Nada de bom

Era 14 de julho de 2012, ouvi o sino da igreja badalar, eram exatamente duas horas da madrugada de uma sexta-feira, e há pelo menos uma hora e meia eu estava a tentar escrever sobre você. Gosto de escrever a noite, porque a calmaria causada pelo silêncio da madrugada me faz lembrar seu olhar baixo e sereno.

Mas naquela noite, assim como em todas as outras madrugadas da segunda semana de julho, eu não consegui escrever absolutamente nada.

É totalmente impossível compreender a dificuldade em escrever algo a seu respeito, quando passo o dia todo com você roubando toda minha concentração, por não sair um só minuto do meu pensamento. Penso em como o mundo parece um lugar calmo quando estou descansada no conforto dos teus braços. Como tudo em teu jeito me agrada, e como eu gostaria de roubar a felicidade do mundo inteirinho pra ver um sorriso de canto em seus lábios quando você está se sentindo triste, ou então, poder simplesmente estar ao seu lado sempre que alguma lágrima queira cair dos seus olhos. Eu gostaria de conseguir escrever como minha respiração acelerou, o ar me faltou, e a alma foi deixando aos poucos de fazer parte do meu corpo quando pensei em te perder. Passa um filme com imagens perfeitas em minha mente de como meus olhos buscavam encontrar você desde o dia que em que vi você pela primeira vez, mas apesar de ver perfeitamente, não consigo descrever, descrever o quanto o dia perdia o sentido quando meus olhos não se encontravam com os teus. Eu gostaria de descrever como cada pequena parte do seu corpo parece perfeita aos meus olhos, dos pés à cabeça, literalmente.

Eu só queria escrever sobre você, meu amor. Mas por longas horas o papel permanece em branco bem à minha frente.

Ainda 14 de julho de 2012, agora já era por volta das seis horas da manhã, eu acordava em meio a lápis e canetas, e as folhas já demasiado amassadas, continuavam sem qualquer escrita.

Por volta das dez horas da manhã te encontro, e após algum tempo de conversa, como de praxe, você me pergunta sobre minha escrita, se não comecei ou acabei algum texto. Sem nem mesmo pensar na resposta falo que “até tentei, mas não escrevi nada de bom”.

Depois de ouvir as palavras saírem automaticamente dos meus lábios é que penso no que falei. Por alguns segundos recordo da longa madrugada que tive e de tudo que passou pela minha mente enquanto o papel permanecia em branco bem à minha frente. “Não escrevi nada de bom” essas palavras me torturam, o “nada de bom” não é possível quando o assunto é você.

Me sento no primeiro banco que vejo pela frente, e olho para os lados como se esperasse que de algum lado, algum estranho de olhos serenos pudesse dar uma explicação para a frase “não escrevi nada de bom”. Nada. Ninguém me olha como se tivesse a resposta pra o que eu tanto procurava. Fecho os olhos e abaixo a cabeça. Passo a mão repetidamente sobre o rosto, num ato de nervosismo. Finalmente desisto de procurar por essa resposta.

Ergo o rosto, e quando destapo os olhos, o vento chega suavemente passando por mim como se contasse uma história. Então tudo me parece óbvio: não escrevi nada de bom a seu respeito – e nem nunca conseguirei escrever -, pois nenhuma palavra jamais fará jus a você.

Aline do Amaral
Enviado por Aline do Amaral em 18/04/2014
Reeditado em 01/05/2014
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