos numa convenção de equipamentos há um mês atrás. Conversamos durante horas e marcamos este encontro, dia, hora, local. Tudo. Lembra? Esperei tanto por este dia...

- Sim, lembro. Eu também esperei tanto por este dia...

20#04#2007 00:23