As três senhoras
Mais uma vez o conselho se reunia, para conceder presentes aos filhos do criador.
Três senhoras de idade avançada se reuniam em uma sala em volta de uma fogueira. Cada uma com uma pequena caixa nas mãos.
Pouco a pouco elas se sentaram em volta da fogueira feita cuidadosamente.
- Boa noite minhas irmãs, mais uma vez nos reunimos. Disse a mais velha. - As regras continuam as mesmas cada uma de nós entregará uma dádiva a um filho do criador, um dom que nunca lhe faltará e no decorrer dos anos veremos qual se saiu melhor nesta existência.
- Dessa vez me sairei melhor, vocês verão os tempos são outros, os velhos costumes foram esquecidos e novos hábitos reinam na terra dos homens. A irmã do meio estava convicta do seu sucesso os homens haviam mudado e a fortuna reinava naquele tempo.
A senhora abriu a sua caixa e lá se encontrava uma pequena moeda de ouro, analisou cuidadosamente cada um dos rostos que apareceram nas chamas e arremessou a moeda na direção do seu escolhido.
- Veremos irmã, também tenho me dedicado e aprendi muito sobre os homens acredito que minha benção será a que mais beneficiará os escolhidos estamos em uma era diferente onde a riqueza determina as posses de um homem mas é o conhecimento que estabelece o seu poder.
A irmã mais nova retirou uma pequena pena da caixa que carregava e arremessou no fogo e ficou observando a pluma queimar nas chamas com o rosto do segundo escolhido.
- Ah! minhas jovens irmãs quando irão aprender? Os tempos são outros mas os homens são os mesmos, permaneço com a mesma escolha que fiz em todas as outras vezes e mais uma vez o meu escolhido será o vencedor. com essa frase abriu a sua caixa onde havia um punhado de areia, olhou cuidadosamente os rostos que apareceram nas chamas e derramou o conteúdo sobre um deles.
Depois de realizada a cerimonia e todas as formalidades foram cumpridas as três senhoras piscaram e o tempo passou. Desta piscadela 40 anos passaram na vida dos homens e cada uma delas observou o seu escolhido.
O primeiro havia nascido em um berço de ouro nunca havia lhe faltado nada, com os anos havia conquistado tudo o que um homem podia imaginar carros, mansões, mulheres mas no final havia desistido de tudo até um momento crucial.
- Mais uma vez não. Indagou a irmã do meio.
O segundo nasceu com uma capacidade excepcional para aprender, havia feito fortuna com as descobertas que havia feito, vivia uma vida maravilhosa. Reconhecido como sábio por muitos, mas em um certo momento da vida havia desistido.
- Ela venceu de novo. Indagou a irmã mais nova.
O terceiro havia nascido em um berço mais humilde, nunca receberá nenhuma regalia da vida, havia batalhado em cada segundo da sua existência , porém toda a vez que falhava ele persistia e continuava.
Cada dia da sua vida havia sido de tentativas, muitas falharam mas algumas foram triunfos. Sua juventude fora sofrida, porém com o tempo conquistou certo conforto e os erros haviam lhe ensinado muito.
Em certo momento de suas vidas eles se encontraram e a sua história os encantou, as suas idéias lhes inspiraram a atos maiores que qualquer um dos dois haviam imaginado.
Até aquele momento o primeiro já havia comprado e conquistado tudo o que ele desejava e no momento que ele julgou que não havia mais nada a conquistar ele desistiu.
O segundo havia pesquisado e descoberto tudo o que a sua curiosidade lhe instigou a procurar porém quando finalmente ele foi saciada ele desistiu.
Já o terceiro havia crescido com dificuldades mas em momento nenhum os sonhos lhe haviam faltado e com eles obteve o direcionamento e quando um sonho era conquistado imediatamente surgia outro e um novo foco.
No final ele havia possuía de sobra o que aos outros faltava e inspirou cada um deles a continuar.
As duas irmãs se entreolharam, mais uma vez a irmã mais velha havia triunfado faziam séculos que ela concedia a mesma dádiva e por séculos os sonhos haviam prevalecido.
Elas se levantaram e cordialmente se despediram da irmã mais velha que esboçava um leve sorriso entre os lábios.
Quando elas se retiraram a irmã mais velha finalmente se levantou carregando um pequeno jarro de areia nas mãos.
- Jovens irmãs séculos se passaram e ainda não aprenderam, riquezas e conhecimento dão poder ao homem mas no final são os sonhos que os alimentam.
E derramou a areia do jarro em cima da fogueira, demoraria mais um século para aquelas chamas voltassem a brilhar. Mas enquanto isto não ocorresse os homens permaneceriam com os seus sonhos.
Não se esqueça de sonhar...
Marcelo Rebelo