DIÁRIO DE UM BLEFE - PARTE 1

Todos na vida influenciamos e somos influenciados de forma positiva ou negativa a vida daqueles com quem nos encontramos. Essas questões me instigam, me intrigam e me remetem a inúmeras outras questões direcionadas sempre a um mesmo prisma: como seria a vida se não conhecêssemos determinadas pessoas que (por acaso?) cruzamos nosso caminho aos delas? Se o pêndulo pesou mais para um dos polos, eu juro que ainda tenho dúvidas para qual deles foi, depois que conheci o homem que mudaria por completo tanto o curso da minha vida, quanto o sentido da mesma. Bom, vou contar como essa história de amor e paixão começou.

Eu era bem mais jovem, beirava os meus 30 anos, era mãe solo fazia uns dois anos e era bonita também. Há quem diga que ainda tenho meus encantos mesmo tendo se passado dez anos, mas naquela época... Ah, naquela época eu encantava os homens. Como não deu certo o meu relacionamento com o pai do meu filho, eu optei por cria-lo, sozinha. Ainda penso como a dez anos atrás, em que preferia ficar só e educar meu filho do meu jeito, do que simplesmente incumbir esta árdua tarefa a terceiros, principalmente aos meus pais. Tinha largado a faculdade de psicologia no quinto período, então já tinha um pouco de noção acerca da Psicologia da Personalidade e aprendido que a personalidade de um indivíduo é formada principalmente nos cinco primeiros anos de vida. Como eu não ia participar disso? Como na época fiquei sem muita opção, resolvi eu mesma encarar tudo sozinha e isso me custou abrir mão de muitas coisas nas quais estava acostumada a fazer antes.

Na época eu trabalhava como auxiliar de telemarketing em uma conceituada empresa e minha escala não era apertada, oque permitia compartilhar bons momentos do meu tempo com o meu filho, cuidar das demandas da casa e ter um pouco de lazer, quando dava. Vi-me abrindo mão de um sonho inacabado para dar prosseguimento ao prioritário que era cuidar e educar o meu filho. E foi a partir desta decisão que conheci Henrique Ricardo em um site de jogos de cartas. Meu filho era inteiramente dependente apenas de mim e com isso eu passava muito tempo dentro de casa. Eu senti que precisava urgente de um entretenimento e me relacionar com outras pessoas que estivesse “fora do meu ambiente”.

Para passar o meu tempo com alguma diversão em casa e estando sem muitas companhias, busquei um site de jogos de cartas. Depois de jogar mais de um ano neste site, me tornei uma das melhores jogadoras mulheres do site, segundo o ranking do mesmo. Eu conhecia Henrique Ricardo só de nome, que aliás, assim como o meu, não eram os nossos nomes verdadeiros, mas sim Nicks com pseudônimos. Apesar de não ter entrado neste site com o propósito de buscar um relacionamento amoroso ou algo do tipo, Henrique me atraía por seu ar misterioso. Ele era o primeiro do site em todas as estatísticas, subiu muito rápido em tão pouco tempo, jogava de uma forma como nenhum outro com quem eu tinha jogado e muito pouco se sabia sobre ele. Ele não era como os outros bons jogadores que se achavam e ficavam entrando e saindo de confusão o tempo inteiro. Henrique era discreto, era o melhor e nenhum dos outros bons jogadores do site duvidada disso, a não ser claro, os invejosos.

Mais de um ano jogando naquele site, de repente meu caminho começou a cruzar com o dele, ou seja, caíamos juntos em mesas virtuais para jogarmos juntos (em parceria) ou contra (como adversários). Até que um dia caímos para jogar contra em uma mesa e gentilmente ele começou a elogiar o sorriso de uma jogadora que por coincidência também era minha amiga do site. Então naquele momento eu não resisti e enviei-lhe um convite de solicitação de amizade. Eu na época não usava minha foto, pois eu achava que a aparência influenciava o desempenho daqueles que viriam a ser meus parceiros. Ele aceitou meu convite, mas nada aconteceu entre nós, pelo contrário ele ficou aproximadamente cinco meses sumido do site, praticamente após termos ficado “amigos”. Eu permaneci no site, estava viciada em fazer ranqueadas, além do que era um dos meus poucos passatempos favoritos.

