​Chegará completamente alucinado, havia consumido maconha e um pouco de bebida alcoólica. A sua mãe o olhou, com tal estranhamento, como se àquele menino rebelde de dezessete anos, não fosse seu filho. O que ele se tornou? Ela se perguntava, com lágrimas nos olhos, queria que aquilo fosse mentira, mas o filho que tanto amava se tornará algo indescritível. Àquela noite foi muito histórica para ambos.
     Ele sentou-se com muita dificuldade, na cama enquanto a sua mãe o olhava incrédula, e quando de repente, uma lucidez instantânea, o fizera se deparar com os olhos da mãe, e com isso se sentiu sujo, uma náusea o dominou, naquele momento teve uma raiva descomunal de si mesmo, a sua imundice era imensa, poderia rasgar a roupa até o vão da pele, até os espinhos da alma, contudo, ainda se sentiria imundo, nada e ninguém poderiam beatificá-lo, pois tinha uma vergonha de si mesmo. Como se tornou um mostro, ao qual nem ele, no exato momento presente, poderia se orgulhar e ao menos olhar para o espelho, a fim de dizer “ quem sou eu?”.
     Um dia anterior àquele brigará com a mãe, e no ímpeto da plena raiva, pegara o que estava no chão, quando se deu conta do que era, e do que fez, saiu apavoradamente, aos prantos, totalmente desequilibrado, o que a sua mãe reagiu da mesma forma. Ele próprio relembrou a cena, havia levantado uma machadinha contra a sua própria mãe, não podia ser ele. Será que estava lúcido, naquele momento infeliz? Ele estava com raiva e não queria voltar em casa, andava muito nervoso, o que culminou naquele triste momento, quem ou que o enfrentaria? A sua mãe o levou várias vezes ao juizado de menores, com profundo receio de que o teu filho já tinha se perdido, mas ainda tinha esperança, ela se lembrava de quando ele era pequeninho e ela chegava do trabalho e ele a abraçava com tanto carinho, mas isso foi há algum tempo, agora ele já havia crescido, era apenas uma mera coincidência entre o que ele foi com que ele se tornou, mas para uma mãe nunca estão perdidos os filhos, por pior que eles sejam. Ela ainda relembra minuciosamente a cena pela qual foi vítima. Será que eu errei? Mas onde? Ela se perguntava aflita, com larga angústia e esperança de que o seu querido filho poderia só esta passando por uma fase difícil para ambos.
     Não se tornou um viciado em maconha ou outra droga, ele se lembrara que há dois anos já tinha uma filha, que mal sabia o nome, de fato ele não tinha condições de assumir nada, tampouco a sua paternidade. Mas o que a sua filha tinha a ver com isso? Com quinze anos já seria pai, embora só biológico.
     Queria devorar o mundo, acontece que iludidamente estava sendo devorado, e nada poderia alertá-lo exceto àquele olhar da sua mãe, na noite em que de tão drogado, mal podia se reconhecer, no breve cruzamento daquele olhar, ao qual a sua mãe estava tentando ser mais forte, segurando as lágrimas que temiam em descer no vão da face, ele fora sacudido de tal modo que jurou a si mesmo que a partir daquela maldita noite, nunca mais colocaria na boca nem cigarro de maconha ou bebida alcoólica, porque jamais imaginaria sentir nojo de si mesmo, àquele olhar o fez “acordar’ como um num sono da própria desgraça, desgraça cuja face era o inferno de si mesmo, o olhar de medo e apreensão da sua mãe, dava a impressão de era um maldito infeliz rebelde.
     Ele de fato mudou e todos diziam isto, embora muitos não o tivessem conhecido no apogeu da sua rebeldia, aliás, para quê serviu tanta raiva, tanta emoção? Ele não sabia, o que queria, era ser um ser humano melhor, e buscou isto.
     Um dia, foi surpreendido com a notícia que iria ser encaminhado, ele havia conseguido um trabalho de meio horário, no programa de inclusão social, que tinha a nobre missão de encaminhá-lo e todos que faziam parte desse programa, para empresas conveniadas, com o objetivo central de dar o primeiro emprego a eles, jovem de quinze a dezoito anos. Ele recebeu a tão esperada notícia com muita alegria, e logo foram buscá-lo. Os seus superiores estavam contentes, pareciam compartilharem da mesma euforia dele.
     Estranhou o caminho pelo qual eles o levam, era o caminho do seu bairro, ele se perguntava se ali havia alguma empresa conveniada ao programa, ao mesmo tempo tentava se conter de tamanha era a sua agitação. De repente eles pararam o carro, o motorista, o advertiu para que buscasse um documento para fins burocráticos, que logo todos se encaminhariam para a futura empresa, eles disseram que era um hotel, que tinha carência de funcionário, e que tinha se conveniado ao programa ainda naquela semana.
     Ele desceu rápido as escalas que o levavam para sua casa, mal podia se controlar, e não era para menos, muitos de seus colegas adorariam estar no lugar dele, finalmente fora encaminhado para um empresa, mal se lembrava se era hotel ou pousada e se ficava muito longe da sua casa. E se fosse dedicado, poderia ter o seu primeiro emprego de carteira assinada, seria um baita orgulho para seus pais, e em especial a sua mãe, os teus olhos brilhavam de alegria, e mesclado a isso se lembrou do que sua mãe lhe havia dito semanas antes:- Filho eu te amo, você será muito bem, já é homem e agora que assumiu a sua filha e me orgulho mais ainda de você, está melhorando, todos me falam isso, eu comprovo te vendo que está realmente melhorando. E ambos se abraçaram, com emoção transbordando em lágrimas. Agora era um novo homem, iria primeiro falar com sua mãe da sua feliz novidade, mal desceu as escadas avanço mais rápido que pode para a entrada da sua casa.
     No entanto a cena iminente o fez parar, antes mesmo de ousar entrar, havia várias pessoas na sua casa, pode ver da janela aberta, entrou com o ar de preocupação, a sua avó estava chorando e parecia que ali tinha acontecido algo bastante trágico. E de imediato, lembrou-se de seu avô que infelizmente estava mal de saúde e que recentemente havia sido internado, estava se recuperando da operação de um câncer ainda recém descoberto, poderia jurar que seu avô não conseguiu vencer o câncer, e que lamentavelmente, morrerá.
     Apavorou se e alegria de minutos antes, se transformará em dor e agonia, quando interrogará a sua avó do que estava acontecendo, descobrirá tristemente que quem havia falecido era senão sua querida mãe. Ele chorou como criança, e por mais que quisesse acreditar, não queria nem podia acreditar na cruel verdade, e ainda estavam vivas as palavras que ouvira de manhã, antes de trabalhar, de sua mãe, que para ele estava um pouco “ruim” de saúde, mas não em iminente leito de morte: - Te amo filho, eu nunca perdi as esperanças de que você um dia se tornasse um ser humano bom com vontade de ser um ser humano melhor. E logo ele se emocionou, com este depoimento.
     Ela morreu às onze horas da manhã, numa calmaria tão silenciosa quanto foi a sua “reforma” comportamental.
André Mendes
Enviado por André Mendes em 13/12/2014
Reeditado em 13/12/2014
Código do texto: T5067943
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