O SENSITIVO

Sentados em uma mesa retangular se reuniam os membros de uma organização. O grão-mestre estava com a palavra. O novo plano para a corrupção do ser humano para servir a um propósito que beneficiava o grupo reunido, a redução do contingente populacional de uma certa camada social, que usava veículos coletivos, estava a ser desvendado para os outros doze presentes.

– E, então, pensávamos em usar o velho truque da epidemia apavorante e com ele convencer as pessoas a se vacinarem. A vacina seria como um placebo para conter a epidemia mentirosa, mas carregaria para dentro de cada vacinado uma substância que levaria o indivíduo à infertilidade e impotência sexual, à homossexualidade, ao controle mental devido ao combate à tireoide do sujeito, o que causa retardamento mental, à alteração no exame de PSA e com ela o convencimento para se fazer consulta com um médico que quase não tem pacientes, o proctologista, ao aborto e até à morte. Nada disso seria típico de ser desconfiado pelas pessoas que sofressem os efeitos, de ser a vacina o causador de seu prejuízo.

Essa é a parte operativa do produto químico. Há também a parte lucrativa, que é a compra das ampolas pelos governos dos países cujas populações queremos atingir. Será uma grana bem gorda que terão que pagar para nossos laboratórios para que obtenham o antídoto contra o vírus inofensivo que fizemos com que a mídia apavorasse as pessoas e elas achassem que ele é diabólico ou contra o vírus realmente apavorador e que faz grandes estragos à saúde pública, que nós mesmos desenvolvemos em nossos laboratórios, colocamos para circular dentre os miseráveis cobaias da África, e temos sob controle para colocar onde mais quisermos. Nós estamos imunes a ele. Evidentemente.

Alguém da corte quis desfrutar um pouco mais do prazer que o porre de malevolência que o palestrante proporcionou a todos dava e fez um comentário.

– Africanos para nós não são seres humanos e mesmo que fossem quem criou o altruísmo fomos nós mesmos, não temos que seguir os dogmas que fazemos nossas igrejas jorrarem nas sociedades para torná-las sensíveis e obedientes.

Os demais deram risadas e aguardaram a continuação do discurso do grão-mestre.

– Porém, no último golpe da vacina que demos, a população francesa surtou e nos deixou em estado de alerta. Desconfiaram e não quiseram tomar a vacina. Disseram para seu governo que fizesse o investimento com o dinheiro público por eles não poderem impedir, mas que no que os envolvessem devidamente e estivesse ao alcance deles recusar eles iriam tomar o procedimento de recusar. E foi o que fizeram: não se vacinaram e o conteúdo que o governo comprou virou lixo e crise do governo por conta das acusações de emitir gastos públicos desnecessários.

Mais um ouvinte interrompeu a palestra.

– Quer dizer que por boa vontade do povo não poderemos mais espetar as veias dele?

– Não. Teremos que fazer isso militarmente se quisermos que o indivíduo seja vacinado. Ou seja: Puxarmos um por um dos cidadãos com um laço e aplicar-lhe a seringa. Isso está completamente fora de questão. Nosso exército de aplicadores teria que ser formado por voluntários, geralmente jovens estudantes, e eles não se sujeitariam a fazer aplicações de injeções que eles não sabem o que pode advir. Qualquer que seja o acontecimento tenebroso a culpa seria dele. Na prática foi ele quem inoculou e causou um dissabor para um indivíduo vitimado e não o sistema que o contratou para fazer isso.

E o mesmo interruptor voltou a interpelar.

– Então, nada podemos fazer com essa medicação diabólica que está estocada. Não poderemos cumprir com a agenda de reduzir a população do mundo.

E o grão-mestre reanimou o homem.

– Calma! Somos uma sociedade milenar porque conseguimos sempre canalizar soluções. Passamos pelos rituais que passamos sempre pelo fim de tornarmos sensível nosso contato com a consciência universal e ela nos dá respostas para tudo. Sempre nos deu. O que chamam de intuição a gente sempre soube desabrochar, não é mesmo?

Ao receber o balançar de cabeça para frente e para trás de toda a audiência, concordando com a sua observação, o líder da mesa no dia voltou a dar esclarecimentos aos que estavam reunidos.

