Garçonete e coração partido

Tinha tudo pra ser um dia inesquecível aquele dezenove de novembro de 2010. Acordei tarde em meio ao barulho da chuva na minha janela com gotas de água caindo na cama pelo pequeno vazamento no teto. Tinha acabado de completar dezoito e ia oficializar meu namoro naquela noite. Passei o dia todo hiperativo. Tava em extremo estado de tensão. Nunca tinha visto os pais dela antes e tampouco passado por um momento igual aquele. Chegada a hora, vesti minha melhor roupa com um terno cinza escuro e uma gravata verde que minha avó tinha me dado de aniversário dizendo que me traria sorte. Minha menina morava em um bairro muito calmo. Assim, ninguém me viu chegando à casa dela, com as mãos trêmulas e o suor caindo pela testa e entrando nos olhos. Bati no portão e a chamei. Uma grade baixa que dava pra ver toda a casa. Ela saiu pela porta derramando lágrimas. Estava mal, chorando. Estranhei no momento. Ela me chamou pra conversar no segundo andar. Pude ver muitas malas arrumadas, os guarda-roupas abertos e sem roupa alguma. Ela iria se mudar pra outra cidade junto com toda a família. Não sentia mais meus pés, meu coração batia rápido e devagar ao mesmo tempo. Minha boca secou. Era o fim. Consegui descer as escadas e caminhar até um barzinho da esquina ainda vazio àquela hora. Eram sete horas da noite. Sentei em uma das duas mesas que já estavam prontas. Uma garçonete simplesmente linda e cheirosa veio me atender. Era morena, baixa e olhos castanhos. Não lembrava em nada a loira de olhos azuis que namorei por 1 ano e 2 meses. Ela me trouxe uma cerveja que fez esquecer as tristezas naquele momento. Bebi apenas a metade e deixei a lata de lado. Fiquei observando-a, ainda pensando no que tinha acontecido minutos antes. Olhando para o chão, encontrei um lápis quase no fim de sua vida útil, mas que naquele momento era tudo que eu precisava. Aproveitei o guardanapo de papel que estava na mesa para poder desenhar aquela mulher. Entre um traço e outro, o bar começou a encher, as mesas ficaram todas ocupadas, e eu tentando retratá-la no pedaço de papel. Já tardava nove horas quando ela conseguiu descansar um pouco do grande trabalho que aquele local lhe dava. Pude chegar perto dela, sentir seu perfume novamente e lhe entregar meu desenho. Ela, admirada, olhou-me sorrindo, abraçou-me e, sussurrando ao meu ouvido, disse, com sua bela voz: "Não deixe de voltar amanhã".

Deivide Douglas
Enviado por Deivide Douglas em 27/08/2014
Reeditado em 02/09/2014
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