* Conferindo os últimos pedidos, conforme sempre faz todas as noites, uma carta despertou a atenção de Papai Noel:
 
“Senhor Papai Noel!
 
Imagino que fui um garoto respeitador e amoroso esse ano.
Peço ao senhor uma bicicleta velha.
Não me presenteie com uma bicicleta nova.
Somente quero uma velha.
Não se ofenda! Ou ganho uma bicicleta velha
ou não precisa me dar nenhum brinquedo.
 
Um abraço do amigo Rafa!”
 
O pedido deixou Noel confuso.
A fábrica dele que, a partir de janeiro, trabalha sem descanso a fim de garantir os presentes do magnífico Natal, tentando jamais frustrar as crianças do planeta, não faz bicicletas velhas.
 
Aliás, o que levaria uma criança a pedir um brinquedo velho?
 
O inusitado fez o ancião convocar Natanael, um dos principais auxiliares de Papai Noel.
O funcionário dedicado recebeu a missão de sondar o garoto Rafa.
 
Algo mais intrigava Noel.
O endereço da carta indicava uma residência abastada.
A situação inesperada adquiriu uma forte proporção de curiosidade, solicitando a contribuição imediata de Natanael.
 
* Na tarde seguinte Natanael esclareceu a questão.
 
Rafael Recanto Filho, o simpático Rafa, era filho único de pais muito amorosos, dedicados e ricos.
Nenhuma carência material o menino experimentava.
Estudioso, alegre e descontraído, o garoto possuía quatro amigos com os quais costumava brincar na principal praça do bairro, ponto de encontro.
 
Os pais contestavam essa amizade, pois os garotos eram pobres.
Apesar da dose de desconfiança, eles admitiam a escolha do filho se não interferisse nas suas obrigações habituais, escola e cursos.
 
Rafa, apelido utilizado somente pelos amiguinhos, curtia duas ou três horas diárias especiais.
Nesse período, formando um quinteto com os queridos companheiros, o garoto sorria, corria, conversava e, uma vez na semana, terminavam a diversão visitando a bela praia da região.
 
Após brincarem demais, eles pedalavam até a praia.
Chegando lá, ficavam deitados na areia ou mergulhavam algumas vezes na parte rasa.
 
Naqueles momentos preciosos, sumia as barreiras sociais.
 
* Dois dias atrás a bicicleta de Rafael quebrou.
 
Os amigos sugeriram pedir ao pai, mas Rafa não aceitou a proposta.
Ele não ficaria à vontade ganhando uma bicicleta nova, pois os outros quatro meninos usavam bicicletas simples demais, antigos presentes que os amigos desfrutavam com imensa alegria e emoção.
 
A bicicleta de Rafa, inicialmente nova e contrastando bastante com as outras quatro bicicletas, depois apresentou a “cara” usada, levando o garoto a festejar os efeitos do tempo.
 
Agora a bicicleta sofisticada não “suportou a pancada”.
 
Rafael percebeu, então, a boa oportunidade de solicitar uma bicicleta parecida com a dos amigos. Só serviria uma bicicleta velha.
 
Considerando que o pai não entenderia o dilema de Rafa, o menino decidiu recorrer a Papai Noel.
 
* Natanael explicou que parecia fácil caso Noel desse quatro bicicletas aos amigos de Rafael, no entanto os garotos estavam satisfeitos com as bicicletas as quais possuíam e, além disso, nas cartas enviadas ao bom velhinho, eles fizeram pedidos modestos.
 
Dois solicitaram bolas de futebol, um pediu a camisa do time preferido e o mais novo da turma solicitou uma mochila.
 
As circunstâncias não permitiam outra ação, ou seja, Rafael necessitava de uma bicicleta velha.
 
Papai Noel mandou fabricar uma bicicleta velha.
Os funcionários da fábrica não compreenderam, entretanto, utilizando materiais enferrujados e descartados durante o primeiro momento de produção, concretizaram a incrível tarefa.
 
* Na noite natalina, depois de acompanhar a chata reunião envolvendo os pais e vizinhos, Rafa foi liberado para festejar com os amigos.
 
Quando o viram, o quarteto veio correndo lhe abraçar:
_ Feliz Natal, Rafa!
Rafael sorriu emocionado.

O companheirismo do quinteto jamais perdia a força.
Prevalecia um sedutor sentimento o qual desconhece as idiotices tão valorizadas pela sociedade atual, ambiciosa e egoísta.
 
* Na manhã seguinte, na árvore que sua estimada mãe preparou, ao lado dos presentes comprados pelo genitor, encontraram um grande embrulho contendo a bicicleta que Rafael pediu.
 
Mais tarde, já reunido com os queridos amiguinhos os quais também comemoravam os presentes ofertados por Papai Noel, todos pedalavam rumo à praia.
 
Os quatro heróis aceleraram.
Rafael tentava alcançá-los guiando sua bicicleta, tão velha quanto a dos companheiros, com uma aparência bem desgastada.
O pedal improvisado exigia um esforço excessivo de Rafa, contudo o menino não conseguia disfarçar o enorme contentamento.
 
“Que bom! O sonho virou realidade!”, pensava o menino.
A felicidade dele era contagiante demais.
 
* Parece que um olhar atencioso seguia a equipe.
 
Alguém queria verificar aquela cena mágica, uma lição de humildade e generosidade, um incentivo para quem duvida do amor, a confirmação da grandeza inerente às almas sintonizadas com a mensagem cristã.
 
As lágrimas do observador foram inevitáveis.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 23/11/2013
Reeditado em 23/11/2013
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