– Vejam esses pirulitos. Bala de doce saborosa. Coisa que todo brasileiro gosta. Está condicionado a gostar. O açúcar é uma droga, vicia e eles nem se dão conta. A gente sempre conseguiu que os órgãos públicos que ganham dinheiro para disciplinar os alimentos que chegam ao mercado aprovassem nossos produtos industrializados cheio de corantes, conservantes, aspartame, glúten, flúor, alumínio, cádmio. Não é mesmo? Já viram ou ouviram a mídia falar mal dos refrigerantes? E já viram ou ouviram o Governo fazer qualquer restrição ou proibição contra esse aliado nosso no adoecimento da sociedade? Pois, é, deixem-me falar sobre este inocente pirulito.

E o velho vestido de terno preto e avental, exibindo um pirulito meigo, com o formato de um coração, de coloração que sugeria ser de morango, explicou que o que seria a substância a ser colocada em ampolas e injetadas na população eles conseguiram condensar e transformar em uma bala para criança. Naquele doce estava contida uma dose de infertilizante, emburrecedor, deficiente imunológico e uma série de outros abaladores da saúde do ser humano que o recebesse. Logo, mais um dos presentes fez sua interrogação ao master.

– Certo, Grão-Mestre, mas como vamos convencer a não só as crianças a apanharem da mão de um dos nossos colaboradores o doce e o degustar? Não funcionará o plano se se utilizar o Dia das Crianças para fazer a distribuição amiga.

– Com toda certeza: não, meu caro! Vamos usar um grupo de jovens que estudam em uma escola de teatro. Em princípio eles passarão o dia entrando nos vagões dos trens metropolitanos para fazer a entrega do pirulito a todos que estiverem neles. Eles não saberão o que estão entregando. A escola sim, mas a escola é nossa. Os auxiliares serão contratados sob o álibi de uma campanha que estimulará o comportamento gentil. Queremos que as pessoas sejam convencidas de que gentileza gera gentileza. É amável isso. Cativa até o mais rabugento que estiver dentro do vagão.

E ele deu mais explicações.

– As presas serão abordadas com abraços. Os auxiliares carregarão cartazes dizendo "Abraço grátis" e andarão pelo vagão oferecendo abraços. Lindas e jovens mulheres para motivar os homens de qualquer tipo e idade; Sarados, altos e belos homens para motivar as mulheres. Quem rejeitará o abraço de gente assim? E quem resistirá a um doce, ainda mais dado da forma que foi dada? Quem desconfiará de qualquer coisa?

Não terá para todo mundo, mas também não precisamos que seja toda a população a receber o remédio falso para alcançarmos os números de contaminados que almejamos. Nem com a Gripe Suína pensamos em atingir unanimidade com a vacina. E olha que quando se trata de vacinação o povo cobra se não tiver para todos, tendo sido a necessidade dela propagada como emergencial e totalitária. Ficamos foi em saia justa naquela ocasião.

– ! –

O sensitivo estava dentro de um vagão do metrô indo para a faculdade quando um grupo de jovens, homens e mulheres, entrou fazendo barulho, dando uma contagiante alegria ao ambiente. Faixas e cartazes na mão dos jovens expunham o lema "Gentileza gera gentileza" e a oferta "Abraço grátis". De seu assento ele observava pessoas levantando para dar abraços e ganhando, em troca, um pirulito em forma de coração e de coloração vermelho morango. Até que uma linda garota chegasse até o sensitivo, ele pensava no que podia ser aquilo e em qual seria o seu procedimento. O procedimento dele foi o esperado pela moça: ele deu o abraço nela e recebeu o brinde logo em seguida. Porém, o que veio depois que o grupo partiu para o próximo vagão aproveitando a parada, para ele não foi o mesmo que para os demais a lhe fazer companhia no ambiente fechado. Tal qual um cão que fareja a comida antes de mandar para dentro, ele ficou refletindo bastante a razão de um grupo aparentemente engajado com uma causa social distribuir um doce e não pedir uma esmolinha qualquer para enviar para uma instituição de caridade como é de praxe. O sensitivo não pensou que pudesse haver uma conspiração por trás do pirulito, mas havia muito que ele sabia o que está por trás do consumo de açúcar e de produtos industrializados saborosos, precisamente os destinados às crianças. Por isso ele fez uma doação do brinde que ganhou para a primeira lata de lixo que encontrou na estação de metrô onde descera. Nem cogitou dar para alguém. Era daqueles caras que não quer dar para os outros o que não gostaria de receber.

MORAL DA HISTÓRIA: Aquilo que podemos ver e saber que é sincero e não nos faz mal não devemos desperdiçar. Por isso o sensitivo ficou com o abraço. Os jovens que trabalhavam para os conspiradores não sabiam sobre a conspiração, eram vítimas dela também, por isso o abraço deles era sincero.