DESTINOS TRAÇADOS
Sou um homem de sorte. _ sempre pensei assim. Na minha mocidade conheci Nina que era um doce de mulher. Além de culta e bela, gostava de andar sempre muito bem vestida, por isso era considerada a mulher mais elegante da cidade,
Mas minha sorte, também, era grande no que diz respeito ao meu lado profissional. Sou gerente de uma Multinacional daqui da África do Sul e quando estou de férias levo minha rainha Nina para o Brasil _ nossa terra natal.
Neste ano não será diferente e já comprei as duas passagens – IDA E VOLTA para o VÕO 231 da empresa VAGAX. Não vejo a hora de pisar em terra brasileira e ir para a praia Ilha Bela, considerada uma das mais bonitas do mundo.
Retorno do trabalho nesta noite muito feliz, pois a minha promoção que tanto esperava, havia saído. Abri a porta alegremente chamando minha esposa:
_ Querida, tenho novidades.
_ Que legal meu amor. Eu também tenho que te contar algo.
_ Vamos jantar fora. Rápido vá se aprontar.
O casal saiu. Nesse ínterim o celular de Nina toca. Ela atende. Parecia ser alguém muito íntimo, pois enquanto ela escutava, derramava lágrimas compulsivamente. Parei o carro. Olhei as horas e percebi que já passavam das 22 horas.
_O que aconteceu? _ indaguei, preocupado.
_ Algo muito sério com meu pai, ele era diabético e as tachas estavam altas e...e...ele não aguentou e morreu. O que vou fazer agora? _ Nina soluçava e suas lágrimas eram visíveis. Ela me abraçou e chorou muito.
_ Eu não tive outra alternativa do que voltar para casa e ligar para o aeroporto pedindo para antecipar as passagens com a data marcada para as férias planejada.
Nós nem lembrávamos que tínhamos alguma coisa para comemorar. Arrumei a minha mala e a de Nina _ ela não tinha condições psicológicas para nada. Chamei um táxi e fomos para o aeroporto. Agradeci a Deus por ter conseguido resolver o problema das passagens.
Chegamos exatamente à 10 horas do dia seguinte no aeroporto Galeão.RJ. Nina estava abatida e sem ação, pois também estava cansada e triste.
_ O senhor quer ajuda?
Aquela voz forte até hoje ainda está enraizada nos meus ouvidos.
_Sim. Respondi, prontamente, entregando uma das malas ao homem. Seguimos até o táxi.
Foi então que Nina disse:
_ Eu estou enjoada, meu amor. E vomitou ali mesmo no estacionamento. O motorista, muito educado obsevou a situação e disse:
_ A senhora está grávida?
_Sim, estou e nem tive tempo de contar ao meu marido ontem no jantar, por que meu pai será sepultado hoje e eu vim de muito longe para isso.
Então me recuperei do susto e abracei minha esposa dizendo. Vamos sair daqui. Agora que vou ser papai temos que cuidar de tudo e voltar para casa.
_ Eu sei, mas não quero ver meu pai morto. Eu quero ir para um hotel e só depois é que vou para lá no velório.
_ Vamos para qualquer lugar minha querida _ disse eu _ e a abracei.
O motorista escutou toda a conversa e disse calmamente:
_Não se preocupem. Eu conheço um excelente hotel aqui perto. Levo vocês para lá.
Eu aceitei, pois estava muito cansado.
O táxi se afastou do Aeroporto. Nina se aninhou em meus braços e respirou fundo. Com os olhos fechados fiquei imaginando... como a vida nos prega peças e como minha esposa deveria estar sofrendo com a morte do pai.
Um ruído estranho me sacolejou e ...
_Sai..Sai..Pula para fora já...
_Hen? Que é isso?
_Sai...Sai do carro.
Neste momento minha esposa acordou e gritou:
_O que está acontecendo?
_Calma..Calma.
O motorista estava com uma arma na mão e apontava pra gente.
_ Tá pensando o quê danado? Entregue tudo o que tem.
Saímos do carro. Estávamos em uma estrada deserta. Nenhum sinal de outros carros por ali. O táxi se afastou e ficamos abandonados na estrada. Minha esposa chorava, e soluçando, dizia:
_ O nosso bebê... estou com medo.
