Flores...

FLORES

Durante aquela longa primavera, ela procurou pelo tipo ideal de flor para ser cultivado em seu jardim. Um dia ela conheceu o Criador de um enorme jardim. Ele era doce, gentil e lhe trazia uma incrível sensação de paz com Sua presença. Ele a levou para conhecer Seu jardim e lhe deu a chance de escolher uma espécie a qual cultivaria pelo resto da vida. Teria que regá-las com boas doses de carinho e dedicar-se àquilo com zelo e paciência. Logo que entrou em lugar tão belo e colorido, ela se deslumbrou com a grande quantidade de flores lindíssimas ali presentes e considerou um presente poder escolher, entre elas, as que mais gostasse. As flores estavam separadas por canteiros e havia dezenas deles. Eram diferentes entre si. Além disso, cada espécie tinha características diferentes, fosse pela cor, pelo aroma ou pela maciez das pétalas. Havia margaridas, petúnias, orquídeas, rosas, girassóis, cravos, crisântemos, entre outras. Ela aproximou-se do primeiro canteiro. Era o de margaridas. Seus sentidos apuradíssimos a fizeram enxergar um pouco mais do que o superficial. Notou que eram lindas, amarelas como o sol, e exalavam um perfume inebriante. Sendo assim, julgou-as perfeitas e por isso resolveu arrancar uma. A ousadia fez com que se machucasse logo de cara. Sentiu que havia sido espetada e logo seu dedo indicador começou a sangrar diante de seus olhos. Aquilo a chocou de tal forma que fez com que sentisse vontade de chorar, tamanha sua sensibilidade. Mesmo assim, o jardineiro, que de longe observava tudo, deu-lhe o conselho precioso de continuar a procura do que tanto almejava. Disse-lhe ainda que aquilo era normal; tratava-se de um espinho e que muitas das flores continham espinhos, assim como alguns animais contêm veneno, assim como alguns corações humanos contêm fel... Ela ouviu atentamente o ancião e, ao se recuperar do susto, voltou a procurar o que queria. No segundo canteiro havia rosas. Não eram tão belas quanto as margaridas (em sua singela concepção), mas lhe chamaram a atenção. Ela arrancou uma delas, cheirou-a, sentiu a leveza de suas pétalas e se lembrou (sem saber que estavam nuas) da dor que uma das margaridas lhe causara. Logo a jogou ao chão e passou a procurar outras flores pelos outros canteiros. Ela andou por todo o local incessantemente. Muitas daquelas flores espinhosas a machucaram, exatamente como a primeira e suas mãos estavam calejadas, ou seja, as novas feridas causadas por novos espinhos não doíam tanto. Aquilo a levava à exaustão, então ela pediu ao Criador das flores que a tirasse dali; em vão. Ele a manteve no jardim para que ela aprendesse que nem todas as flores seriam iguais. Assim, ela continuou caminhando até chegar ao último canteiro; o de miosótis. Nunca vira algo tão lindo até então. Seus olhos verdes se encantaram com o azul celeste daquelas últimas flores. Aproximou-se delas e dali arrancou uma. Analisou-a profundamente e concluiu que aquelas seriam as flores escolhidas. Não mais hesitou. Entretanto, indagou ao Criador o motivo de justamente as flores do último canteiro serem as que tanto procurava. Ele, em Sua grande sabedoria, tocou em seu coração e ela conseguiu entender que sem dor não há como valorizar o amor.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 30/08/2014
Reeditado em 30/08/2014
Código do texto: T4943304
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.