Eu tinha meus doze anos ou menos, ele apareceu, eu o achava muito chato. Morávamos num bairro interessante, na esquina um típico bar-buteco e logo acima o barbeiro, ao qual eu cortava cabelo com freqüência.
Ele fez um papagaio para mim e o empinou, nem por isso eu não o achei menos chato, a sua alegria era inútil, mas fiquei feliz, pois naquele momento eu havia fracassado na missão de fazer papagaio. Sentira ele, o dever cumprido, deve ter saído com o sorriso vitorioso, não sabia que eu não o simpatizava e ambos fracassamos, ele na tentativa de encantar-me e eu de empinar o papagaio.
Outro dia reaparecera só que agora eu o via diferente, seria o mesmo? Será que eu que era chato? A ocasião era falecimento de uma pessoa querida de ambos.
Nós éramos tão distantes, eu o via como um desses cobradores persistentes que nunca deixa de cobrar a dívida. Brincamos de “capoeira”, estávamos tão tristes, que o olhar de ambos estava se evitando, “Homem não chora” diriam alguns, mas nós chorávamos em comum por dentro.
O enterro foi triste, segurávamos ambos os lados opostos do caixão, e ao enterrar aquele nosso grande amigo, enterrei também a parte chata que nos separava, um do outro.