Depois de uns cinco meses aproximadamente após termos nos adicionado naquele site, eu vi Henrique “on” na minha lista de amigos e tomei a iniciativa de puxar uma conversa. Foi algo bem formal do tipo: “Poxa, seja bem vindo de volta ao site”, “boa sorte” e tal. Ele foi super educado e bem sucinto também. Até que um dia eu resolvi fazer uma ranqueada juntamente com ele, ou melhor, disputando o pódio do ranking contra ele. E aconteceu algo que nem eu esperava, eu consegui ganhar dele naquela semana. Mas não foi só isso que chamou a atenção dele para mim, mas outra coisa também. A foto que mudei... Coloquei uma foto minha que ficou no pódio do ranking do site durante uma semana, pois assim era o procedimento para os ganhadores da semana e era visualizada por todos que acessavam o site. Naquela mesma semana, sem eu esperar, Henrique através do chat privado, me elogiou por ter ganhado o troféu do maior torneio do site, que é formado por 128 jogadores e sendo assim, composto por seis rodadas. Fiquei super sem reação e abobada também, pois receber um elogio do primeiro melhor jogador do site não era pra qualquer um mesmo. Para quem não se encanta pela arte de combinar cartas, certamente não acha isso nada demais, mas para quem leva isso à sério como eu levava na época, era motivo de me sentir orgulhosa. Depois deste momento começamos a entrar nos mesmo torneios e assim a jogarmos mais, e assim começamos a conversar mais também... Primeiramente os assuntos eram sobre jogos, claro, e depois fui conhecendo mais daquela pessoa tão misteriosa para mim e para muitos ali.

Descobri uma pessoa muito diferente da que muitos (principalmente as mulheres) pensavam que ele era. Algumas jogadoras especulavam que ele era rico, pois usava como avatar a foto de uma Ferrari vermelha e nunca colava uma foto dele mesmo. Como mencionei anteriormente, era sempre muito educado com todos, fazia o tipo galanteador, tinha uma escrita perfeita e sempre muito, mas muito reservado nas conversas. Por fim, durante as nossas conversas fomos ambos aos poucos nos abrindo um para o outro. Ele tinha um negócio próprio com um amigo que era sócio, mas não era rico. Não era bonitão e nem lindo, a beleza de Henrique era uma garra e uma determinação inata para terminar tudo que se dispusesse a fazer. Inclusive, essa força de vontade se confundia muitas vezes com teimosia, já que ele era um inconfundível taurino. Era muito educado realmente, mas tinha uma personalidade muito forte que fui descobrindo com o passar do tempo.

Henrique era o tipo de pessoa que sabendo “levar”, conseguia-se tirar dele até as roupas do corpo, mas era preciso saber como falar com ele. Por conta desse jeito dele é que ele fôra exonerado de um cargo público em que trabalhava. Muito contrariado com muitas coisas, certo dia resolveu não ir mais trabalhar. A partir daí foi que ele montou o negócio com seu amigo, mas as coisas já não estavam indo mais tão bem. No momento em que eu o conheci ele estava prestando prova para alguns concursos públicos e organizava eventos de campeonatos de buraco em sua Cidade que aliás, ficava bem longe de onde eu residia na época. Ele era do Município de Macaé e eu morava na área do Recreio no Município do Rio de Janeiro. Ele tinha duas filhas, era divorciado e morava com sua mãe. Era dez anos mais velho que eu, tinha 39 anos no momento em que eu o conheci e tinha uma namorada, mas as coisas não iam nada bem também nesta área de sua vida... De início ele me evitou bastante, hesitava muito uma melhor aproximação e expor sua vida para mim. Mas com jeitinho e tempo fiz com que ele se abrisse completamente comigo.

