DOS NAVIOS QUE VÃO A PIQUE, DOS SONHOS QUE MORREM E DOS ANOS QUE CONTAMOS

Um dia um amigo lhe disse, ou ouvira sem querer alguma conversa alheia em que alguém dizia ou, então, disse para si mesmo num desses monólogos intimistas; que tão importante quanto lutar pelos seus sonhos é reconhecer a derrota para não ser soterrado junto com eles. De qualquer forma, a vida lhe pregara uma grande peça. Pois agora, pensa que teria sido melhor ser soterrado junto com os sonhos do que viver com a culpa da morte deles. Imagina ainda, a figura de um honrado capitão que não abandona o seu navio quando ele vai a pique. Agora sua liberdade o restringe a ir pra onde pode ir. Na areia da praia, pessoas brindam a renovação dos sonhos e diante desse frágil espetáculo, o mar dá risadas, pois ninguém entende mais sobre a vida e a morte dos sonhos do que ele.

Um outro rapaz vai desligar a televisão, segurar firme na poltrona e esperar pacientemente a virada de ano, como se fosse o seu navio a virar, como se fossem os seus sonhos a morrer, como se fizesse isso a muitos séculos, antes mesmo dos séculos serem contados e os anos bestialmente comemorados.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 31/12/2014
Reeditado em 31/12/2014
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