O Homem de Cabelos Negros - I de III

A minha breve história de amor com a Luana havia acabado de forma tão inesperada quanto havia começado. Não havia mais motivos para continuar casada e o futuro a minha frente era totalmente incerto.

O Paulo e eu tínhamos enfim chegado a um acordo quanto à separação. Naquela época morávamos em uma casa cedida pela empresa em que o Paulo trabalhava e por esta razão seria eu a deixar o lar, mas enquanto não conseguíamos encontrar algo que atendesse as minhas necessidades, eu passei a ocupar o quarto de hóspede.

Por conta de uma indicação do Paulo, eu havia sido contratada para coordenar o processo de informatização de uma empresa que intermediava a contratação de trabalhadores temporários e meses depois meu contrato foi renovado e agora eu ocupada o cargo de gestora de contratos. Deveria começar acompanhando contratos já em andamento, mas na segunda semana me tornei responsável pelo meu "primeiro "grande contrato". Tinha que gerir a contratação de mais de 200 funcionários para a empresa Caramuru, sendo que a maioria iria trabalhar em uma das fazendas da empresa e caberia a mim, tanto gerir o contrato como cuidar para que ambas as partes, trabalhador e empresa, tivessem suas expectativas atendidas.

Aquela manhã havia sido marcada pelo envio dos funcionários para a fazenda e todos os pormenores deste evento, pois além de agrupar o pessoal que iriam de fretado, eu teria que enviar as bagagens e os equipamentos de proteção em outro veículo e depois de todo o caos, enfim tudo estava acertado.

Eram um pouco antes das 15h quando o telefone da minha mesa tocou e uma voz masculina do outro lado da linha pediu para falar com o Fábio, meu supervisor.

Pergunto se posso ajudar.

Ele insiste em falar com o Fábio e após informa-lo que a pessoa que ele buscava não estava na empresa ele muito a contragosto perguntou quem estava responsável pelo Contrato da Caramuru/Fazenda Lagoa Azul?

Digo a ele sou eu e ouço do outro lado um enfezado: Ferrou!

Não gosto do que escuto, mas tento me manter calma e pergunto novamente se posso ajudar.

Ele segue falando que antes, tratando com homens já era difícil ter suas reivindicações atendidas, agora tendo que lidar com uma mulher, com certeza estaria perdido.

Respirei fundo e soltei entre os dentes um: Posso ajudar?

Ele também suspirou do outro lado e me contou que a bagagem e os equipamentos não estavam no caminhão que havia chegado à fazenda e que os homens precisavam tomar banho, e continuou despejando um monte de informações até que interrompo-o e informo que eu pessoalmente tinha acompanhado o embarque e que era muito pouco provável que as suas alegações tivessem fundamento.

Voltou a falar que eu estava errada que ele precisava de alguém que resolvesse seu problema e antes que eu conseguisse contra-argumentar ele desligou o telefone.

Eu estava com muita raiva da forma como ele havia subestimado minhas habilidades, mas tentei me manter calma e ver se conseguia descobrir o que estava acontecendo. Liguei para a Caramuru, pois era deles o caminhão destinado a transportar a carga, informei sobre o telefonema recebido da fazenda e como eu havia presenciado o embarque do material, questionei se algo poderia ter acontecido com a carga. Pediram-me para aguardar um momento enquanto entravam em contato com o motorista via rádio. Minutos depois veio à informação de que o caminhão com a carga havia quebrado no caminho, mas que outro já havia sido enviado e ambos chegariam à fazendo no início da noite.

De posse da informação, liguei para a fazenda e a mesma voz, agora identificada como Pietro atende o telefone. Identifiquei-me e contei a ele o ocorrido, informando-o que os materiais e as bagagens seriam entregues até o início da noite.

Ouvi o ensaio do que poderia ser um pedido de desculpas e um muito obrigado no final.

Desligamos os telefones e logo em seguida chega o Fábio. Conto a ele tudo o que se passou e ele pergunta quem havia ligado, digo que era um tal de Pietro e ele sorrindo diz para eu não ligar, pois ele era assim mesmo. Que devia ser o sangue latino. O Pietro era filho de italianos e como todos da família, ele era esquentadinho.

Fui pra casa ainda brava e torcendo para nunca mais precisar ter que falar com ele.

No outro dia, pontualmente às 9h da manhã, sou chamada a recepção onde encontro um lindo arranjo com flores do campo, junto um cartão onde estava escrito:

"As flores são meu pedido de desculpas. Espero que as aceites.

Seja bem vinda a equipe. Sucesso.”

Pietro.

Voltei para minha sala ainda estava sem entender as flores, quando o telefone tocou.

Atendi e ouvi o "bom dia" mais caloroso possível e logo em seguida foi questionada sobre a pontualidade da floricultura, se eu já estava de posso do seu pedido de desculpas e como eu me mantinha calada, ele pediu pra aguardar, pois iria ligar do celular para a loja para reclamar da falta de comprometimento... Então pedi que ele se calasse e antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, ele gargalhou do outro lado e agora com a voz mais calma disse:

- Desculpe, só queria manter a péssima primeira impressão.

Tranquilamente me explicou que é naturalmente exigente e que por conta dos maus momentos passados na mão do pessoal da minha empresa, ele acabou descontando em mim todas as suas frustrações. Pediu desculpas novamente e disse que estava tranquilo, pois acreditava que pela primeira vez tinha alguém competente gerindo o seu contrato.

Disse que ele que estava desculpado e que as flores não eram necessárias.

Ele afirmou que eram sim, pois não era com frequência que ele tinha a oportunidade de se desculpar com uma mulher bonita. E antes que pudesse perguntar como ele sabia sobre a minha aparência, o ouvi me desejar um ótimo dia e desligar o telefone.

Rebecca Kall
Enviado por Rebecca Kall em 08/12/2014
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