Espionagens e zelos maternos
Jorge Luiz da Silva Alves
Uma burguesona sem charme nenhum, e indiscreta que só: junto com as referências de hábito, vieram também as inconfidências sobre o habitat, fauna e flora dos indicantes ao serviço que aparentava ser de excelente monta: casal de investidores bem sucedidos, famosos no mercado por adquirir e retalhar empresas naufragadas nas inseguras lidas da especulação financeira, queriam saber detalhes sobre os passos da filha patricinha, pois nos últimos dias, um sem número de amigos mal encarados e fedorentos da Cruzada São Sebastião aparecera no condomínio exclusivíssimo que residiam junto a uma súcia de peralvilhos empoados e perfumados. Com o aval do sempre ausente 'marido', detalhara as pirraças da moça contra a preocupada e constante indagação de uma zelosa mãe; sempre fechada aos anseios e ansiedades maternas, a jovem resolvera posar de ostra, pelo visto, por longa temporada, enquanto aqueles seres mais escurinhos transitavam, pútridos, pelos imensos cômodos do casaraço arrebatado ao mar, à mata nativa e ao contribuinte, espoliado de seus zinco ante os tratores da elite mal-bem relacionada na magistratura citadina. E a estocada decisiva, típica de Corleônicos hollywoodianos, ao apresentar as estrelas ilimitadas dum intimidante cartão internacional, tipo proposta irrecusável.
Quinze anos aposentado da Civil por conta de um projétil inoperável na cabeça, mas com os miolos rápidos nos vereditos e soluções de muitos casos escabrosos no cenário investigativo carioca, Ludovico Aryosto Spínolla sacudiu a basta cabeleira grisalha e, virando o conhaque - seu e o da rotunda e faisônica querelante - dispensou-a do que poderia ser uma rendosa vigilância, mas incrivelmente enfadonha e perniciosa como capítulo profissional, num esgar de soberania absoluta de seus parcos mas retos poderes:
- Minha senhora, não precisa de um detetive particular para isso: economize a grana e cheque o Facebook.
http://www.jorgeluiz.prosaeverso.net
Jorge Luiz da Silva Alves
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Quinze anos aposentado da Civil por conta de um projétil inoperável na cabeça, mas com os miolos rápidos nos vereditos e soluções de muitos casos escabrosos no cenário investigativo carioca, Ludovico Aryosto Spínolla sacudiu a basta cabeleira grisalha e, virando o conhaque - seu e o da rotunda e faisônica querelante - dispensou-a do que poderia ser uma rendosa vigilância, mas incrivelmente enfadonha e perniciosa como capítulo profissional, num esgar de soberania absoluta de seus parcos mas retos poderes:
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