Amor além da vida
O meu coração parou enquanto eu dormia. Deixei meu corpo deitado ao seu lado. Olhei para seu semblante tranquilo, parecia um anjo, linda como sempre! Desejei beijar sua face, mas receei acordá-la. O nosso retrato na parede. Não faz tanto tempo, mas decorriam décadas desde aquele “sim”. Minha vontade era de ficar ali, esperando você, mas minha missão terminara e a sua se estenderia por mais seis anos. Era a hora de partir. Partir para onde?
Eu me sentei na poltrona, não conseguia me ver no espelho. Eu tinha consciência do que me acontecia. Senti um cansaço e não me lembro de quase nada. E assim se passaram anos, décadas, séculos? Aprendi a esperar e esperando a esperança do nosso reencontro.
À terra voltarei em breve. Devo me alegrar ou chorar? Você já existe, faz anos. Por que veio antes de mim? É uma jovem mulher, ainda mais linda. Parte da minha alma! Como é acolhedor me sentir dentro das suas lembranças. Ah, como eu queria tocar você, contar o quanto estamos próximos.
O sono repentino cerrando suas pálpebras. Quase posso sentir seu perfume quando me aproximo e você percebe minha presença. Segundos depois e você se projeta no astral estendendo suas mãos em minha direção. Nosso encontro numa mesma dimensão. Momento mágico saber que sua consciência não se apagara por completo, e, as lembranças da nossa última passagem juntos, ainda se revelavam em seus sonhos.
Naquele instante, você soube que eu voltaria, mas não sabíamos se nos encontraríamos. Eu queria passear com você, brincar nas nuvens, mas alguém gritou seu nome. Você teima em não retornar, mas é preciso. E no seu corpo físico se desperta com lágrimas nos olhos.
Eu senti-me culpado, pois plantei na sua mente a certeza do meu retorno. A partir de então, teria uma vida de inquietude numa busca constante por seu amor único. No entanto, eu não tenho essa mesma certeza. Sei que em breve no ventre da vida terrena retornarei, separado por terras e mares da minha alma luz.
Denia Dutra
“Lembranças de outras vidas”
Abril de 1983.