Eu comecei a ficar nervoso. Tínhamos que sair dali. Era uma estrada estreita e sem nenhum movimento. Nossas sacolas, malas e tudo mais, havia ficado no carro. Não tínhamos nenhum celular para pedir socorro. Começamos a andar. O sol estava muito quente. O cansaço foi chegando e sentamos em à margem daquela maldita estrada. De repente surgiu uma camioneta. Gritamos, mas ela foi embora bem ligeiro. Caminhamos mais uns três quilômetros e encontramos um carro estacionado.
Pensei. Estamos salvos. Aproximamos e vimos uma das portas aberta e um homem aparentemente morto. Fiquei apavorado. Pensei em correr, mas Nina disse:
_Quem sabe o carro está funcionado? É melhor você fazer alguma coisa para tirar a gente daqui. Nina chorava e estava queimada do sol.
_ E o homem morto?
_ Sei lá! Vamos ver bem direitinho.
Para nossa surpresa aquele homem estava desacordado e isso ficou claro, quando eu o coloquei no banco de trás, pois ele gemeu.
_ Onde estou? Quem são vocês?
_Ei... me dá a chave do carro que eu vou dirigir para sair dessa maldita estrada. Então ele sentou-se e falou:
_Tiraram tudo de mim. Um táxi passou por aqui e recebi um golpe na cabeça , então acho que desmaiei.
_ Meu senhor, ainda bem que está vivo. Como vamos sair daqui? O senhor sabe que estrada é essa?
_Me lembro que meu filho sempre botava a chave reserva dentro do pneu estepe, no porta mala. O porta mala deve estar aberto por que o motorista do tai revirou tudo.
Foi nossa sorte. Abri o porta mala e encontrei a chave.
_Qual é o seu nome? _ perguntei rapidamente já ligando o carro para sairmos daquela situação. Minha esposa estava calada.
_ Sou o Major Andrade. Ai... que dor de cabeça. O senhor pode seguir em frente depois virar a direita e pegar a BR 001 . O senhor quem é? Como vieram parar aqui?
Então contei toda minha trajetória da África até ao Rio. Ficamos sabendo, então, que o mesmo homem do táxi havia assaltado também o Major.
_ Aqui no Rio a violência não dá trégua de jeito nenhum.
_ Vá ensinando o caminho que tenho que ir ao enterro do meu sogro marcado para 18 horas. E minha mulher está grávida precisa descansar.
Enquanto dirigia aquele carro meus pensamentos se misturavam. Como recuperar meus documentos? E a bagagem? Todo meu dinheiro estava lá.
_ Amor... quem sabe o Major pode nos ajudar?
_Farei isso minha senhora. Vamos para o departamento de polícia e lá resolveremos tudo.
Quando, chegamos ao referido departamento, fiquei mais calmo. Serviram café. Já passavam das 16 horas. O major ofereceu o telefone para nos comunicar com a família de Nina. Sua irmã foi nos buscar. Então ela ficou sabendo de tudo o que nos aconteceu.
Durante o trajeto ela – a irmã – contou que havia se casado em segredo e quando seu pai soube, teve um ataque cardíaco, que se complicou por causa da diabete.
A vida é assim mesmo _ pensei com meus botões _ eu nem tive oportunidade de falar com Nina sobre a promoção.
_ Vou apresentar o meu marido quando chegarmos em casa. O velório está sendo na Capela Dom Bosco, no mesmo bairro, onde moramos. Lembra da capela maninha?
_ Tudo bem, mas você tem que me emprestar uma roupa bem larguinha porque você vai ser titia...
_ Oh ! que maravilha, mesmo no meio da tristeza tem notícia boa. Ah, por falar nisso meu marido é um gato.
Chegamos. Minha cunhada estacionou o carro no jardim. Eu fiquei aliviado.
_ Amor! Querido? Venha conhecer minha irmã Nina e seu esposo.
Vi um vulto se aproximando da gente. Estava de boné. Eu nem prestei muita atenção _ meus olhos estavam ardendo. Então me lembrei do colírio que ficara na mala do táxi, foi quando ouvi a voz:
_Boa tarde. Fizeram uma viagem longa, não é?
A voz forte não era estranha. Virei-me. O homem que estava ali não era miragem, mas o motorista que nos assaltou. Apertei a mão de minha esposa que estava com os olhos esbugalhados de surpresa.
Saímos correndo. Minha cunhada nunca entendeu nossa fuga.