O Caderno

Existe algo mais generoso que um caderno? Eu sinceramente acho que não.

O caderno aguenta tudo! Primeiro, ele chega limpo, todo engomado, boa aparência, sem pecados. Suas folhas branquinhas são o oferecimento de tudo o que tem: espaço, paciência, durabilidade, lealdade às palavras,

e vida.

O pobre caderno dedica sua vida à ouvir as histórias dos outros, as chatices, as confissões, a matéria da aula que será esquecida... Esquecida pelo indivíduo, pois pelo caderno, nunca! Ah, esse guarda tudo, não esquece de nada. Quando o indivíduo quer apagar do caderno aquilo que lhe foi confesso, é em vão. O caderno nunca apaga, guarda até o que lhe foi tirado. Como ele faz isso? Não sei, deve ser coisa de caderno mesmo.

Cadernos... Eles devem ser mais valorizados! Devem ser amados e não simplesmente usados. Deve-se abrir uma exceção na frase: "objetos foram feitos para serem usados". Mas, o caderno não é um simples objeto qualquer, ele é: um caderno. Também é digno de amor, pois faz papel de amigo melhor que muitos amigos por ai. Que culpa o pobre tem se não é bom em conselhos como um livro? Nenhuma, oras!

Ao contrario do livro, o caderno dá liberdade, ele te dá espaço para a criatividade... Que maravilha é essa tal de criatividade, meu Deus! E as linhas?... Tão retinhas, tão fininhas... Mas, nem sempre é preciso ter linhas, às vezes o caderno é completamente branco, como leite, como neve. Tão puro, como sorriso de neném.

Enquanto isso, o livro, apesar de ser ótimo em conselhos, em ensinamentos e em tantas outras coisas, ele não te dá espaço. O livro, fala, fala, fala... Te faz ouvir até sua ultima palavra e não quer nem saber da conclusão final do leitor: ele tem a própria! Se não tem, fica por isso mesmo. Um livro não discute, ele impõe e proto.

Um caderno pode ter uma vida longa. Mesmo quando seu dono já não faz mais parte deste mundo, ele, se bem cuidado, bem acomodado, permanece em plena existência.

O maior desejo de todos os cadernos é ser completamente preenchido por boas palavras, boas ilustrações, algumas colagens... Ele adora ser útil! Se torna extasiado quando sente que uma boa mão, que carrega um lápis ou uma caneta, se arrasta por entre suas páginas.

Quando um caderno já está completamente preenchido e não há mais espaço nele, não quer dizer que esse valioso objeto tenha esgotado suas utilidades. De modo algum! É ai que entra a outra fase: a etapa de transmitir, de passar adiante. Nesta fase, como se fosse um livro, o caderno transmite tudo o que lhe foi gravado. E depois de ter doado cada canto de si, ele passa a ensinar, contar histórias, oferecer poesias com ilustres ilustrações e, permitir que quem atravesse por suas páginas, tenha uma fantástica viagem.

Um caderno nunca está vazio, mesmo quando não tem nada, ele está cheio, cheio de espaço sendo oferecido. O caderno é divino, é bonito, cheiroso... Mas, ele é, acima de tudo, um objeto generoso.