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A boneca
 
 
Às vezes fico relembrando coisas da minha infância, são momentos que pareciam esquecidos e que voltam nitidamente, me levando novamente ao passado.
Assim como se fosse cenas de um filme, revivo momentos acontecidos há muitos anos. Lembro-me de quando tinha uns quatro ou cinco anos de idade; fui com minha irmã à costureira e levei comigo minha boneca que acabara de ganhar de uma tia.  Na verdade era uma boneca muito especial que chorava e fechava os olhinhos, coisa rara naquele tempo!
Uma linda boneca de louça ou porcelana, não sei bem, mas era a mais bonita que já eu vira. As outras bonecas que eu tive eram sempre de pano, mas só eram bonitas no começo, depois acabavam ficando encardidas e feias!
Quando chegamos à casa da tal senhora, a filha dela que era bem mais velha que eu, me segurou pela mão, dizendo que ia me mostrar seus brinquedos e mesmo sem querer ir, não tive como dizer não, fui praticamente arrastada por ela.
Ao chegarmos ao quarto, ela me disse que devíamos trocar de boneca e como eu não quisesse, ela simplesmente tirou-a de mim e a colocou debaixo do seu colchão dizendo que se eu abrisse o bico ela mandaria o seu cachorro arrancar minha língua! Eu era uma criança ingênua acreditei que ela fizesse mesmo isso e me calei. Então ela pegou uma boneca velha de pano e colocou em meus braços dizendo que entregaria a minha depois. Quando voltamos à sala, a menina disse a minha irmã que eu havia perdido a boneca e que ela me dera a dela para que não ficasse muito triste, mas que ela iria procurar e se encontrasse depois me entregaria!
Lágrimas corriam dos meus olhos, mas tive medo e fiquei calada, a mãe da menina então pegou uma moringa d’agua com o gargalo em forma de focinho de porco que estava em cima da mesa e me ofereceu agua, mas claro que não aceitei, imagine tomar água que saia do nariz de um porco, não me faltava mais nada, eu só queria era sair daquela casa de gente estranha e levar minha boneca nova. Minha irmã se despediu da Dona e fomos embora, claro sem minha boneca. Mas logo adiante minha irmã compadecida com meu pranto resolveu voltar.  Lá chegando vimos à menina com minha boneca e a sua mãe muito chateada por ela ter feito aquilo devolveu-a.
Depois disso nunca mais voltei lá, e nem mostrei minha boneca para mais ninguém.