Amélie Mora em Mim.

Hoje me pego sentada no banco da praça preferida de Amélie. É uma manhã nublada e tudo está muito quieto/calmo. Eu vim vê-la, vim senti-la... E sinto.

Já fazem duas horas que estou aqui. Quando cheguei ainda estava escuro. Duas horas sentada e fumando o quarto cigarro. Só vejo algumas pessoas andando lá do outro lado da rua. Na praça, só eu, as arvores, os bancos vazios e os brinquedos parados.

Eu vim vê-la... Faz um mês que não a vejo. É fim de semana e era para ela estar aqui hoje. Nós estaríamos juntas, sentadas em um desses bancos, comendo e bebendo besteiras de supermercado ou fast food.

Hoje... Hoje eu estou só. Ela não veio. Ela não virá, eu sei. Está frio e meu casaco branco não me esquenta o suficiente. A falta dela me causa mais frio ainda. Preciso dela e não a tenho. É sufocante.

Me deito no banco da praça, com os olhos cheios de lágrimas, a garganta apertada, mas ainda não choro. Ela não gostava de me ver chorando, portanto seguro o choro o máximo que posso.

Eu fico aqui fitando o outdoor com a foto dela. Ela é linda... Amélie sempre foi, sempre será linda. Nós duas sempre fomos as mais bonitas do trabalho, das festas, de tudo. Mas ela... Ela com sua popularidade em alta, se destacava em tudo, entre todos. Sempre foi querida, sempre será. Encantava com seu sorriso encantador. Não posso esquecer esse sorriso. Jamais esquecerei.

Estou deitada agora e as lágrimas já começam a escorrer pelo meu rosto. Este rosto magro e que há muito não vê cores. Há um mês eu alimento o meu rosto com um rímel e um batom dela... O batom vermelho vinho que ela gostava de passar em mim, pois dizia que eu ficava bonita por ser muito branca. Ela gostava... Hoje eu uso ele para que ela me veja bela.

Oh, my God!... Eu preciso dela!

Tem uma estátua de um mini Cristo Redentor na praça. Amélie adorava essa estátua. Ela trazia flores sempre que vinha por aqui. Dizia que ele (O Cristo), iria sorrir sempre que recebesse aquelas flores- eu sorriu por entre lágrimas com essa lembrança. A lembrança do sorriso dela ao afirmar o sorriso do Cristo- E deixava, nos pés da estátua, as flores delicadas e amarelas que ela colhia no pequeno jardim de nosso apartamento.

Hoje é um dia especial para ela, pois uma viagem para Paris estava marcada. Iríamos juntas para Paris, o lugar que nós duas tanto amávamos. Hoje não amo mais nada sem a minha querida aqui. (Quando penso nisso as lágrimas escorrem feito uma cachoeira pelo meu rosto: desgovernadas).

Olho para o céu e ela sorri para mim maliciosamente, com os olhos fitando os meus em expressão de perversidade divertida. Ela era assim: perversa e divertida, doce e amável. Eu também sou, pois aprendemos uma com a outra a ser o que somos... Ou o que fomos, já não sei mais. O outdoor com sua foto é o enfeite mais belo desse lugar- apesar de o lugar ser lindo por si só.

Coloco o fone de ouvido e deixo a música rolar. Nossa música preferida: “Summertime Sedness"- Lana Del Rey. Adorávamos essa música e ouvíamos repetidamente quase que o tempo todo.

Lembro-me de quando eu ficava deitada- lendo ou só deitada mesmo- e ela chegava, colocava a música em alto volume e vinha me provocar. Ela jogava seus cabelos castanhos claros- quase mel- em meu rosto e me fazia cócegas com aquelas lindas mãos brancas e finas. Eu me irritava, pedia para ela parar, mas ela não parava. (Risos). Era divertido. Eu, então, soltava os meus cabelos castanho escoro e jogava contra os dela. Éramos um tanto idiotas, mas esses são momentos dos quais eu jamais irei esquecer.

