Os fatos de Marina

Marina ainda era uma menina quando conheceu Raphael. Não totalmente menina, porque o corpo já mostrava traços de mulher (uma menina mulher).

Não interessa muito quando, onde, como, só o fato principal que irei contar. Talvez eu use um pouco de cada coisa para ajudar na história, mas por enquanto é só isso: o fato.

Marina era dessas meninas que não tem nem onde cair morta mas sonha em viajar o mundo e conquistar um bom lugar nele. 17 anos, quase terminando o colégio e sonhando... Seus olhos era o puro reflexo do sonho. Ela lia, lia e lia... Tudo para conhecer um pouco de tudo e ganhar novos espaços no mundo.

Bom, ai, não interessa quando e como e onde, ela conheceu Raphael. Um homem já, de idade, com vida feita... Foi assim: Olhou nos olhos dele- de um azul de ver o mar- e se encantou como se encanta quando se ver um príncipe. E foi exatamente o que ela pensou, que estava a ver um príncipe, o qual ela sempre havia sonhado. Marina tremeu da cabeça aos pés e sentiu-se uma pequena princesa.

Ele era bom, bonito, um gentleman. Quando Marina estava com Raphael, sentia-se como se estivesse em um daqueles lindos filmes de romance americano. Ele abria a porta do táxi, beijava-lhe as mãos, contava-lhe histórias do seu passado, do mundo, de tudo- coisa que ela adorava. Raphael tinha 40 anos, mas mostrava muito amor por Marina. Chamava-a de sua menina, dizia coisas lindas daquelas que só se ouve em filmes mesmo... Eram lindos juntos, tanto que só vendo.

Marina nem se importava com o que os outros estavam pensando, pois ela o amava mais que tudo e ele a amava também. Raphael era crescido o suficiente para saber dar importância para o que realmente interessa: a vida dele e de quem está com ele.

Nesse lindo e delicioso romance, Marina se via realizada, com um sonho de infância rolando deliciosamente em sua vida. Ela o amava, meu Deus... Como essa menina amava seu Príncipe de contos de fadas. Tanto que quando passavam a noite juntos, olhava-o dormir por medo de deixar passar despercebido algum traço ou gesto de seu amado. Era lindo vê-los e senti-los juntos.

Bom, ai passou-se 1 ano e 5 meses... O conto de fadas de Marina virava rotina- o que ela gostava, pois lhe agradava pensar que ela e Raphael eram um casou no mundo, que se amavam e tinham uma vida juntos.

Mas... Um ano e algo mais... Raphael começava a se mostrar distante. Era estranho, pois ele sempre mostrava presença mesmo quando estava distante fisicamente/geograficamente. Marina sofria calada, com medo de estar sendo uma ciumenta paranoica. Mas, é com muito pesar que descrevo este fato: ela não era uma ciumenta paranoica- antes fosse- ela estava apenas sentindo que seu amado estava estranho e que tinha algum motivo para isso- ela sabia, tinha um motivo além das distancias físicas.

Era isso mesmo: contos de fadas não são reais. Contos de fadas são apenas contos e não derivam de fatos. Não existem fadas, lamento dizer. O que existe são os fatos e por mais que não queiramos- eu não queria- não dá para fugir deles. Eu queria fugir disso... Não queria que Marina sofresse pelos fatos, queria que ela fosse uma princesa e que vivesse feliz para sempre ao lado do seu príncipe, mesmo que não fosse no reino encantado e sim no mundo real. Porque quando há um amor de verdade, o mundo não é mais real, ele é mágico, e esse é o mais delicioso dos fatos- porque existem bons fatos, claro.

Raphael, Raphael... O que há em você para deixar isso acontecer? Raphael, eu também te amo porque sei que és humano e não qualquer humano: você é o humano de Marina, o que ela mais ama dentre todos... E você é bom, eu sei que é. Não me pergunte como, mas sinto como se eu fosse Marina, o quanto você é bom. Agora eu não sei se a ama, mas sei que és um bom ser e que não a quer mal.

2 anos e alguma coisa... Marina com quase 20 e sua cabeça havia mudado e agora ela era mais mulher que uma menina. Marina sempre foi doce, sempre pareceu uma boneca, gentil e agradável... Isso nunca irá mudar nela. Raphael era ele mesmo... Esse é o fato: ele é ele mesmo. Marina ama o ser que há nele e nem sabe porque, mas nunca irá deixar de amá-lo. Talvez ela o ame eternamente... E isso é quase um fato.

Agora mesmo ele dorme. Marina não o olha mais como antes. Ela está virada de costas enquanto ele ronca um pouco. Pensando nos dois anos que se passaram, pensando nos anos que virão... Ela sente ainda certos apertos no peito, mas nada que a faça chorar- não há muitos motivos para chorar quando se sabe que fatos são fatos (ou há todos os motivos do mundo...). Marina não dorme porque ainda sente medo de perder certos momentos ao lado dele e quando sente esse medo, ela vira para abraçá-lo. Ele também a abraça... Dormem abraçados, sentindo o cheiro e as batidas do coração um do outro. É bonito de ver, eu adoro.

Vou contar... Tenho que contar porque nem eu suporto, então preciso esvaziar-me disso um pouco: Raphael foi a uma viagem e ficou algumas semanas fora. Viagem de trabalho, enquanto Marina ficou estudando.

Meu peito, Deus... Sinto tanto por Marina que repetir isso seria uma traição, um golpe que a ferirá novamente. Mas preciso me esvaziar tanto quanto ela. E é o que farei: ele a traiu! Em uma noite de "A carne é fraca", Raphael transou com uma mulher e teve uma filha... É, isso mesmo, ele traiu Marina e engravidou a mulher- diz que usou camisinha, mas vai saber... Eu não estava lá para saber, porque estou sempre com Marina, ela precisa mais de mim. O fato é que ele foi infiel, só isso- tudo isso.

Marina descobriu não interessa como, o fato é que ela descobrir e ficou arrasada... Tadinha! Uma bonequinha vivendo os fatos da vida real. Quem sou eu para dizer isso, mas vou dizer: viver não é para Marina! Ela é frágil, delicada e bondosa demais... O mundo ou até a própria vida é o inverso disso. O mundo é para quem veio dos macacos... Marina não veio dos macacos, ela veio do ser maior.

Hoje eles estão juntos, mas não foi simplesmente assim: ela brigou, fez drama, ficou longe de Raphael sem trocar uma palavra sequer por 5 meses. Mas hoje eles estão juntos porque ela o perdoou... Simplesmente Marina perdoou seu humano.

Ele paga pensão para a filha que fez "sem querer", ele ajuda no que pode, mas quem cria é a mãe com o namorado dela... Pois é, a mulher tem um homem assim como Raphael tinha Marina. Isso não vem ao caso, nem sei porque falei isso, acho que não tenho o direito de falar isso... Bom, eles- Raphael e Marina- vivem juntos como pessoas e não como personagens de ficção- é assim que Marina encara a vida agora: como uma vida real. Os sonhos Marina não largou, mas usa-os na hora que tem que usar... Como? Não sei, mas o fato é que Marina amadureceu e hoje é mais mulher que muitas mulheres- mesmo sendo uma eterna boneca.

Eu sou apenas um ser... E gosto de contar sobre Marina, porque vivo com ela assim como outros seres vivem com outros humanos.

Atenciosamente, o Ser de Marina!