O homem que permaneceu no anonimato

Clima agradabilíssimo sob uma noite de lua cheia. Era uma avenida movimentada, carro e pessoas indo e vindo a todo instante, menos ele. Não há nada e nem ninguém que promova o encontro de olhares salubres.

Pessoas que, haja tido tempo pouco da vida que se passa a cada dia, jamais encontrei pelo caminho, a não ser hoje, inclusive ele. Alguns viam-no com olhar de piedade, outros de compaixão, conformismo, satisfação. Certas pessoas preferiam expor o seu passado, reafirmando sua obra divina enquanto homem. No entanto ele estava ali paralisado, imóvel. Porque ele não reagia a nada? Nem aos insultos, aos elogios, afagos, apelos, súplicas, orações? Por que permanecia intacto, mudo, às avessas? Será que reavaliava sua vida ou não se importava com o que os outros pensavam?

Haviam poucas pessoas acomodadas em bancos de marfim detalhados em ouro maciço. Nas paredes estavam pregados quadros de Van Gogh, Gustav Klimt, Claude Monet, Marc Chagall e Egon Schiele.

Ao lado de cada banco havia um vaso de cristal com dipladênias, lisianto e zínias - favoritas dele- Numa decoração magnífica, com direito a cafezinho e uma iluminação genial que refletia o ouro nas telas dando mais vida e emoção a quem via. A cerimônia se encerrou e ele permaneceu intacto, todos se foram. Ao despedir-me levanta-se daquele caixão horripilante e pede para que eu divulgue suas fotos, com os dizeres que bem entendesse. Enfim, entrega-me seu aparelho telefônico móvel, deita-se novamente no caixão e, dessa vez descansa em paz.

Pois, não havendo fotos, compartilho o próprio sonho, pois há algum significado oculto sob este homem sem nome, sem paradeiro.

Lilian Pagliuca
Enviado por Lilian Pagliuca em 27/01/2014
Reeditado em 27/01/2014
Código do texto: T4666554
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