A Libélula Triste

Há muito tempo, havia a Era das Flores. Em tal Era, um dos reinos mais famosos e bonitos era o Reino das Borboletas. Todos eram felizes e bons. Era sempre primavera; a terra era coberta por grama e flores, somente o vento gentil soprava. Afagava a cabeça de todos. Assoprava as flores gentilmente até elas dançarem. Nessa época, pessoas e deuses conviviam normalmente. Os deuses eram amados, e em troca faziam seu trabalho. Protegiam as pessoas de animais perigosos. Curavam adoentados quando possível. Proporcionavam uma colheita próspera, e muito mais. Esses deuses e deusas não eram tão diferentes de humanos normais, ao menos não na aparência física – tinham cabelos coloridos como as flores e asas de diferentes animais. A classificação ia de deuses com asas de libélula, que cuidavam da natureza e animais, e deuses com asas de pássaros – superiores que cuidavam de assuntos morais e corporais dos humanos. Um belo dia, enquanto uma deusa com asas de libélula prestava atenção em um rebanho, avistara uma gentil criança que brincava com galhos e pedras. Um energético menino que não parava quieto por nem um segundo sequer. Dia após dias a deusa intrigada continuava a prestar atenção em tal forma de vida. Acompanhou seu crescimento, pois não conseguia afastar o olhar por nem um minuto. Após dez anos o menino completara dezenove. Já era um homem, um belo homem de cabelos e barba castanhos. A deusa então, não aguentando mais se esconder, apresentara-se ao jovem adulto. Começaram a se ver as escondidas das outras pessoas e outros deuses até que um dia se apaixonaram. Aquilo era algo sem precedentes, um humano e uma deusa apaixonados um pelo outro. Um amor proibido. O segredo, no entanto, não perdurou por muito tempo. Os deuses, após a descoberta, se encheram de raiva e lançaram uma maldição nos deuses com asa de libélula. A maldição consistia em tornar todos eles invisíveis aos humanos adultos.

Muito, muito tempo depois esses deuses foram completamente apagados da memória das pessoas como algo real. Passaram a habitar somente a imaginação de adultos para criar mitos e contos às crianças.

Um belo dia, enquanto um garoto voltava da escola, ouvira um choro vindo do parque ao lado. Sem receio, o menino correra para a direção de onde vinha tal som, lá encontrara uma pequena menina ajoelhada e lacrimosa. Afável, o jovem se aproximara da menina e tocara seu ombro.

- Oi, o que faz aqui? – Pergunta gentilmente.

A menina só conseguia chorar e apontar para seu joelho machucado.

- Ah... Entendo.

O menino então busca em seu bolso um band-aid e o coloca sobre o machucado.

- Deve ficar tudo bem agora – diz sorridente.

Depois daquele dia passaram a se encontrar intuitivamente todas as tardes naquele parque. Cresceram juntos, brincaram juntos e se divertiram juntos até o momento que alcançaram a maioridade. A libélula desta história é uma descendente de tais deuses. Os ancestrais da pequena deusa haviam sofrido a maldição, fazendo com que os dois amigos nunca mais pudessem se ver. Apesar de não poderem se ver, a libélula o seguia cabisbaixa para todos os lugares – queria falar com seu amigo, abraçá-lo e poder dar belas risadas juntos... Queria poder beijar seu amado. Com lágrimas nos olhos, dia após dias ela o seguia. Tentava gritar seu nome. Tentara segurar sua mão, mas nada. Nada funcionava. Em desespero, a libélula correra para um dos deuses superiores e fizera um trato. Ela trocaria sua vida para ser vista e ouvida por ele por ao menos mais uma semana. Os deuses não conseguiam compreender e achavam completamente ilógico, mas concederam seu pedido mesmo assim. Não precisava ser lógico, ela simplesmente se apaixonou por ele – para ser visto pela pessoa que ama. Poder falar com essa pessoa... Não, não era um desperdício de sua vida.

Era uma vez uma libélula. Uma libélula que se apaixonou por um humano. No entanto suas asas surgiram e sua maturidade chegara. Apaixonou-se pelo menino gentil, mesmo sabendo que poderia ser apenas um capricho ela sentira como se havia sido salva. O homem não podia mais a ver, então ela o seguiu por todo lado. Mesmo ao seu lado ela se sentia tão sozinha que seus olhos constantemente eram preenchidos por lágrimas. Sem aguentar mais, ela fez um trato. Sua vida por mais uma semana com o amado. Uma vez realizado ela percebera que iria morrer logo. Ela não poderia mais nem o ver de longe. A libélula odiou seu destino, mas passou o máximo de tempo daqueles sete dias com um enorme e sincero sorriso no rosto. No entanto quando não estava com ele, ela não conseguia afastar o medo de morrer, então trancara esse sentimento para que pudesse se concentrar no que importava. Ela sempre... Sempre ansiava poder conversar e ser vista por ele.

- Venha me ver de novo amanhã – ele diz na noite do sétimo dia.

Ela estava tão feliz que prometera sem antes pensar, porém aquele era seu último dia. A libélula não tinha mais muito tempo de vida. Após a ida do jovem adulto veio a súbita realização. A libélula às pressas recolhera um envelope, um papel e um lápis e então se pôs a escrever:

A hora seguinte veio, e com ela a próximo e a outra depois dela. Passaram-se horas e a libélula o pode ver novamente. Ela se sentia tão afortunada, poder o ver novamente, que seu coração se encheu de felicidade. Tem algo que esta libélula sempre quis lhe falar. “Muito obrigada... Eu sempre, sempre, sempre te amei.”

No dia seguinte o jovem encontrou a carta embaixo de um pequeno toco onde geralmente se encontravam.

Fim.

AC Miterhofer
Enviado por AC Miterhofer em 19/09/2014
Reeditado em 19/09/2014
Código do texto: T4967480
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.