Marina menina Mulher...

O chão rangia sob o peso de seus pequenos e delicados pés.

A louça suja na pia, indicava que a noite fora das mais alegres. Muita gente, música, bate papo e depois...A solidão.

Amarga a solidão que fica quando perdemos alguém importante e não sabemos. Pois é. A dela era a pior.

Solidão em meio a muitas pessoas.

Sabia que era sua obrigação lavar aquela louça e arrumar aquela bagunça.

_ Nossa, que gente bagunceira! Depois dizem que criança é bagunceira!

Isso mesmo, tinha apenas doze anos de idade. Não tinha mais pais a quem pudesse recorrer. Morava na casa de uma parente que a “acolheu”. Pobrezinha!!! Até hoje não tinha ouvido da boca dela, seu próprio nome. Era Menina pra lá, menina pra cá... e o nome da tia só sabia das correspondências .

Depois de lavar a louça varreria a casa e limparia tudo muito bem limpinho.Tinha que encerar a casa pois o chão era de madeira. Ficava lindo! Até que não era ruim. O pior era lavar o banheiro. Argh! Era horrível. Parece que este povo faz xixi no chão.

Era melhor parar de resmungar e cuidar logo, porque senão ia perder a aula de novo. Aliás, a professora falou que se ela não parasse de faltar, nunca passaria de ano.

Até que gostava de estudar, mas não tinha tempo. Da última vês que foi pra escola e deixou de fazer uma tarefa foi muito ruim. A “tia” como a chamava, deu-lhe uma surra que ficou tudo dolorido. Sentara-se de lado na escola dizendo que estava com um tumor no bumbum.

Aprendera a lição que interessa: Primeiro as tarefas de casa.

_ Pobre não chega a lugar nenhum mesmo! Pra que estudar?

A tia até que era boazinha. Deixava-a comer o que quisesse. A geladeira estava sempre cheia. Isso era muito bom. Levava lanche pra escola e a tia sempre ia nas reuniões de pais. Ainda bem que ela não dava motivos pra queixas. Só as faltas, mas ela sabia porque, e a alertava para se apressar.

Nunca via a tia na parte da manhã. Ela dormia muito, depois das festas. Parecia cansada. Não a incomodava. Tinha medo. Sempre limpava o quarto dela depois da escola. Acho que ela preferia assim. Um dia fora limpar sem fazer barulho e encontrava umas bolas soprar esquisitas. Umas estavam sujas de um negócio esquisito. Quando ela acordou e viu a menina brincando de encher as bolinhas, quase surtou. Foi uma loucura e até hoje ela não enche mais bolinhas de soprar. Credo, vai que a tia fica sabendo. Apanhou tanto na boca que aprendeu a lição.

A escola até que estava legal hoje, seus colegas a procuraram pra que ela ensinasse a matéria nova de matemática. Foi um show. A língua Portuguesa era de amargar. Ela, um tanto caipira, não sabia falar direito e se enrolava toda na linguagem. Mas conseguia índice bom, estudando muito. Mas, Matemática era a melhor matéria pra ela. Sabia, porque sabia simplesmente. Parecia que nascera junto com os números. Aprendia na hora tudo o que lhes ensinavam.

Ajudava os colegas na Matemática e eles, em troca, lhe ajudavam com as matérias quando precisava faltar.

Resolvera que passaria de ano. Queria ser doutora. Seja de que tipo fosse. Ainda não decidira, mas teria um diploma. Seria alguém e provaria a tia que pobre podia ser alguém sim.

Andando em direção a escola, pensava sobre sua vida e encontrava-se com seus colegas. Juntos seguiam para lá. Era assim sua vida todos os dias.

Mas faria valer a pena, cada banheiro lavado, cada louça lavada e casa limpa. Seus pais teriam orgulho dela.

E um dia alguém ira ler em uma porta num futuro, bem próximo: _ Doutora Marina.

Só este sonho fazia com que ela lutasse com muita garra.

Marina já ouviu dizer que existia uma lei, feita por um deputado qualquer que falava a respeito da palmada. Mas não fazia valer seus direitos. Tinha medo da tia ser presa e ela ser entregue a um orfanato qualquer e ficar sem seus amigos. Tinha também lei pra criança não trabalhar. Mas achava que tinha que fazer alguma coisa pela tia. Afinal ela a acolheu...

continua...

27/08/2014

Nilma Rosa

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 27/08/2014
Reeditado em 28/08/2014
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