O NOVO LAR DE JÚLIA

A casa ficava num lugar afastado, próxima a um lago, tinha algumas janelas, alguns quartos, uma varanda na frente, uma varanda nos fundos e um quintal com jardim e duas árvores que faziam belas sombras.

- Entre dona Júlia, esse é seu novo lar.

- Aqui não tem moinhos. – Disse Júlia entrando na casa.

- Não tem.

- Eu gosto de moinhos. No lugar onde morava quando criança tinha moinhos.

- Tem um lago. A senhora gosta de lagos?

- Gosto, mas parece frio. Os lagos são sempre frios e costumam nevar.

- Este é seu quarto, da janela dá pra ver o lago.

O quarto tinha uma cama de solteiro, um armário, uma cômoda junto à janela e uma cadeira. O quarto parecia pequeno, a janela parecia pequena, a decoração de interiores parecia invisível. Júlia sentou na beira da cama e olhou o quarto por um momento.

- Eu tinha uma amiga que morava na praia.

- Há quanto tempo?

- Muito tempo, seu nome era Júlia, ela era ativista social. Estava sempre lutando pelas pessoas.

- O que aconteceu com ela?

- Ela morreu, ainda jovem, eles a mataram.

- Sinto muito.

- Chovia muito sobre a cidade.

- Que cidade?

- As cidades são anônimas, por mais que sejam diferentes são iguais.

- A senhora não tem ninguém?

- Eu tenho medo, tenho muito medo das cidades.

- Eu imagino.

- Você não imagina quantos medos eu tenho. Você nunca vai imaginar.

- A senhora tem filhos?

- Só tive uma filha, seu nome também era Júlia.

- E onde ela está?

- Ela morreu, ainda criança, morreu nas cidades. Eles a mataram. Eles sempre matam.

Arnoldo Pimentel