Primeiro e último amor

Ele era um homem que tinha facilidade em conquistar as mulheres. E, por ser assim, não valorizava tanto aquelas que mais o amavam. Namorava uma, duas, três por semana. Nunca se relacionava sério com nenhuma. Não conseguia. Sempre aparecia uma que mais lhe chamava a atenção. Mas tinha uma garota difícil. Que todos queriam ficar, mas ninguém nunca conseguiu. Era loira, olhos azuis, cabelos lisos no meio das costas. Ele tentou ficar com ela uma vez numa festa. Nada. Tentou depois numa pracinha e numa sorveteria. Nada também. Daí tentou de novo. Ela aceitou porque gostava demais dele, mas não queria ser mais uma a ser deixada de lado após uma semana. Então o fez prometer várias coisas. Ele prometeu. Eles ficaram juntos durante quase um ano, mas ela terminou porque seus pais iam mudar de cidade. Foi um dia triste para os dois. Ambos tinham 18 anos. Ela o amava de verdade. Ele não a amava tanto, mas estava feliz com ela. E os anos foram passando. Ele namorou mais três vezes, e com essas três ele se casou. Uma quando tinha 28 anos; outra com 32 anos; outra com 34. Essa última foi o casamento que mais durou (exatamente 12 anos). Ele não conseguia sustentar um casamento, não aprendeu o verdadeiro significado do amor. Ele completou 50, 60 anos. Um dia, assistindo televisão, viu uma mulher linda num programa de cantores. A voz dela era bela. E ele conheceu aquela voz no primeiro momento, 42 anos depois. Era a voz de sua primeira namorada. Sim, aquela loira de olhos azuis que foi seu primeiro amor. Ela continuava a mesma garota que ele conhecia: tímida, linda, amável. Ele resolveu procurar por aquela mulher, nem que fosse pra dizer o quanto sentia a falta dela, o quanto foi feliz durante o namoro deles. Foi na televisão, mas não o deixaram entrar. Então ele a esperou do lado de fora. Ela poderia passar ali a qualquer momento, com seu marido, seus filhos e netos, ou apenas dentro de um carro com um motorista e ela no banco de trás. Ela saiu a pé mesmo, morava perto dali. Ele a viu. Seus olhos brilharam, sua boca secou. Parecia um adolescente diante de seu primeiro amor. Ele se aproximou dela, e ela o percebeu. Reconheceu-o no primeiro momento. Ele a convidou a um bar próximo dali. Tinha música ao vivo. Um ambiente aconchegante. Conversaram durante um tempinho. Riam. Choravam. Não estavam acreditando que aquilo estava acontecendo. Ele começou a contá-la sobre sua vida. Seus namoros, casamentos. E ela apenas prestando atenção na fala e no olhar dele. Lágrimas rolavam dos olhos dos dois. Terminando de falar sobre sua história, era a vez dela. Ele a perguntou sobre os homens de sua vida. Ela o respondeu que não teve mais amores. Ele, perplexo, a questionou sobre essa escolha. Ela abriu-lhe um sorriso, cheio de rugas, mas que mostrou toda a felicidade dela naquele instante, e lhe disse: ''Eu passei toda minha vida esperando te encontrar de novo''.

Deivide Douglas
Enviado por Deivide Douglas em 29/09/2014
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