Memória

E enquanto arrumava seu quarto (aquilo era sempre uma bagunça), ela foi percebendo que havia potinhos por todos os cantos. Ela não sabia de onde eles tinham vindo, e não fazia ideia de onde colocá-los. E o pior: ela não sabia o que havia dentro deles. Ela algo como uma névoa brilhante, que cintilava como madrepérola. E em cada potinho, havia uma fita colorida.

Havia potinhos em todos os lugares e móveis daquele quarto. Por muito tempo ela ficou pensando em como eles foram parar ali. Até que resolveu abrir um deles.

No mesmo instante, a névoa saiu, e se fez imagem e som. E ali, ela viu seu amado dando-lhe um abraço, e sussurando-lhe em seu ouvido "Amo-te muito". E então a névoa voltou para dentro do pote, esperando para que este fosse fechado.

"Então - pensou ela - tudo isso são memórias? Mas... como...?"

Ela começou a juntar todos os potinhos. Depois, colocou-os em cima da cama e sentou-se. "Devo eu abrir e checar todos eles?" A vontade era grande! Seriam aquelas memórias gerais, ou apenas as com seu amado? Ou seriam, ainda, memórias aleatóriamente guardadas? Ou... talvez... somente as que ela considerava muito especiais...? Com um suspiro, abriu outra, e eis que, da mesma forma da primeira, a névoa saiu e fez-se imagem e som. E nela, o casal abraçado partilhava um cobertor e um filme. Mais uma vez a memória guardou-se.

Em alguns potinhos, havia somente som, - como o que de repente começou a tocar uma música especial - e em outros, somente imagem - como uma cena num gramado, com o céu azul, pontilhado de pequenas nuvens brancas. Mas todos eles eram, de alguma forma, especiais.

Havia potinhos com momentos hilários, como o dia em que ele a jogou no chão e começou a fazer-lhe cócegas, e momentos sérios, como o dia em que cada um deles compartilhou um pouco de suas vidas. Também havia momentos que foram divididos com seus amigos, e momentos que eram somente dela. Contudo, em todos eles havia algo em comum. A presença dele. A presença de seu amado. Mesmo que ele estivesse longe, havia um pedacinho dele com ela, onde quer que ela estivesse.

Sim. Aquelas eram memórias especiais. Memórias que ela jurou nunca esquecer.

"Ah... aquela estrela danada! Eu realmente não imaginei que ela fosse atender meu pedido!"

Com um sorriso no rosto, ela sentou-se na sacada e voltou seus olhos ao longe. Sim... ela estava feliz. Suas memórias mais especiais eram doces como a brisa da noite, suaves e boas de se guardar. Com o coração mais leve, ela voltou ao seu quarto e guardou todos os potinhos em uma gaveta. Ela sabia que, mesmo que os potinhos algum dia se perdessem ou se quebrassem, as memórias estariam dentro dela, para sempre. E mesmo que, algum dia, ela ficasse velha e as esquecesse, seu amado estaria ao seu lado. E juntos eles fariam mais lembranças, até que, no fim, eles não precisassem mais delas.

Bekah
Enviado por Bekah em 27/07/2014
Código do texto: T4898893
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