A ESTÁTUA, MONUMENTO OU COISA PARECIDA

Na única cidade em que o sol nasce no oeste e se põe no leste, construíram uma estátua, monumento ou coisa parecida. O motivo pelo qual nesta cidade estranha o sol nasce no oeste e se põe no leste, e não o motivo pelo qual construíram uma estátua, monumento ou coisa parecida, é que quando a cidade foi povoada houve uma pequena confusão no momento de descobrir – neste caso decidir – onde era o norte; de tal modo que a prefeitura ficava construída no centro da cidade, de frente para o norte, sua parte mais rica. pelo menos era isso que pensavam. Mas pensavam errado, pois apesar de a prefeitura ficar no centro e de frente para a parte mais rica da cidade, a sua frente dava para o sul; ao menos na visão do resto do mundo.

Mas eu falava também de uma estátua, monumento ou coisa parecida. Bem, para explicar isso, terei de explicar o motivo pelo qual metade da população marchou para a guerra. E o motivo pelo qual metade da população marchou pela guerra é que se tratava de uma guerra mundial, a mais mundial de todas. E o motivo por esta guerra mundial acontecer – estamos falando da décima quinta guerra mundial – vocês devem estar tentando adivinhar. Água? Não, na verdade a tão aguardada guerra pela água ainda não aconteceu. Esta décima quinta guerra mundial que figura os nossos livros de história foi motivada por algo que vocês não devem nem desconfiar, pois não possuem, assim como eu, acesso a estes tais livros de história. E o motivo pelo qual vocês não possuem acesso a estes livros é que não vivem na mesma época que eu. E o motivo disso...bem...isso é problema da criação.

Quando metade da cidade marchou para a guerra, a outra ficou desolada e desesperançada. E o motivo pelo qual....bem, vamos resumir dizendo que eles, definitivamente, não eram bons guerreiros. Pensando nisso é que um gênio, feiticeiro ou coisa semelhante, impossibilitado de lutar na guerra devido sua idade, criou uma estátua, monumento ou coisa parecida com, que era meio orgânica e meio mineral. Nela injetou amostras de sangue de todos que foram para a guerra e também colocou objetos pessoais dos heróis. O resultado era surpreendente. Cada pessoa na cidade, ao olhar para a estátua, monumento ou coisa parecida, via aquele por quem seu coração batia de saudade, e o gênio, feiticeiro ou coisa semelhante regozijava-se com a sua obra. Passou muito tempo e ninguém retornou para a casa. E a estátua, monumento ou coisa parecida, virou o local mais frequentado da cidade. Assim matavam a saudade. Assim viviam suas vidas.

Acontece que, quando a guerra iniciou, essa estranha cidade recebeu a ordem do governo de auxiliar em uma batalha que ocorria ao norte. Assim eles fizeram, ou melhor, assim eles pensavam que estavam fazendo. Ao invés de irem para o norte, foram para o sul. A jornada ao redor do mundo foi longa e quando finalmente chegaram no lugar da batalha, a guerra já tinha há muito terminado. Voltaram para casa felizes e foram recebidos com surpresa pelos familiares que há muito já não esperavam a volta dos entes queridos. O prefeito deu uma festa. A estátua, monumento ou coisa parecida sumiu. O gênio, feiticeiro ou coisa semelhante morreu de tristeza, dor ou coisa similar, e até hoje ninguém sabe ao certo a sua obra ficava, se era ao sul ou ao norte da prefeitura.

Alguns dizem que isso é uma lenda que não se popularizou, outros dizem que é piada longa e sem graça alguma. Mas o certo é que, apesar da estátua, monumento ou coisa parecida provavelmente nunca haver existido, não podemos, da mesma maneira, apostar na negação da existência de uma tal cidade assim, onde o sol, de certa forma, viaja na contra mão. E contrariando que se pensa, é uma cidade de sábios. Dizem eles que um povo de verdade escolhe o seu próprio norte independente das escolhas dos outros. Além do mais, dizem que, sendo o mundo redondo, para um olhar grave, os olhos sempre vão parar no mesmo local. Darão a volta ao mundo até chegar neles mesmos.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 26/09/2014
Código do texto: T4977032
Classificação de conteúdo: seguro