Sua namorada tinha uma doença grave, ele a ajudava muito e já estavam juntos há quatro anos. Depois que eu soube disso, imediatamente dei um tempo, pois queria me afastar dele. Parei de conversar com ele, pois nunca admiti me envolver com homens comprometidos, sendo casados ou não. Mas, nos dias em que eu não o procurava, ele puxava assunto comigo, e de certa forma, passou a desabafar e a confessar os seus problemas mais tensos para mim. E dessa forma eu não via mal nenhum em ouvir o desabafo de um homem que se sentia sobrecarregado e que só queria falar para alguém o que não demonstrava para ninguém mais. Até mesmo porque, ele pensava que precisava manter uma aparência forte por fora, mesmo que por dentro estivesse desmoronando. E através de cada palavra que ele dizia, eu sentia essa espécie de implosão no interior dele.

E foi assim dessa forma e nesta amizade que se passaram mais três meses. Eu não gostava de jogar com minhas fotos, mas quando estava com ele gostava de colocá-las, e ele sutilmente sempre me elogiava. Até que uma vez desabafou que não mantinha relações com sua namorada fazia uns seis meses. Ela não queria, reclamava de dores, se rejeitava e o rejeitava juntamente com ela. Mas, Henrique era muito paciente com ela e a respeitava muito. Estávamos jogando juntos já há três meses e muitos do site até pensavam que éramos namorados ou um casal, mas éramos somente parceiros de jogo. Até aquele momento pelo menos...

Passados mais dois meses Henrique mencionou que havia dado um tempo no relacionamento com Dalila, pois as brigas diárias entre os dois estavam se tornando insuportáveis cada vez mais. Sua doença e estado clínico a deixou insegura e paranoica em relação a muitas coisas, motivos estes que muitas vezes a levava a brigar por nada. Segundo ele relatava, ela começou a beber mais e seu estado de humor ia de super agressiva à muito deprimida. Estava cada dia ficando mais difícil encontrar a mulher doce e amável com a qual ele tinha se encantado um dia. Suas crises de choro aumentavam a cada dia que se passava, e segundo ele, ela não aceitava o consolo dele. Mas confesso que até aquela altura da história, eu já tinha observado que ele também não tinha o perfil de um homem que gostasse muito de “melar” um relacionamento. Mas parecia ser um homem muito responsável em todos os compromissos que assumia, sempre procurando fazer o que achava ser certo. Tenho certeza que ele jamais deixaria aquela mulher e me conhecendo do jeito que me conheço, eu também seria incapaz de investir para tirá-lo dela.

Durante esse curtíssimo espaço de tempo que eles se separaram, ele me convidou para conhecer um dos lugares que ele frequentava e eu já confiando nele, naquela altura da história fui. Lembro-me como se fosse hoje aquele dia. Era por volta das 18:00 h da noite quando ele me pegou em frente ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói e me levou a um prédio. Por fora era um prédio super normal, de uma rua normal, a qual eu não saberia ir lá sozinha, pois com os vidros escuros de seu carro, eu pouco enxergava com clareza os detalhes do lugar.

Descemos do carro e depois de nos identificarmos na recepção, acionamos o elevador e subimos até o sexto andar. Na porta, um homem o reconheceu e disse:

- Acompanhado hoje, Sr. Ricardo?

E ele respondeu:

- Este é o meu anjo da sorte.

- É um anjo com certeza, mas certamente a sorte dela é o senhor.

