Sou Feia Mas Fui Beijada

Correu tudo bem? Perguntou Marisa... Eu disse que sim, porque realmente tinha corrido tudo bem. Mas o fato é que foi muito mais que tudo bem, foi incrivelmente bom.

Eu tinha crises, me trancava no quarto, ouvia Avril Lavigne e pensava em não precisar pensar em nada. Foi assim por muito tempo, desde o início da adolescência até os dias de hoje quando acabo de entrar na fase adulta. Mas a verdade é que em mim não vejo nada de muito adulta...

Bom, voltando, correu tudo bem! Marisa como amiga quis saber de tudo, mas o tudo eu já tinha dito, na verdade bastava olhar para mim que ela saberia de tudo: Eu fui beijada!

Com 18 anos de uma vida mal vivida, uma vida arranjada, teimosa e sei lá mais o quê, as coisas parecem começar a seguir outro rumo, um rumo melhor. Digo isso porque para uma garota feia como eu, que assim que nasceu foi nomeada “Godelivia”, só porque meus pais se chamam Godofredo e Olivia, a vida não poderia lá ser grande coisa.

Mas finalmente hoje, exatamente hoje, um dia de lindo Sol, eu encontrei um homem bonito dentro do metrô. Ele era desses homens modernos, desses que usam terno com calça jeans e Sapatenis e ficam o tempo todo olhando para a tela de um aparelho celular. De início ele nem olhava para mim porque estava muito entretido olhando o aparelho, mas depois deu uma rápida olhada- eu estava sentada no banco em frente ao dele- e depois abaixou a cabeça, mas como se tivesse tido uma ideia ou se tivesse surpreso, me olhou novamente. Eu até fiquei constrangida, querendo me enfiar no primeiro buraco que encontrasse, querendo desaparecer achando que ele tinha levado um susto com minha pobre aparência e iria começar a rir de mim.

E ele riu! Mas não era um riso de deboche como eu estava acostumada a receber. Não era um riso de bullying desses que me deixa triste e me causa raiva. Não, não era... Era um sorriso simpático, acompanhado de um olhar também simpático. E não era dó não, era simpatia mesmo.

Era umas 10 da manhã e eu estava indo para uma entrevista de emprego que Marisa tinha arrumado para mim em uma loja no Shopping. Eu estava empenhada em conseguir a vaga mesmo que detestasse trabalhar em lojas, porque tinha 18 anos e me sentia pressionada por todos e por mim mesma.

Voltando para o homem do sorriso... Ele era loiro e bonito! Meu Deus, só de imaginar que um homem loiro e bonito sorria para mim de modo tão simpático, eu fico extasiada.

Depois de alguns minutos ele veio sentar-se ao meu lado e eu gelei... Gelei, mas sentia suar também. Parecia um sorvete derretido! Ele disse seu nome: Rogério Fragoso. Até o nome soava bonito olhando para ele- eu nunca havia gostado do nome Rogério antes. Ele disse que era ator. Nossa, tão bonito, está mesmo no lugar certo, pensei rapidamente.

Depois de se apresentar, ele perguntou meu nome... Fiquei calada. Se ele não se assustou com minha feiura, com certeza iria se assustar com meu nome. Fiquei mesmo paralisada encarando-o como se tivesse fora de mim. Meu nome não, nunca, não posso, é pecado, constrangimento além da conta- pensava enquanto ele esperava uma resposta.

Ele: em, como se chama, querida? Eloisa! Respondi, assustada, de súbito.

Ele sorriu e assentiu com a cabeça e disse: é um prazer conhece-la Eloisa! Bonito nome, esse.

Eu sorri e fiquei quieta novamente. Ele disse que fazia parte de uma companhia de teatro muito famosa e eles estavam montando uma nova peça para viajar o Brasil e até fora do Brasil. Disse também que a peça estava praticamente pronta, mas eles precisavam da “peça” chave da peça de teatro: uma atriz com o meu perfil. Eu... Estava ouvindo tudo, mas não sabia o que pensar, é estranho estar falando com um homem tão belo e importante. Bom, ele falou tanto e eu nem consegui prestar tanta atenção nas ultimas frases porque estava mergulhada em meus próprios pensamentos, mas ouvi a ultima palavra- uma pergunta: Topa? Eu, de súbito, sem ter certeza do que estava respondendo: Topo!

Ele sorriu um sorriso grande e bonito... E eu também.

Disse ele: Que bom que você topou! Eu apenas assenti com outro sorriso e abaixando levemente a cabeça. Eu nem sabia o que havia aceitado... Mas tudo bem, eu estava feliz por ter agradado o moço bonito.

De repente... Sim, assim mesmo, de forma repentina: ele me beijou! (pausa por que... Jesus, é um acontecimento loucamente incrível!). Foi questão de segundos, coisa muito rápida mesmo, mas... Para mim parecia um longo e bonito sonho. Fiquei vermelha quando o vi me fitando com os olhos e sorrindo como quem agradece algo. Estava paralisada mesmo, com os lábios entre abertos.

Ele: então é isso, me passa seu e-mail e telefone para que possamos marcar o ensaio?

Eu: mas...

Ele: querida, me desculpe, mas isso foi apenas uma forma impulsiva que achei para agradecer por você ter aceito o convite para participar da peça. A personagem é muito você! Ela tem exatamente esse seu jeito estranho e por isso fica difícil de encontrar atrizes... A peça é importante, então tem que ficar perfeita. Me passa seu contato?

Eu... Nem dei muita bola para os fatos... Não, não importava o motivo do beijo, o importante mesmo é que fui beijada por um ator lindo e que agora tinha um emprego que não era em uma loja. Fui beijada e iria virar atriz... Um sonho de dia, um sonho de história, uma maravilha!

Ai eu dei o meu contato e voltei para casa... Nem fui até o Shopping, claro! Voltei para casa e dei de cara com minha amiga Marisa que veio morar comigo desde que entrou na faculdade.

Ela: Correu tudo bem, conseguiu o emprego?...

Eu penas disse que sim e fui para meu quarto para me jogar na cama e lembrar de cada momento... Cada segundo que durou aquele beijo. Não importa a minha vida passada, não importa quem eu fui ou quem sou e nem nada, a única coisa que importa para mim neste momento é que fui beijada.