O diário de Maria.

Olá amigo.

Ando com medo, pois me vejo muito sozinha- só tenho você, pois os amigos não saem de casa. Eu sei que não sou a única a ter medo e nem a única a se sentir sozinha. Vejo vários- mesmo não vendo ninguém. Até você se sente medroso, que sei.

Estava lendo que, enquanto houver a predominação do medo, todos estarão sós e nada irá mudar. As coisas vão continuar fincadas neste solo duro e sangrento: O sertão da chuva ácida. Loucura, não? Pois é...

Realmente, não sei por onde começar... Varrer aqui dentro ou lá fora? Tem muita sujeira em tudo quanto é lugar. Se pretendo mesmo começar algo sozinha, não posso ser vista como realmente sou. Primeiro, vão abusar da minha disposição; segundo, vão me acusar de ter mania de limpeza e me internarem. Aconteceu algo assim com a minha tia. O povo daqui acostumaram-se com a sujeira... Eles praticamente não à vê.

Preciso mesmo é me mascarar/fantasiar para andar por aí "colocando a mão" nas coisas sem ser identificada. Quero limpar tudo, sabe? Meu irmão me falou que eu preciso andar camuflada- assim como ele precisou andar por um tempo.

Mas eu tomei uma decisão- mais uma, aliás: Vou pegar minha trouxa e sair por aí. Ficar trancada não vai ajudar em nada. O amigo que quiser me seguir, encontrará algumas pistas que deixarei no caminho, para que possamos ir rumo à alguma linha de chegada. Mas o problema é: Sigo que trilha? ...Ah, já sei! Criarei o meu próprio caminho baseando-me nos sinais que a minha avó e o meu avô, deixaram no ar. E assim eu vou... Os outros- meus "camaradas"- farão o mesmo.

O objetivo!(?) Liberdade. O objetivo é aquele de sempre. O de sempre melhorado e, o de sempre piorado. Aquele que não chegou aonde deve chegar (?). Não importa para onde vou, o que importa mesmo é que vou.

Acho que vou dormir, querido diário, pois está tarde e amanhã começo cedo. Espero que em algum dia alguém te leia além de mim- que te escrevo.

Você acha que fui clara? Sim e não. Eu sei... Foi minha intenção, pois não quero que todos saibam do que conto para você. É segredo nosso e dos que souberem te ler.

Boa "digestão", querido diário. Te deixarei na escrivaninha, pois não tenho nada a esconder. Escreverei mais tarde, ou amanhã, quem sabe.

Ass: Maria do João e Maria.

[Bruna Gonçalves].