John Sem Volta nos Tempos da Coca-cola
 
John viciou-se em álcool, aos quatorze. O motivo? Não gostava de seu nome. Queria se chamar João.  Na escola conhecia um monte de João. E todos eram bem mais felizes com um nome brasileiro. Só Deus sabia o que tinha de aguentar com a zoação da turma especulando seu nome estrangeiro.  

Onde é que a mãe estava com a cabeça, quando resolveu lhe dar aquele nome? Ela explicou: era fã de John Travolta  em Grease - Nos Tempos da Brilhantina, filme de sucesso, na década de 70. Jurou que se tivesse um filho haveria de se chamar assim. Não deu outra. Aos dezoito dela, John nasceu, fruto de um affair meteórico com um hippie da prainha da Maré...

Velho Barreiro. Foi o que ele bebeu naquela noite na casa dos vizinhos, comemorando o aniversário de um avô. Ali no meio do bailinho tinha acabado de escutar mais uma piada sem graça  com seu nome e a raiva subiu. Um dos moleques da casa lhe entregou a garrafa.  No primeiro gole, a coisa desceu queimando feito brasa. No segundo já foi melhor. Depois ficou tão bom que, dali, foram pra debaixo de uma ponte desativada, nas imediações, e enxugaram o resto da garrafa.

John nunca mais parou. Passou a beber de tudo. Bastava que fosse álcool. A mãe brigou, esbravejou e acabou por expulsá-lo de vez pra debaixo da ponte onde passou a se juntar, dias e noites, com os de sua tribo, sempre pra enxugar garrafas subtraídas dos mercadinhos do bairro.

Aos 32, John foi convertido.  O Pastor apareceu ali no reduto dos marginalizados, com uma Bíblia, e leu um trecho que falava de ovelhas perdidas, arrebanhadas pela compaixão do Mestre Jesus. John se deixou arrastar para um culto. Deus tinha um projeto para ele e foi lá dar uma conferida pra ver o que era.

O Pastor logo viu que o rapaz tinha o dom da palavra. Já no primeiro testemunho percebeu que ali estava uma fonte de inspiração divina. Vinha sob medida pra evangelizar e arrebanhar mais ovelhas perdidas para o Reino do Senhor. A peregrinação pelos corações ateus, ou desiludidos de outras fés, renderam bons créditos a John: em pouco já era Pastor do novo templo aberto na periferia.

O Pastor John agora se dizia um homem feliz. Tinha aceitado Deus e,  graças a Ele, tinha aceitado o próprio nome, se tornando um homem digno e de respeito. E, principalmente, tinha conseguido se livrar do vício do álcool: nunca mais tinha posto uma gota na boca. Bebida era coisa do Diabo e ele agora era um homem de Deus...

John pregava aos fiéis: O vício serve ao Demônio. O álcool destrói o homem, a família! Por isso, quando entrava em casa, John corria pro engradado de coca-cola. Varava a noite lendo a Bíblia, e bebendo as 24 garrafinhas que deixava vazias, empilhadas no beco atrás da casa... No dia seguinte, trocava o vasilhame no mercadinho, deixava tudo gelando no frizer, pra mais tarde começar tudo de novo...