Tarde de setembro

O rádio tocava pela a cozinha a fora em uma tarde de setembro. Mariana parou de varrer a casa por um minuto para ouvir uma canção que ela amava de coração. Era a canção "Sozinho" de Caetano Veloso. Não era uma canção qualquer, ela tinha um significado para Mariana. Toda vez que ela ouvia esta mesma canção, os seus olhos se enchiam de lagrimas dolorosas. O motivo ninguém mais poderia saber, ficaria guardado em seu coração. Este motivo não era abstrato, e sim físico, ou melhor era um rapaz belo que Mariana tinha conhecido em sua mocidade. O rapaz tocava violão, e sempre cantava esta música para Mariana. O rapaz sentia que era segunda opção de Mariana, e parece que já imaginava o que o futuro lhe aguardava. Mariana deixou este rapaz para casar com um homem mais velho e cheio de terras pela a região. O rapaz ao saber do casamento da sua amada, acabou se jogando de uma ponte. Ele não sabia nadar e acabou morrendo, porque não queria ver a sua amada se casando por dinheiro e não por amor. Sempre quando ele cantava esta música para ela, Mariana achava graça e dizia que nunca o iria deixa-lo sozinho porque o amava e ninguém mais. Hoje, quando ela ouvia esta mesma canção, não achava graça, apenas chorava baixinho. Já fazia sete anos que o rapaz havia morrido e ela era casada com este agora. Não tinha filhos e se sentia infeliz em seu casamento. Quando ouviu o barulho do carro de seu marido, enxugou as lagrimas e continuou a varrer a casa. Ele entrou em casa, desligou o rádio na hora e disse em tom irônico:

-Ouvindo modinha em vez de varrer a casa?

-Eu só estava ouvindo uma canção.

-Pois mulher minha não escuta canção! E sim trabalha!

Ele pegou o rádio, o jogou no chão, e este ficou em pedaços. Ele sorriu e disse a sua mulher:

-Não quero ouvir um pio seu! Vou dar uma olhada no meu futebol.

Ele foi ver o futebol na televisão, e Mariana foi para o quintal e ficou chorando baixinho junto com as galinhas no galinheiro. E continuou sendo assim, as suas tardes eram tristes e ela ficava sozinha chorando,não tinha mais o companheiro, o rádio, e enxugava as lagrimas toda vez que o seu marido chegava do trabalho. O tempo passou e foi se definhando aos poucos, e acabou morrendo em uma outra tarde de setembro.

Janaina Caixeta
Enviado por Janaina Caixeta em 02/08/2014
Reeditado em 02/08/2014
Código do texto: T4906560
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