Insanidade

Olho no espelho. Um reflexo me encara com um olhar severo. Dentes rangendo. Sua feição é assustadora. Um olhar perdido, com lágrimas de loucura se preparando para escorrer. Ele continua a me encarar. Percebo que ele sente-se sufocado. Está oprimido e quer escapar de algo. Seus lábios movimentam-se lentamente. Num rápido movimento um grito mudo sai de sua garganta. Os lábios se abrem violentamente, seu rosto fica vermelho, lágrimas escorrem de seus olhos e suor de sua pele. O grito abafado se transforma em um choro de sofrimento. Tento olhar para aqueles olhos verdes profundos, mas algo úmido atrapalha minha visão. Quero dizer algo para aquele choroso reflexo, mas minha garganta esta doendo. O espelho começa a sair da minha frente e no lugar dele o teto do meu quarto. Em poucos momentos pessoas entram no meu quarto, assustadas, provavelmente ouviram o grito do reflexo. Sinto braços a me amparar, não sei os motivos. De súbito apago e não me lembro de nada. Acordo em um quarto com uma pequena cama branca que tem uma porta simples. Aproximo-me e quando tento abrir a porta minhas mãos estão amarradas para trás por uma espécie de camisa de força. Grito, mas os únicos que podem me ouvir são os vultos que me rodeiam cantando uma canção que não conheço. Peço ajuda a eles, mas sou ignorado e a canção continua cada vez mais alta. Não vejo ninguém, a não ser pelos estranhos de roupa branca que entram e me aplicam algo no braço que afasta os vultos ao meu redor. Ainda não sei o que aconteceu ou onde estou. A única coisa que lembro é de ter me olhado no espelho.

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Henrique Simão de Oliveira

Henrique S de Oliveira
Enviado por Henrique S de Oliveira em 07/12/2013
Reeditado em 20/07/2016
Código do texto: T4601809
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