Bolsa de mulher

A situação era tensa. O casal havia ficado para trás e se perdido do grupo. Gritaram; mas, por conta do barulho que os turistas faziam, multiplicado pelo eco do lugar, ninguém os tinha ouvido. Tentaram encontrar o caminho mas a caverna que haviam vindo conhecer era imensa, um verdadeiro labirinto, apenas visitável com um guia – o Edmilson, que agora estava longe com os demais. Os próximos visitantes só viriam no dia seguinte. O homem andava de um lado para o outro, mãos na cabeça. Ela, mais calma, sentou-se numa pedra e pôs sua bolsa no chão, ao lado.

- O que faremos? Vamos mofar aqui! É úmido, quente, o teto é baixo... não estou conseguindo respirar... ai, minha claustrofobia!

Ela rapidamente enfiou a mão na bolsa e tirou a bombinha de asma do marido, aliviando seus sintomas de falta de ar.

- Calma, Alfredo – ela disse.

- Calma... calma... (buf buf)... o grupo só vai perceber nossa ausência no ônibus (buf buf)... até lá já estaremos mortos de calor!

Ela então tirou um aparelho de ar condicionado portátil da bolsa.

- Onde vamos ligar isso? – ele perguntou, aflito.

- Funciona com bateria – ela respondeu. E em seguida tirou a bateria da bolsa, conectando-a ao aparelho.

Com o ar mais fresco, o homem sossegou, mas ainda estava muito tenso.

- Estou morrendo de sede...

Ela abriu novamente a bolsa e de lá sacou uma garrafa de água mineral com gás, que o marido destampou e virou para dentro da boca – fazendo, em seguida, uma careta.

- Está quente!

Ela, um tanto irritada, enfiou a mão na bolsa e pegou a geladeira de isopor, tirou de dentro algumas pedras de gelo, colocou em um copo, verteu a água e deu ao marido.

- Melhor agora? – ela perguntou, com um tom áspero.

- Sim – ele disse. – Mas precisamos pensar em algo para que eles nos achem aqui. Não vamos aguentar muito tempo nesta umidade.

Vendo que ele realmente estava totalmente encharcado de suor, deu-lhe lenços umedecidos, uma toalha de banho e uma muda de roupas. Escolheu a mais fresca, pendurou as demais no cabide e guardou de volta na bolsa.

Refrescado, o homem se sentou no banquinho que ela lhe dera enquanto pensava numa saída.

- Acho que o jeito é esperar que eles deem pela nossa falta – disse. Mas provavelmente vamos perder o jantar.

Ao ouvir isso ela voltou a mexer na bolsa, tirando de dentro um vistoso prato no qual colocou artisticamente várias frutas; num outro, menor, dispôs três tipos de queijo e acomodou tudo sobre uma bela toalha de renda, numa prática mesa dobrável.

- Vamos fazer uma boquinha – ela disse, piscando um olho.

Comeram calmamente seus acepipes à luz de velas (o castiçal de prata havia sido da avó) acompanhados por um Beujolais servido em taças de cristal, das quais ela nunca abria mão.

Quando terminaram, ela limpou suavemente as taças com um pano macio e guardou tudo de volta na bolsa. O homem olhava incessantemente seu relógio.

- Estamos aqui há quase duas horas... será que eles não vêm nunca? Caramba, vamos ter que passar a noite nesta caverna!

Ela então abriu mais uma vez sua bolsa, tirou os lençóis e os travesseiros e começou a procurar pela cama. Ficou nessa batalha um bom tempo, visivelmente irritada, terminando por virar todo o conteúdo da bolsa no chão. Subitamente parou; com um olhar de espanto, virou-se para o marido e, abrindo um grande e amarelíssimo sorriso, disse:

- Puxa, Alfredo... olha só o que eu achei!

- É... Bolsa de mulher... – ele comentou, com um certo deboche.

Deram sorte. O celular estava com sinal e o Edmilson atendeu rapidamente.

................................................................................

Este texto faz parte do Exercício Criativo "Bolsa de mulher"

Saiba mais e conheça os outros textos acessando:

http://encantodasletras.50webs.com/bolsademulher.htm