O cavaleiro desconhecido

A verdade que me cega é a dura realidade que me sega, espalha-me e junta-me em pequenos maços. Visto uma armadura de cavaleiro que não me serve.

Todavia ponho-me a enfrentar dragões de sete cabeças que cospem fogo. Monto um cavalo que não sei o nome, mas me leva até lá.

No peito, do lado de fora da armadura, medalhas; mas nada fiz para obter tais honrarias; se fiz não me lembro. No peito, lado de dentro da carne, uma chama que não sei bem ao certo de onde veio, mas que queimava mais forte do que qualquer outra chama que já havia visto.

Na mão direita uma lança brilhante, que alguém me deu.

Ouvi alguém me chamar. Ouvi um nome que não era o meu, entretanto, tendo em vista todos os olhares em minha direção, entendi ser comigo. Diziam eles:

– Vença-o!

Em meio à confusão, correu em minha direção um mensageiro vindo de não sei onde, com uma carta de um rei de nome nunca antes ouvido.

Logo vi que a carta era endereçada ao nome pelo qual todos me chamavam.

“Bom, deve ser comigo”, pensei.

Ordens diretas do rei “fulano” era que eu atacasse terrível mostro.

A multidão já inflamada gritava o nome desconhecido. E eu sentia o peito queimar!

“É comigo”, voltei a pensar. “Sou eu!”

Juntei a lança pela mão, firmei-me sobre meu cavalo encarei a besta fera, e com um grito, tal qual o grito dos grandes guerreiros, parti para cima do dragão que àquela altura mais me parecia uma lagartixa. Saltei gritando e com um golpe a feri no coração.

Com toda a força, que meu braço já pudera ter, cravei minha lança até vê-lo imóvel.

– Ele venceu!! – gritava a multidão ensandecida.

Pegaram-me no colo, levantaram-me, fui ovacionado por onde a comitiva comigo nos braços passava. Eu sorria que o rosto me doía...

Quem me via disse mais tarde que meus olhos brilhavam como tochas.

Levaram-me a uma varanda e com honras dadas somente aos da realeza, tocaram clarins em minha homenagem. E um coro cantou o nome desconhecido. Um rei me condecorou chamando por Valioso guerreiro, mas usou o nome desconhecido. Olhei para a faixa que me deram uma faixa e o nome nela não era o meu.

E todos gritavam “Vivas!” E em seguida gritaram o nome que não era o meu. E de repente o sorriso foi me deixando, a chama em meu peito apagou-se com um simples “puff”. Olhei pro cavalo. Não o conhecia; as pessoas que gritavam, nunca as vira. O rei, nem sei se realmente o era.

Em meu peito medalhas por bravura que nem sei como se deram.

E foi assim que desci do palco sem que ninguém percebesse, deixei pelo caminho a armadura, que não era minha, abandonei o cavalo que nunca tinha visto; joguei a lança longe.

Nada era meu, nada era eu.

A mim, interessam apenas viver minhas batalhas, usar minha lança, cavalgar meu cavalo e ser o que for meu.

Matheus Medeiros

Matheus Medeiros
Enviado por Matheus Medeiros em 26/08/2014
Reeditado em 29/09/2014
Código do texto: T4937111
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