Eu sabia que Henrique era um homem de sorte sim, mas possuía também muita experiência e técnicas nos jogos que eu jogava com ele, tais como buraco, tranca, truco e vários outros jogos de cartas que se possa imaginar. Mas, tinha um que eu conhecia muito basicamente as regras, nunca havia jogado antes e não imaginava que Henrique jogava do jeito que jogou naquele lugar. Era pôquer que eu iria ver Henrique jogando naquela noite. Ao entrar, era um lugar não muito requintado, como os que eu estava acostumada a ver nos filmes, mas era muito confortável e sem dúvida com uma decoração de muito bom gosto.

Naquela noite Henrique saiu dali com uma quantia considerável de dinheiro. E eu disse:

- Não sabia desse seu lado.

E ele me explicou que morou um tempo no Texas, Estados Unidos, com um tio seu, e lá aprendeu tudo o que precisava aprender sobre pôquer. Retornou porque seu tio era um jogador compulsivo e impulsivo apesar de ser muito bom, mas aliou dois componentes perigosos que foram bebidas e jogos. Perdeu praticamente tudo que ganhou durante uma vida de sanidade. Não tinha aceitado a morte de sua mulher diagnosticada com câncer.

Já era 01:00 hora da manhã e ele me perguntou:

- Se incomoda se passarmos esta noite em um hotel?

Eu já imaginava algo do tipo por estamos tão longe de nossas residências. Tinha deixado meu filho aos cuidados de minha mãe e apenas tive que ligar para ela, avisando que não iria para casa naquela noite. Minha mãe conhecia como eu era e por ser bem tranquila e caseira sabia onde eu pisava. Mas, naquele terreno ali eu não pisava tão firme assim. Esperava ter sorte da minha intuição estar certa e daquele homem que eu via pela primeira vez, ser tudo o que ele tinha dito ser. Eu me aventurei naquela noite, eu confesso...

Naquela noite pousamos então em um hotel, tomamos uma ducha separadamente, assistimos um pouco de TV, conversamos um pouco mais e me virei para o lado de fora da cama para pegar no sono. O que não seria muito difícil para mim àquela altura do dia, pois estava cansada. Ele continuou vendo TV e vi quando a desligou. Percebi que ele estava um pouco inquieto, se remexendo muito como alguém que queria fazer algo, mas estava inseguro. Foi então quando de repente senti que virou o seu corpo em direção ao meu, e de forma leve e lenta enroscou as pontas dos meus cabelos nos dedos de sua mão. Disse que eu era linda e não entendia como uma mulher como eu podia estar sozinha, sem um homem que me amasse. Aprofundou a mão nos meus cabelos até que chegasse em minha nuca e delicadamente massageou o meu pescoço. Eu senti o sangue esquentar e arrepios pela a extensão de todo o meu corpo, que indicava serem sinais de que eu estava extremamente vulnerável a ele. Então ele pediu que eu virasse para ele e vagarosamente eu o fiz. Ele me olhou por um instante nos olhos como se pedisse permissão para beijar-me e eu com o olhar consenti. Então ele me beijou delicado, mas intensamente. Nossos corpos rapidamente se encaixavam, parecia que já tínhamos tido alguma intimidade anteriormente, pois nos percorríamos como se já soubéssemos o caminho do prazer um do outro. Apesar da abstinência sexual tanto dele quanto a minha, não nos apressamos em nada, tudo foi bem devagar e intensamente saboreado. Na hora eu não pensei em culpa, consciência, apenas queria satisfazer aquele homem que eu já admirava e me permiti satisfazer também. Depois de muitos carinhos e poucas palavras, pegamos no sono nos braços um do outro e foi uma das melhores noites da minha vida até o dia de hoje.

Acordamos cedo na manhã seguinte, sorrimos, não nos privamos de mais mimos, fizemos o desjejum, conversamos um pouco mais e ele pediu que me deixasse em casa. Eu neguei, pois sabia que ele faria uma longa viagem. Por muita insistência da minha parte, ele me deixou no Centro da Cidade do RJ, e assim seguiu o seu caminho rumo à Macaé.