Lembro-me também das vezes que ela estava séria ou muito brava e eu pulava em cima dela para irritá-la ainda mais. Ela ficava louca de tão brava, mas eu continuava e ela- docemente, claro- cedia à brincadeira, pois essa, não perdia uma oportunidade de aprontar uma comigo. Então acabávamos nos abraçando e trocando carinhos.

Agora não... Agora eu sou uma completa idiota sozinha. Sozinha não tem graça ser idiota. Sozinha eu me sinto um nada cheio de vazio.

Levanto-me, pego minha bolsa e caminho até o Cristo... Minhas lágrimas ainda rolam, mas rolam devagar. Eu trouxe as flores pra colocar aos pés do Cristo, como ela sempre fazia. Acho que ela está dando aquele sorriso lindo para mim agora. Eu sinto que está.

Deixo as flores aos pés da estátua e peço para que Cristo cuide dela assim como ela merece ser cuidada. Assim como eu cuidava.

Olho uma ultima vez para a imagem no outdoor e sigo meu caminho. Sigo com meu peito apertado, mas sigo.

Ando em direção da ponte. A grande ponte da qual ela tanto se orgulhava, pois era o marco de sua cidade natal. Ando e ando... Com pensamentos embaralhados e a vista também.

Chego na ponte... Vejo os poucos carros passando. A esta hora a maioria dos carros não estão na rua, é muito cedo. Pessoas... Não tem pessoas por perto. Vejo uma ou outra, mas elas estão distante.

Sento-me na passagem de pedestres vazia e fico olhando o mar. O mar está bonito, mas escuro por conta do tempo frio.

Então... foi aqui que a perdi. Foi aqui, nessa ponte, o lugar que ela tanto se orgulhava, que minha Amélie se acabou...

O carro no qual ela voltava para casa estava em uma velocidade razoável, mas daí... Aí aquele cachorro atravessou na sua frente e ela teve que desviar. Ela desviou e foi atingida por um grande caminhão que lançou o carro para fora da ponte. Caiu no mar e nele ficou. Foi para o mar que eu a perdi. Maldito caminhão! (As lágrimas saem rapidamente dos meus olhos, não posso mais controlar coisa alguma em mim).

Não seco minhas lágrimas, pois elas nunca vão parar de cair. Seria inútil tentar secá-las.

Ainda tem a marca do estrago que o carro causou na ponte. Eu as toco... As ultimas marcas que ela deixou. Tão forte como só ela costumava deixar. Ela marcava tudo por onde passava. Geralmente eram marcas agradáveis, mas essa da ponte... Não é agradável: é dura e fria.

Deixo a música tocar em alto volume e pego as flores amarelas que ela amava. Sento-me na beirada da ponte. Meu coração acelera... Minha boca adormece... Todo o meu corpo adormece e minha cabeça gira.

Deixo minha bolsa no chão, para que tenham todas as informações que precisarem sobre mim.

Deixei um bilhete para meu irmão, dentro da bolsa:

“Lucas, eu te amo, mas você está longe e tem sua família que também te ama. Perdoe-me, mas Amélie era minha única companheira para todas as horas. Desde que mamãe partiu eu fiquei pela metade e quem se encaixou nessa minha metade foi Amélie. Desculpe-me meu irmão, mas preciso dela. Adeus, Lucas! Um beijo de sua irmã, Lana”.

Não posso mais viver sem ela. Eu aguentei um mês. Um mês de puro vazio, pura agonia e dor. Eu a amo e sem ela eu realmente não estou conseguindo viver. Vou com ela agora. Vou entregar-lhe as flores que ela tanto gosta. Vou abraçá-la novamente, beijá-la. Assim como o mar abraçou profundamente todo o seu ser e sua beleza infinita.

Eu preciso dela! Eu vou morar com Amélie agora.

Por: Bruna Gonçalves. (Escrito em: 04/12/2013).

***************************************************

Obss: Esse conto foi inspirado na música e no Clip da música: "Summertime Sadness- Lana Del Rey".