Reverso ( Parte 2 )

"E assim já esgotado, conformado por ter me tornado "aquilo", sozinho não teria forças para reagir, ficaria ali eternamente fadado a amargar para sempre a própria existência, mas em algum momento que não sei precisar, voltei a ter pensamentos, eram espasmos de memória, lembranças de um tempo que há muito havia se perdido.

Queria te-los a todo instante, afinal para quem estava mergulhado no mais absoluto breu, aqueles instantes que se abriam eram como um passatempo, se pudesse passaria a eternidade na distração dos devaneios, que tais lembranças me traziam.

Mas não era eu quem controlava, não vinha quando eu queria, e quando menos esperava, a lembrança de fatos ocorridos em tempo remoto...

Depois de algum tempo assim nessa condição, eu esperava esses momentos como uma criança que espera ganhar um doce, e muito tempo se passou...

Certa vez, ao rever cenas de felicidade abundante; aquela moça...

Vi logo em seguida imagens de lagrimas, muita dor, separação, desespero era somente meu! Era eu ali!

Aquela moça estava sempre muito tranquila, e distante de mim, logo em seguida pude ver, havia mais alguém, estava muito ligado a ela era muita dor não podia suportar!

Essas imagens que vinham como lembranças persistiram se repetindo até que um dia assustadoramente vi minhas mãos, apertando fortemente o pescoço daquela jovem, meus joelhos em cima de suas mãos espalmadas uma de cada lado, joguei todo o peso do meu corpo em minhas mãos e o resultado foi fatal pois a cena posterior era um corpo estendido e por tempos fiquei ligado a esse acontecimento até que consegui enxergar qual foi meu próximo passo aquele que me levara até ali, que me proporcionara atingir tamanho nível de escuridão antes não havia percebido, só o que percebia era sua falta, era não te-la comigo, e agora tanto tempo depois tinha contato com o que havia feito, com minhas ações e me remoí e chorei, mas a dor de agora era apenas remorso, culpa, era o peso de algo assemelhado à consciência, mas remorso apenas não era suficiente para abrir a fresta, o cubículo, por minúsculo que fosse de luz naquele universo de escuridão individual e particular, a minha cela, a prisão do meu ser em mim mesmo, e demorou até que eu conhecesse ou descobrisse a chave única que poderia me soltar, e esta não estava em lugar palpável não ao alcance de minhas mãos assassinas, estava em lugar intocável , tão perto e tão distante, essa chave era o arrependimento real, sincero e verdadeiro que custou até que eu o encontrasse, o desejo de reparar o mal feito.

Antes na fase do remorso, só sabia me questionar, por que havia feito aquilo ?

O julgamento de que deveria permanecer ali, merecendo tudo aquilo que havia vivido e muito mais, tudo para aliviar a minha culpa.

Mas depois com o arrependimento, se pudesse sair dali...

Se pudesse ter outra chance, pedir perdão...

Se pudesse compensar todo mal que fizera de alguma forma..."

Continua ( Parte 3 )

Marli Rodrigues
Enviado por Marli Rodrigues em 01/01/2014
Reeditado em 10/02/2014
Código do texto: T4632827
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