Doçura

“ Desanuvia, abre a clareira dos porões incendiados, de chama avermelhada, queimando frestas de minha alma, cansada, a debater –se em desatino, refutar, paulatino.

De cegueira comovente, contorcendo em desalento, a um passo de meu próprio abismo, ego de ilusão , força de solidão, quero subir, ascender, mas tenho algo a vencer , meu querer desmedido , conceitos antigos, verdades implantadas, sujeira engasgada, sou meu próprio espelho, não gosto do que vejo, vou mudar a imagem, o reflexo embaçado.

Sou viajante errante, trago no peito o suplante, da dor que me agoniza, e em mim se eterniza , há quanto tempo nem sei .

Já me deparei muitas vezes com esse foco de luz, me aproximo depois fujo, e volto novamente para lá... E depois venho para cá...

Assim nesse vai e vem de rebeldia, que só aumenta a velha agonia.

Mas agora decidi ficar, na doçura do seu olhar levemente a me transportar, por um tempo inconsciente , sentindo leve transtorno, questionamento latente.

Quero encontrar descanso, navegar no remanso, doçura de

sentimentos, que inunda meu mar de tormentos, nunca pensei sentir gratidão por estar sendo vencido , mas é de indescritível doçura esse momento.

Fui e sou livre, Inacreditável, mais os porões em chamas que perpetuei permanência, escolhi!

Agora estou partindo , quero ir , mais uma tentativa, uma oportunidade, quanto trabalho , estou agradecido , e sendo preparado.

É muito iluminado aqui , vejo seus olhos marejados à medida que transporta em letras para o papel , meus sentimentos, pela emoção da percepção dos acontecimentos reais, de um campo invisível aos olhos materiais, apenas sentido ou visto pelos olhos do espírito, é doce esse momento, é doce ver, a felicidade com que todos aqui cada um a seu modo se movimenta no intuito de ajudar.

Estou consciente , esperançoso, sou imensamente grato, vou partir sedento de novo conhecimento, posso avistar novo alvorecer em minha alma, algum prazer, passei por aqui muitas vezes , e não sei quando ou se vou voltar, mas a cada vinda, mesmo que não admitisse, notava que clareava um pouco de mim , estou decidido, viajar nas ondas dessa luz que vejo e sinto e que banha meus instintos, e de mãos dadas com esses senhores , partindo, confiante, agradecido...”

A doçura desse momento

É mais doce que doce de mel

A tortura de muitos tormentos

Suplantado o amargo do fel!

Registro do momento de aceitação de um espírito rebelde, que por muitas vezes, teve oferecido ajuda, mais em total desajuste, afeiçoado e apegado, mesmo consciente de sua condição levou algum tempo para permitir modificações , ajustes esclarecimentos; sempre trazido acompanhado, mas por vontade própria, apenas ouvia e ia embora, aparentemente convicto de suas crenças, adquiridas ainda em vida , período de sua última encarnação , que aliás não era muito recente pois já há muito tempo havia, abandonado seu corpo de carne, e escolhido habitar zonas densas de fogo e calor trabalhando, atendendo favores de outros seres , carentes de evolução tanto quanto ele, e assim a cada tarefa concluída , ganhava pagamentos que lhe ofertavam os encarnados, e crescia também o respeito entre seus companheiros, muito tempo se passou, e já bem considerado, foi designado para mais um trabalho, e com toda sua força foi desempenhar sua tarefa, e o que encontrou o surpreendeu, não era como os outros lugares que habituara encontrar, tentou mesmo assim , mais realmente era diferente, indignou-se pois ainda não havia deixado uma vez que fosse de cumprir o que lhe era pedido, e depois de várias tentativas, recebeu um convite para entrar, devidamente acompanhado, aceitou, assistiu todo o trabalho realizado ali, e depois novamente acompanhado, conduzido até a saída.

Teve problemas com seus companheiros ao retornar, mas por escolha resolveu ficar em silêncio, não compartilhou o que havia acontecido, justificou de forma que ficasse a contento, colocando como ponto de honra o desempenho da tal tarefa, para não perder o respeito de seus amigos, e não perder o pretexto de retornar àquele lugar afinal havia gostado do que havia encontrado, nunca antes em sua lembrança achara algo parecido, e retornou muitas vezes.

Sua situação com seus companheiros estava ficando apertada, suas justificativas não convenciam mais , como não podia deixar de ser , o universo havia aberto uma fresta , para aquele ser escapar de sua prisão, alcançar sua real liberdade , mas agora era chegado o momento da escolha , não podia mais ficar indo para lá e para cá, tinha que escolher, decidir seu caminho, pois não era escravo e sim senhor de si.

Diante da confusão que produziu entre seus companheiros, tinha que fazer alguma coisa , já não queria permanecer ali , queria sair ir embora daquela escuridão que por tanto tempo foi sua casa, seu habitat quase que natural, mas agora, não queria mais, era repugnante estar ali, só pensava naquele lugar onde havia sido acolhido, fora recebido tantas vezes, apesar de tudo, pensava nos seres de luz e leveza, que não levou em consideração o fato de suas reais intenções, na primeira visita feita, oferecendo-lhe o mais puro amor, que agora suplantara a maldade que levou consigo até ali.

E assim decidido, saiu rumo a um novo caminho, não era dia de trabalho aberto, ou o dia e hora que costumava ir mas não ia esperar, iria mesmo assim sua decisão havia sido tomada haveria de ter algum ser iluminado para recebê-lo, esse era seu mais forte pensamento e seguiu, ao chegar foi recebido com surpresa acolhido, novamente.

Com o aprendizado recebido nas visitas que fez por longo período, foi gradativamente ganhando consciência, quebrando as grades invisíveis de sua alma, há muito tempo aprisionada, pelo ego, muito inteligente, porém impulsionado pela falsa ilusão de poder , sentia se forte , e por escolha permanecia no escuro.

Agora encaminhado iniciará nova vida, novo trajeto, terá um tempo de novos aprendizados, acampado em uma colônia espiritual cigana.

Paz, Luz, Fé a todos.

Meu profundo sentimento de gratidão a esta mentora,

Vera Lúcia Pimentel

Marli Rodrigues
Enviado por Marli Rodrigues em 23/12/2013
Reeditado em 29/01/2014
Código do texto: T4623022
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