A COBRANÇA
A COBRANÇA
Jair Martins
-Ei menino! Espera.
-Espera por mim.
-Ei! Espera.
O menino continuava sua caminhada sem escutar aquela voz que o chamava. Prosseguia levando consigo um cesto de frutas que colhera.
A voz gritava ainda mais forte. Com o som ainda mais próximo.
- Ei menino! Ei me-ni-nooo!
O menino olhou pra trás e viu uma mulher correndo ofegante. Então parou.
A mulher irritada xingou:
-Tá moco? Faz tempo que lhe chamo.
O menino nada lhe respondeu.
E a mulher continuou:
- Você conhece um homem de nome Rui, que mora por essas bandas? Disseram-me que ele morava aqui logo depois do riacho. E o riacho já ficou muito pra trás. Você conhece esse homem?
O menino sem muito lhe dá atenção continuou caminhando e respondeu:
-Sei não senhora.
– Como não sabe menino? Tô vindo de longe à procura desse sujeito que me deve uma conta grande de longas datas.
E desabafou: - Esse sujeitinho me deixou há quinze anos com um filho pequeno e doente, uma criança especial.
-Você sabe o que é uma criança especial?
-Sei não senhora.
-Deixa pra lá.
Mais sem perceber explicou: -É uma criança que tem problemas de distúrbio mental... E continuou:
-Esse Rui, era o pai da minha criança, nos abandonou e achou pouco vendeu nossa casa e sumiu no mundo. Fiquei sabendo do paradeiro dele semana passada quando enterrei minha criança. Agora estou à procura dele para cobrar a dívida... Nem sei porque estou falando isso .
O menino nada respondia. Por um tempo ficaram em silêncio até que a mulher falou:
- Esse caminho não tem fim não? Eu tô de besta aqui caminhando com você sem saber para onde tô indo.
E o menino prosseguia calado. Lá adiante, a mulher já bastante cansada, sentou-se num tronco a beira da estrada e disse:
– Siga o seu caminho sozinho, não vou lhe acompanhar, vou ficando por aqui. Mais antes me diga, tem saída pra onde essa estrada?
O menino apontou para uma choupana lá no alto e lhe falou:
- Moro ali. Quer uma fruta? Ela lhe respondeu: - Quero.
O menino lhe ofereceu as laranjas, as pitangas, as acerolas e três abacates.
E a mulher lhe disse:
- Basta uma laranja.
O menino lhe ofertou duas laranjas e continuou a caminho de sua casa. Passado umas duas horas, o menino lá do alto, viu quando a mulher se aproximava. Ele esperou ela chegar.
E a mulher ao chegar foi logo lhe dizendo:
- A gente caminhou junto e eu nem sei seu nome. O meu é Marta, e o seu?
O menino não respondeu. A mulher lhe fez outra pergunta:
- Cadê seus pais?
O menino foi específico:
-A minha mãe foi pro roçado.
E a mulher lhe afirma:
– Você é um menino triste.
- Você está sozinho? O menino não lhe responde
E ela repete com mais veemência: - Você está sozinho? O menino balançou a cabeça que sim.
A mulher lhe disse: - Estou com sede, você tem água para me dá um pouco?
O menino lhe respondeu: Tenho sim senhora, vou buscar.
A mulher irritada com as poucas palavras do menino foi atrás dele entrando no seu casebre. Viu quando o menino pegou de um pote a água para lhe dar, o piso da casinha era de barro batido, mais muito limpo, o que muito lhe chamou sua atenção. Foi quando olhou para o lado e viu em uma rede um homem moribundo, cadavérico de olhos arregalados e fixos nela. Um pouco assustada, lhe perguntou: - O senhor é o pai desse menino? O homem não respondeu. O menino ao seu lado lhe estendia o copo d’água, ela bebeu sentindo sabor e elogiou a água. O menino completou: - É de uma fonte mineral aqui perto. Ela endossou dizendo: - Muito boa. E Olhando para o homem na rede lhe perguntou: - Esse ai é seu pai?
Ao que o menino respondeu: - Minha mãe disse que é!
A resposta chocou Marta. E ela impulsivamente pergunta: - Você acha que não?
O menino com ar triste lhe diz: - Não disse nada senhora.
E a mulher lhe faz mais uma pergunta: - Quantos anos você tem?
-13
Seu pensamento voa pra distante. Ela olha pra aquele menino, lembra da sua criança que teria um pouco de idade acima da dele e que morreu vítima de infecção generalizada sem ter em nenhum momento de sua vida a presença do pai. Ele chamava-se Rui. O mesmo nome do homem que dela tirou tudo. Em segundos, Ela dissolve seus pensamentos e se volta para o menino:
-Você não me disse seu nome. Ao que o menino respondeu: - Rui. O nome do meu pai. A mulher olhou para o moribundo, olhou para o menino, tornou a olhar para o moribundo, e começa a reconhecer traços fisionômicos e disse para o menino: - A dívida a que vim cobrar já foi paga.
Água Fria, 19 de abril de 2012 – 23h22